1.11.21

CRÓNICAS DA TABANCA: O gesto ó pxeno!

 
Há muitos, muitos anos, numa aula da escola da aldeia de Trincafolhos, Maria Isaltina, uma menina muito irrequieta, chamava a professora e apontava, de dedo em riste, acusadora: senhora professora aquele menino fez uma asneira!
- Que asneira fez o menino, perguntou a professora.
- Apontou o dedo para o céu, diz Isaltina.
- Ó menina Isaltina, e isso é uma asneira?
- É, sim, senhora professora, porque a nossa catequista diz que no céu estão os anjinhos!
- Pois, então, temos de castigar o menino Luisinho e desde já fica proibido de apontar o dedo seja em que direcção for e muito menos pró céu, ouviu menino Luisinho?
O tempo passou, Maria Isaltina cresceu e muitos anos mais tarde foi eleita regedora da freguesia de Trincafolhos. 
A tomada de posse aconteceu há dias no salão nobre da freguesia. Uma cerimónia que demorou apenas uma hora e meia, três quartos do tempo em que Isaltina, dotada de dotes oratórios excepcionais, falou de si, da obra feita, dos milhões investidos, das dívidas dos executivos anteriores desde há 45 anos que teve de pagar e dos projectos para o futuro para que Trincafolhos continue na moda. Uma sessão solene, idealizada, construída e com cenário montado pela própria Maria Isaltina, que, a dado momento, e fazendo figas à elevação do acto institucional, a regedora de Trincafolhos, do alto da tribuna voltou a apontar o dedo para acusar, perante a plateia, estupefacta, todos os que a atacaram nas redes sociais.
" Vejam bem, um dos candidatos chegou a ofender-me com um gesto ó pxeno!, quando passava, pacífica e tranquilamente com a minha caravana de apoiantes junto à sua casa". 
Não são coisas que se façam, lá isso não, à senhora regedora, respeitadora da lei e dos cidadãos. 
Um gesto ó pxeno!, que calamidade. Ainda se fosse um gesto ó pxena!, um puxão de cabelos, um carrão preto de vidros esfumados a tentar atropelar um munícipe, ou dois, como nalgumas freguesias as notícias têm dado conta, mas um gesto ó pxeno!, é que não foi de certeza. 
Maria Isaltina não conhece - ponho as mãos no lume por ela -,  a jovem carente que vai entrar, não na Universidade que é coisa vulgar, prá plebe, mas para a Faculdade, jovem educada, tal como a mãezinha e que com os perfis falsos de Ana Gomes e Ana Santos atacou, caluniou, vilipendiou, chamou todos os nomes dizíveis e não dizíveis, a todos aqueles que criticaram as acções da regedora de Trincafolhos.
O jovem do gesto, que Maria Isaltina classifica de ó pxenos!, fazia o V da vitória do Benfica. Talvez, até, apontasse para o céu como fez o Luisinho na escola da aldeia, ou até, o mesmo gesto que não foi, de certeza, ó pxeno!, estivesse a convidar Maria Isaltina a passar pela rua com a sua caravana outra vez. Numa terra onde nada acontece e o pouco que pode acontecer é controlado pela regedoria de Maria Isaltina, uma caravana como a da regedora eleita é sempre motivo de festa e de riso. Por algum motivo o povo, para cenas como a do gesto ó pxeno!, tem um ditado curioso: Fazer o mal e a caramunha!
E em matéria de vitimização, como na da propaganda, não há ninguém que bata o pé à Maria Isaltina.
Então ficam avisados: nada de fazer gestos, ó pxenos!
Hoji-Ya-Henda
* Exploração infantil - Cartoon de Vasco Gargalo