Voltamos ao orçamento chumbado, cada dia que passa percebemos que não respondia às necessidades do país. Do orçamento, queríamos reforços no Ensino e no SNS; não queríamos a rutura de medicamentos, a falta de clínicos na saúde, a vergonha de termos enfermeiros tarefeiros, os casos de cancro a aumentarem com falta de rastreio e colheitas de sangue anuladas por falta de pessoal.
A pandemia não pode servir de desculpa para tudo e muito menos por não existir uma resposta satisfatória dos médicos de família, dos especialistas, dos Centros de Saúde, dos Hospitais, em especial no internamento e na degradação da capacidade dos serviços de urgência. É o futuro do SNS que começa a estar em causa, como denunciou o antigo ministro da saúde do PS, Adalberto Campos Fernandes [1].
Numa altura em que percebemos que a situação epidémica da covid-19, está a piorar, o Núcleo de Coordenação para a Vacinação, liderado pelo Coronel Carlos Penha Gonçalves, ainda não tem a equipa completa e a falta de técnicos, atrasa o processo de vacinação. Isto, numa altura em que a terceira dose da vacina está em marcha e se discute a possibilidade da vacinação de crianças dos 5 aos 11 anos, que parece estar a caminho. A vacina é a diferença entre a vida e a morte e o respeito pelos outros.
Sem o processo de vacinação como está, é praticamente certo de que este Natal seria mais um triste desencontro das famílias. Mas sem medidas e sem cuidados por parte das pessoas, o próximo mês de janeiro pode trazer mais um início de ano complicado. Podemos estar à beira de uma quinta onda pandémica. A solução, não está num partido, ou num líder; a solução passa por investimento correto no SNS e políticas sérias de braço dado com os especialistas para a prevenção e controlo da covid-19.
Muito ficou por fazer, nomeadamente o levantamento de patentes financiadas com fundos públicos que estão a dar lucros milionários, enquanto o mundo luta contra uma pandemia. Estamos a falar de entidades ligadas a fundos de investimento poderosos que se resguardam em contratos secretos, em paraísos financeiros como o cantão suíço de Basileia. A Europa permite que os contribuintes sejam bastante penalizados por gigantes financeiros, como a Goldman Sachs, o BlackRock, o Bank of América e a Fidelity. Este assunto das vacinas deve ser considerado de interesse mundial e não um negócio milionário.
A Comissão Europeia assinou contratos lesivos nesta área e preocupa-se com um aumentozinho dos rendimentos miseráveis em Portugal, ou com o investimento público. Também é importante que existam medidas de apoio às pessoas atingidas pelos efeitos da pandemia e que não haja aproveitamentos políticos eleitorais.
Devido à baixa taxa de vacinação, a Alemanha atravessa uma crise pandémica, que levou o ministro da saúde alemão a apelar à vacinação “com urgência” e afirmou que até ao final deste inverno, os alemães estarão “vacinados, curados ou mortos”, face à onda assustadora de infeções na Alemanha. Chegou a colocar-se a necessidade de a vacina ser obrigatória, ou limitar a vida social dos não vacinados.
Na Áustria a vacina é obrigatória, mas não se prevê esta medida na União Europeia. Já a restrição dos não vacinados em eventos públicos, sem apresentarem garantias, parece ser uma realidade a começar já na Região autónoma da Madeira. Na Roménia, os não vacinados, já são obrigados a recolher durante a noite.
Uma coisa é certa, o que nos está a preocupar e a provocar mais problemas são os não vacinados, que colocam em risco os que deram o braço à responsabilidade cívica e colocam em sobressalto a economia. Espera-se que percebam que a sua teimosia e irresponsabilidade deve ser substituída pelo assumir da evidência de que a vacina traz progressos e salva vidas. A maioria dos internados não estão vacinados.
Pessoalmente, defendo o uso de máscara na rua e considero que houve precipitação na retirada desta medida. Agora exigem-se medidas rápidas. A primeira batalha do processo de vacinação foi vencida com a possibilidade de podermos viver com mais segurança, apesar de alguns teimosos não terem aderido. A nossa sorte, é serem uma minoria; com os negacionistas a vencer, estávamos perdidos. Mas o problema não está na resiliência, está na falta de investimento.
Paulo Cardoso - Programa "Desabafos" / Rádio Portalegre /26-11-2021 (1) Ministro da Saúde do XXI Governo Constitucional (2015-2018).