23.4.23

OPINIÃO: Temos o que merecemos e continuamos na mesma

As novelas políticas a que assistimos diariamente são o arsenal do foguetório jornalístico, que desvia as atenções do essencial. Temos falta de resposta aos problemas sociais com aumentos abaixo da inflação, a provocar a perda de compra e com as estruturas base   \s do Estado a definharem.
Temos exemplos em que os privados, mesmo às costas do Estado, gerem mal. Mas vamos à novela da TAP. Os privados já provaram que depois de afundarem a TAP, cá está o povinho para garantir uma companhia que ligue o país às Ilhas, restante território nacional, assim como ao mundo. A direita critica a privatização da TAP, mas não fala da má gestão privada da administração do Sr. David Neeleman que recebeu 55 milhões de euros para sair da TAP e distribuiu milhões pelos amigos acionistas. Enquanto os trabalhadores eram penalizados, Alexandra Reis encaixou meio milhão, mas comparado com os milhões da era Neeleman, encaminhada por Passos Coelho, é um rebuçado.
Então, agora que a TAP começa a lucrar, vamos privatizar outra vez? Pela importância estratégica para a economia nacional, a TAP, não é para ser canibalizada, mas também não é para servir de brinquedo político como o PS fez, permitindo esta novela encabeçada por Christine Ourmières-Widener. Entre várias trapalhadas, registámos a reunião surreal entre a CEO da TAP e o Grupo Parlamentar do PS, ao que tudo indica, para concertarem uma estratégia para a Comissão de Inquérito.
Temos grupos económicos que estão a lucrar com as crises. Os grandes grupos económicos no aproveitamento da inflação e subida de juros, abrem as suas garras numa atitude de tudo valer. Um dos grandes exemplos disso, está no aproveitamento desenfreado, quer dizer, ganancioso das grandes superfícies que destruíram muitos postos de trabalho e o comércio tradicional, para agora assaltarem as pessoas à vontadinha, com o aval do governo.
O que é preciso para o governo e os partidos de direita perceberem que é imperativo regular e controlar os preços dos bens essenciais? Os alimentos em Portugal são dos mais caros da Europa e por isso muitos restaurantes têm fechado, porque não aguentam esta situação associada aos custos energéticos. Também pela falta de poder de compra, muitas lojas estão a fechar portas. Afinal o IL, comprova que não é favor da iniciativa privada, é favor dos grandes grupos económicos.
Cláudia Azevedo, a filha de Belmiro de Azevedo da SONAE, ainda veio fazer chantagem psicológica a ameaçar com prateleiras vazias porque iam vender no estrangeiro… Mas como? e com estes preços? Esqueceu-se dos insucessos da tentativa de internacionalização da SONAE no tempo do seu pai? Mais valia abdicar um pouco dos seus lucros astronómicos, pagar melhor aos seus funcionários e aplicar justiça nos preços sem promoções enganosas. E já agora, tratar melhor os fornecedores.
Por cá, Luís Montenegro diz que Passos Coelho ainda tem muito para dar a Portugal e até acreditamos que sim e ao nível Europeu, também foi visível a crítica a Passos Coelho de ter ido além da troika com muitos prejuízos para Portugal. Mas o que nunca esperámos foi assistir a um governo PS, com Costa a ter os tiques de Passos Coelho, cortar, cortar, cortar – será isto a herança salazarista? Face aos salários e à carga laboral exercida, podemos afirmar que em Portugal trabalha-se muito e ganha- se pouco, para não falar das desigualdades salariais, com as realidades chocantes dos jovens, principalmente na precariedade e nas mulheres face às desigualdades que chegam a mais de 20%.
Depois temos as desculpas da guerra e da inflação, mas a verdadeira razão chama-se especulação e oportunismo, com um governo incapaz de combater e até incentiva. E quem pensa que o IVA 0 vai ajudar as pessoas, desengane-se. É sabido que há quem ganhe com a guerra e com a crise financeira. Na subida dos preços dos alimentos não são os produtores que inflacionam apesar das dificuldades. No entanto, os lucros dos bancos, na ordem dos milhões resultam da subida das taxas de juro.
Enquanto outros como os alemães utilizam os lucros extraordinários para responder à crise, porque não faz o governo PS o mesmo? E o IL discorda, mas sabemos bem a razão. Se as pessoas se interessassem mais pela política, decerto os partidos seriam mais sérios e mais preocupados com as pessoas; mas em Portugal, só 2% das pessoas é que se interessam e isso revela o grave analfabetismo político deste país. Temos o que merecemos e continuamos na mesma…
 * Paulo Cardoso -Programa "Desabafos" / Rádio Portalegre - 21.4.2023