11.4.23

OPINIÃO: Salvar vidas é um desígnio que está ao alcance de quem dá sangue

No passado dia 25 de março (Covilhã), assumi a presidência da Federação das Associações de Dadores de Sangue – FAS Portugal. A minha eleição deve-se certamente, ao empenho e ao reconhecimento dos valores que os meus pais me incutiram. Mas, não posso deixar de recordar e de evocar o homem que me fez chegar aqui.
O Sr. António Eustáquio foi um dirigente exemplar, que fundou e soube organizar a Associação de Dadores Benévolos de Sangue de Portalegre, fez-se acompanhar de pessoas capazes e soube acautelar o futuro da Associação. A ele muito devemos e o seu exemplo, além de reconhecido, deve ser enaltecido. Hoje, se estivesse entre nós, estou certo de que estaria orgulhoso, pelo facto de a Associação que fundou, estar na presidência da Federação que sempre o acompanhou.
Tive a consciência da responsabilidade que assumi no dia 18 de março de 2017 em Mafra (6 anos atrás), quando passei a integrar a direção da Federação das Associações de Dadores de Sangue de Portugal (FAS Portugal). Durante anos ouvi as intervenções do Sr. Comendador Joaquim Moreira Alves, o primeiro presidente e fundador da FAS, por ocasião dos aniversários da Associação de Portalegre e percebi o importante papel que teve e tem na dádiva de sangue. Percebi, também, o peso da responsabilidade de participar na continuidade deste enorme projeto.
De imediato assumi funções na direção da FAS, adaptadas aos meus conhecimentos e senti-me útil na equipa liderada pelo Sr. Joaquim Mendes Silva, o presidente que sucedeu ao Sr. Joaquim Moreira Alves. Os métodos de organização e de trabalho são dinâmicos e essa característica extraordinária do presidente agora cessante (Joaquim Silva), com quem aprendo muito e com quem continuo a contar para aprender mais, envolveu-me de sobremaneira e quase sem dar por isso, cheguei a Vice-presidente da FAS (Torres Novas 2020).
Quando entrei para a direção da Federação, estava muito longe de vir a assumir a presidência. Porque, felizmente, existem muitas pessoas por este país fora na dádiva de sangue com muitas qualidades e experiência. Mesmo nos órgãos sociais da FAS, temos grandes valores com muita capacidade. Aceito que a minha entrega e dedicação conduziram a esta missão que abraço com afinco e com a promessa de que tudo farei para merecer a confiança que depositaram em mim e nesta equipa que é de todos os que lutam para que nunca faltem componentes sanguíneos aos nossos doentes.
Hoje, assumo a passagem de testemunho e o peso da responsabilidade de ser o terceiro presidente desta Federação (FAS Portugal). O Sr. Moreira Alves esteve no início de tudo, com um trabalho extraordinário nos anos 70, 80 e 90, a criar Associações pelo país fora e a mostrar ao mundo o que de bom se faz em Portugal. O Sr. Joaquim Mendes Silva, deu continuidade, reforçou, renovou a organização da Federação e garantiu a par do Dr. Domingos Guerra Maneta a continuidade e participação da FAS no plano internacional.
Neste meu percurso, não posso deixar de reconhecer o apoio que recebi de antigos e atuais dirigentes. Desde o sempre atencioso Presidente honorário da FAS, o Sr. Joaquim Moreira Alves, à lucidez sempre presente e preciosa do Dr. Francisco Barbosa da Costa e também ao cuidado do Eng. José Vieira que em sacrifício próprio me acompanhou até aqui, possibilitando o reforço da minha aprendizagem. Posso afirmar que além de aprender com eles, senti sempre um grande apoio e granjeei grandes e importantes companheiros.
O paradigma da dádiva está em constante evolução. Hoje já não podemos falar apenas de sangue, mas, também de componentes sanguíneos. Temos de acompanhar as grandes mudanças e acautelar o futuro, preparando, formando novos dirigentes, que como sabemos, não é fácil. Mas sobretudo, a grande aposta é nos jovens. Daí o nosso empenho nas Escolas, nos encontros nacionais de escuteiros e este ano em particular, na Jornada Mundial da Juventude.
Uma palavra para a situação nacional em relação ao nosso movimento associativo. Todos os anos, nos primeiros meses, dirigentes associativos têm de adiantar dinheiro do seu bolso para garantirem a atividade das suas Associações. Isto é inaceitável, temos atuado nesta matéria e a Federação tudo fará para reparar esta situação
Estaremos sempre ao lado e na defesa da promoção da dádiva de sangue e componentes sanguíneos de forma benévola, altruísta, voluntária, periódica, consciente, associativa e não remunerada. Salvar vidas é um desígnio que está ao alcance de quem dá sangue.
* Paulo Cardoso - Programa "Desabafos" / Rádio Portalegre - 7.4.2023