Ter um emprego não é garantia de não se ser pobre em Portugal e o aumento da pobreza não é combatido com medidas sérias por vários governos, quer no campo social, quer laboral. E este é o pior índice das políticas de direita, desde Cavaco Silva até hoje.
Por isso, temos um quinto da população portuguesa em situação de pobreza e a maior parte trabalha. Segundo a Pordata, “em 2020, 9,5% da população empregada em Portugal era considerada pobre”. O endividamento das pessoas, a precariedade e a exploração laboral pesam neste flagelo social e o PS, assim como os partidos à direita optam por encobrirem a realidade, enquanto protegem a ganância pelo lucro.
Portugal é o segundo país da União Europeia com a maior taxa de divórcios e é uma constatação, que a pobreza aumenta entre as pessoas que vivem sozinhas. O RSI não chega a 20% dos pobres, a taxa de alunos com necessidades tem aumentado e os jovens até aos 18 anos, estão no grupo de maior risco de pobreza. «em 2019, 19% dos menores de 18 anos estavam em risco de pobreza, valor que aumentou face a 2018» [1]. Nada disto é de estranhar, quando tivemos governos insensíveis e o atual ficou-se por muitas promessas e pouca concretização.
Os problemas de uma sociedade não se resolvem com medidas avulsas, nem se espera que tenham efeitos imediatos. Precisamos de políticas progressistas para combater as que sistematicamente desequilibram e são promotoras de assimetrias. Portugal é o país mais desigual na União Europeia, até na desigualdade de género há muito por fazer.
É importante termos o Ministério da Educação forte e estável, a promover o Ensino com políticas sérias e verdadeiras; o Ministério da Saúde a promover a prevenção na saúde em Portugal; um sistema fiscal honesto e ponderado, com mais justiça na economia. É muito importante a recuperação de rendimentos, assim como o combate à precariedade.
O Estado tem de garantir uma rede de creches e lares públicos, tem de garantir os serviços públicos, resgatando empresas essenciais como os CTT, a EDP e a REN. Precisamos de Orçamentos de Estado equilibrados, exequíveis e que tenham em linha de conta, a vida das pessoas. Sobretudo, garantir que não existam interesses instalados a lucrar com a pobreza e que o investimento público, esteja direcionado para políticas de crescimento sustentável e não para alimentar as rendas excessivas do sector da energia e das parcerias Público-Privadas.
O rendimento médio em Portugal está encostado aos países mais pobres da União Europeia, apesar das mordomias que mantemos com gente não eleita, que nada fazem para travar o crescimento da dívida, antes pelo contrário. De 1974 para cá, o valor da pensão mínima de velhice e invalidez pouco se alterou e o salário mínimo nacional aumentou pouco mais de 100 euros em mais de quarenta e sete anos.
A verdade é esta, os pobres estão cada vez mais pobres e os ricos estão cada vez mais ricos e isto deve-se a políticas que penalizam mais os pobres do que os ricos. Continuam a falar da pobreza, mas não querem tomar medidas.
Medidas foi o que o PS não quis nesta proposta de Orçamento de Estado. Rejeitou até o que já defendeu e agora por oportunismo político, vendo a direita a reorganizar-se, prefere o combate eleitoral, numa altura em que ainda tem vantagem. A luta que se pedia recaía sobre medidas para melhorar a vida das pessoas e do país; medidas para recuperar o poder de compra, eliminar as regras da troika, garantir Saúde, Educação e Cultura com qualidade e justiça nas pensões.
Acabem com as burlas financeiras e os abusos da banca. Cativem os perdões fiscais a quem já tem muito, cativem as mordomias, cativem os apoios às empresas que exploram, cativem as desigualdades e assim podemos começar a diminuir a pobreza.
Existem muitas medidas importantes, mas o combate à pobreza não se resolve com a caridadezinha, com donativos; nem com mensagens natalícias, nem com promessas. O Papa Francisco disse recentemente, que “a pobreza não é fruto do destino, é consequência do egoísmo”. O assunto é sério e político, a pobreza não se resolve com esmolas e o futuro não pode depender de uma bola de cristal.
Paulo Cardoso in Programa "Desabafos" / Rádio Portalegre - 29-10-2021[1] https://jornaleconomico.sapo.pt/noticias/jovens-sao-o-grupo-etario-que-apresenta-a-taxa-de-risco-de-pobreza-mais-elevada-796566
** Trabalho forçado - Cartoon de Vasco Gargalo