15.11.21

OPINIÃO: O que podíamos esperar do PS

 
O orçamento que o PS queria aprovado, dava migalhas para quem trabalha e mais milhões para o sistema financeiro e PPP’s. Estamos a falar de cerca de oito mil milhões de euros, para não falar do dinheiro que é desviado anualmente de Portugal, mais de 18 mil milhões de euros. Então, não me venham dizer que os portugueses não percebem este chumbo, a maioria percebe e bem. Percebe que os seus rendimentos iam ficar aquém da subida do custo de vida e os seus direitos metidos na mesma gaveta onde ficou o socialismo; com a Educação e a Saúde a continuarem a definhar.
Se os outros não votaram a favor, porque razão ficam o PCP e o BE com o ónus da dissolução do parlamento, quando até existiam outras alternativas? Ao contrário do PS, PCP e BE apenas respeitam o programa que apresentaram ao eleitorado. Uma coisa é certa, o ultimato de Marcelo e a intransigência de António Costa, revelam que PCP e BE perderam tempo a pensar que o desgastado governo PS queria negociar. Enquanto a direita em lutas internas está a tentar organizar-se e os parceiros de esquerda estão feridos com os resultados das autárquicas, Costa aproveita a cartada das eleições.
O sonho do PS é a maioria absoluta, reconhecendo que este governo está desgastado e não quer “empecilhos” à esquerda. O diálogo inicial da aliança de esquerda deu inicialmente ao país outra dinâmica, mas foi coartado pelo PS. Já a direita sonha com o Bloco Central, vítima do seu preocupante enfraquecimento a fortalecer a extrema-direita. Os autofágicos PSD e CDS lutam pela vida, enquanto o necrófago PS, tenta a sua sorte.
O PS não só, não negoceia, como engana o seu eleitorado ao não cumprir a sua orientação enquanto na oposição, ao criticar as alterações das leis laborais do governo PSD/CDS, que foram para além das exigências da troika. O orçamento estava recheado para os privados e no fundo do tacho as migalhas para os que mais precisam. A somar temos ainda que, o que é orçamentado e não é cumprido. E quanto à exploração laboral não é para mexer segundo os que se dizem socialistas, mas que não passam de capitalistas desejosos de conquistar o centro-direita do PSD e CDS que não fugiram para o IL e para o Chega.
Não é por acaso, que o PS aliado ao PSD, alargou o período experimental de 90 para 180 dias no último ano. De 2020 para cá, o PS votou mais vezes ao lado do PSD, CDS, PAN e IL do que com o PCP e BE. O PS votou ao lado da direita, o fim do agravamento das leis laborais da troika que Passos Coelho agravou mais do que era pedido, juntou-se à direita para chumbar os 25 dias de férias, com a direita travou propostas sobre o trabalho por turnos e com a direita chumbou a nacionalização dos CTT. Até num requisito importante na Educação, o PS recebeu o abraço da direita para impedir a redução do número de alunos por turma.
O SNS que já estava fragilizado, precisa de um reforço acrescido depois do esforço hercúleo para salvar o país da pandemia. O PS e a direita, não querem esse investimento e alimentam assim as pretensões dos privados. Este orçamento chumbado é a prova disso. É de admirar, sim, a postura da direita ao chumbar um orçamento que podia ser o seu.
O PS e a direita, temem os mercados financeiros que exigem milhões para o apoio ao sistema financeiro e que se enervam quando os pobres levam tostões… enervam-se quando se defende os direitos de quem trabalha. Todos concordamos que é importante, as contas públicas serem equilibradas, mas a verdade é que têm sido sempre muito desequilibradas com os mais ricos a engordarem e os mais pobres a emagrecerem.
Esta crise foi uma opção de um PS auto vitimizado, apoiado pelo P.R. e assente na chantagem. Nesta crise pré-fabricada, Marcelo convoca eleições para ficar tudo na mesma ou não, porque António Costa não exclui entendimentos à direita e até o histórico Manuel Alegre aconselha Costa a olhar à direita. Costa pretende prolongar a sua vida como primeiro-ministro, tentar a maioria absoluta e recusar olhar para os problemas sérios do país. Portugal é o país da Europa, que na média do investimento público, menos investe desde 2020 até hoje; enquanto João Leão diz que não há problemas com contas públicas.
Quem falhou os acordos, foi o PS ao não cumprir os orçamentos e ao afirmar que se quer ver livre dos “empecilhos” à esquerda. Foi o PS que a partir de 2019, decidiu governar sem acordos. O PCP ainda deu a mão ao PS, mas já percebeu que foi enganado. O próprio apoio do PS ao candidato conservador Marcelo, abandonando Ana Gomes, mostrou o que podíamos esperar do PS.
* Paulo Cardoso - Programa "Desabafos" / Rádio Portalegre - 12/11/2021