Pessoa amiga enviou-me, hoje, um vídeo sobre a Chocalhada em Montalvão. É uma tradição bastante antiga, como o comprovam fotos da autoria de José Pedro Martins Barata e realizada por algumas ruas da antiga vila. Montalvão e Salavessa integram a mesma freguesia e tais celebrações na quadra pascal, constituindo manifestações etnográficas, tidas como únicas no concelho, deveriam merecer uma atenção especial por parte das entidades que tutelam a cultura no Alentejo e a nível local. Diferentes um pouco na forma e conteúdo, as Chocalhadas simbolizam a mesma realidade, tendo a de Salavessa ganho uma maior projecção, fruto da divulgação e do empenho daqueles que a organizam. A de Montalvão, tem surgido, de ano para ano, não sei se como resposta à da aldeia vizinha e alicerçada numa feição mais espontânea.
Estas tradições pagãs, a saudar o fim do tempo pascal, a Aleluia e a renovação, bem como outras de cariz vincadamente mais religioso, não deviam constituir, como dizer, tabús ou
"reservas" culturais de cada terra e povo, mas sim fazerem parte de um todo concelhio complementando a riqueza e a diversidade das tradições pascais, bem expressivas, por exemplo, nas recriações da "Encomendação das Almas" que voltaram a realizar-se e que antigamente se faziam em Nisa, Alpalhão, Arez, Montalvão e Amieira doTejo, curiosamente, localidades que foram sede de concelho.
Este revigoramento das tradições quaresmais tem sido aproveitado por muitos municípios do país como uma mais valia patrimonial, artística e cultural, com grande capacidade de atraírem pessoas para o que se convencionou chamar turismo religioso, pessoas e famílias que poderiam contribuir para a valorização de vilas e aldeias do interior, a sofrerem o estigma da desertificação.
O município de Idanha-a-Nova, por exemplo, entendeu isso há já alguns anos e tira partido desta quadra religiosa e pagã. Castelo de Vide associa-lhe a gastronomia e o certo é que a restauração e alojamentos não têm, nesta época, mãos a medir. Por aqui, falta essa estratégia unificadora ou então coloca-se-lhe o "sêlo" do poder camarário. É preciso, imperioso e urgente que a sociedade civil se liberte dessa ditadura corporativa e administrativa, ganhe autonomia, crie e faça projectos, com o poder local a apoiar, sim, mas a colocar-se no seu verdadeiro papel. O poder local, tem que apoiar. É o seu dever, a sua função mais elementar, mas fazê-lo numa perspectiva de promover as terras e as gentes e nunca de aproveitamento político-eleitoral que, queira-se ou não, acaba sempre por ter, mas de um modo que se pode classificar de natural. Deve apoiar, mas não interferir, sujeitar, impôr regras e esse têm sido, desde há dez anos, o modus operandi do poder local que nos (des)governa: impôr directrizes, interferir nos programas das festas populares e nas associações, dividir para reinar, discriminar e segregar. Pratica os "ensinamentos" da escola salazarista: quem não é por nós, é contra nós!
Só que os "nós" somos todos, os contribuintes, os pagadores de impostos, os cidadãos, os munícipes e fregueses. Irmãos, numa mesma comunidade, ainda que com pensamentos diferentes. É essa diversidade que faz a Democracia. É tão simples perceber que o povo é sereno e culto, sabe muito bem o que quer e como promover aquilo que é seu.
Mário Mendes
Estas tradições pagãs, a saudar o fim do tempo pascal, a Aleluia e a renovação, bem como outras de cariz vincadamente mais religioso, não deviam constituir, como dizer, tabús ou
"reservas" culturais de cada terra e povo, mas sim fazerem parte de um todo concelhio complementando a riqueza e a diversidade das tradições pascais, bem expressivas, por exemplo, nas recriações da "Encomendação das Almas" que voltaram a realizar-se e que antigamente se faziam em Nisa, Alpalhão, Arez, Montalvão e Amieira doTejo, curiosamente, localidades que foram sede de concelho.
Este revigoramento das tradições quaresmais tem sido aproveitado por muitos municípios do país como uma mais valia patrimonial, artística e cultural, com grande capacidade de atraírem pessoas para o que se convencionou chamar turismo religioso, pessoas e famílias que poderiam contribuir para a valorização de vilas e aldeias do interior, a sofrerem o estigma da desertificação.
O município de Idanha-a-Nova, por exemplo, entendeu isso há já alguns anos e tira partido desta quadra religiosa e pagã. Castelo de Vide associa-lhe a gastronomia e o certo é que a restauração e alojamentos não têm, nesta época, mãos a medir. Por aqui, falta essa estratégia unificadora ou então coloca-se-lhe o "sêlo" do poder camarário. É preciso, imperioso e urgente que a sociedade civil se liberte dessa ditadura corporativa e administrativa, ganhe autonomia, crie e faça projectos, com o poder local a apoiar, sim, mas a colocar-se no seu verdadeiro papel. O poder local, tem que apoiar. É o seu dever, a sua função mais elementar, mas fazê-lo numa perspectiva de promover as terras e as gentes e nunca de aproveitamento político-eleitoral que, queira-se ou não, acaba sempre por ter, mas de um modo que se pode classificar de natural. Deve apoiar, mas não interferir, sujeitar, impôr regras e esse têm sido, desde há dez anos, o modus operandi do poder local que nos (des)governa: impôr directrizes, interferir nos programas das festas populares e nas associações, dividir para reinar, discriminar e segregar. Pratica os "ensinamentos" da escola salazarista: quem não é por nós, é contra nós!
Só que os "nós" somos todos, os contribuintes, os pagadores de impostos, os cidadãos, os munícipes e fregueses. Irmãos, numa mesma comunidade, ainda que com pensamentos diferentes. É essa diversidade que faz a Democracia. É tão simples perceber que o povo é sereno e culto, sabe muito bem o que quer e como promover aquilo que é seu.
Mário Mendes