A construção da ponte internacional sobre o rio Sever,
ligando o território do concelho de Nisa (Montalvão) e a província de Cáceres
(Cedillo) voltou a estar na ordem do dia e pelos piores motivos.
Reivindicação antiga dos povos de um e outro lado da
fronteira, lembrada, sempre, aquando da realização da Matanza Internacional do
Porco, em Cedillo, a construção da ponte foi apresentada, finalmente, como um
projecto estruturante e desenvolvimento da região transfronteiriça, num
processo de candidatura entregue na UE e que tem como parceiros a Deputación
Provincial de Cáceres, à data liderada pelo PSOE, e a Câmara Municipal de Nisa,
na altura com maioria PCP/PEV- CDU.
O projecto foi aprovado no início de 2011. As verbas
disponibilizadas, os principais objectivos do projecto foram, já, amplamente
descritos e divulgados, pelo que me abstenho de os referir.
A ponte sobre o Sever, depois de tantos e tantos anos de
promessas e incertezas, ganhava força e uma esperança inaudita, firmada no
compromisso institucional assumido pelos dois parceiros.
Em Novembro de 2011, houve eleições em Espanha. O PP (partido “irmão”
do Paulinho das feiras”) venceu e conquistou, pela primeira vez, a Deputación
de Cáceres.
Os novos “diputados” continuaram a manter e a garantir, a
construção da ponte sobre o Sever, como um objectivo fundamental. Uma “garantia”
que apenas servia para os discursos oficiais e oficiosos, enquanto,
internamente, apresentavam essa reivindicação justa das populações cedillanas e
montalvanenses, num gesto depreciativo e de vingança política, como “a ponte do
Miguel”.
Miguel Angel Moralles, deputado provincial de Cáceres e
responsável pelas Obras e Infra-estruturas da Deputación, juntamente com
António Riscado González, alcaide de Cedillo, ambos eleitos pelo PSOE, deram a
cara, a vontade e a persistência para que a construção da ponte sobre o Sever
fosse uma realidade.
Um e outro foram enganados pelas manobras políticas e
estratégicas eleitoralistas do PP cacereño. A ponte, soube-se, em Abril de 2013
– o anterior executivo da Câmara de Nisa, em ano de eleições, fechou-se em
“copas – deixara de ser uma prioridade para os “populares” da Deputación de
Cáceres. Gastaram dinheiro a rodos em projectos e propostas de localização da
ponte, avançaram com infra-estrutura rodoviárias na serra de San Pedro, na
tentativa de justificar o injustificável e, por fim, argumentando com a
escassez de verbas, avançavam, como alternativa, para a instalação de uma
barcaça, intenção que um dos vices da Deputación se apressou a transmitir, como
dado adquirido e irrefutável, a um blog de Castelo de Vide.
O desenvolvimento do processo, a contestação às intenções
castelhanas, da direita, e a reivindicação de assunção dos compromissos
assumidos, por parte do Município de Nisa, já os leitores conhecem.
A ponte internacional sobre o Sever é uma obra fundamental e
um desejo, antigo, das populações para o desenvolvimento de uma das regiões
mais pobres e desertificadas da Europa.
Não podemos deixar que esta obra, considerada prioritária e
essencial pela UE, reivindicação justa das populações hispano-lusas, seja remetida
para as calendas da memória e tornada irrealizável pela decisão, unilateral, de
um dos parceiros do projecto, à revelia e contravenção, dos compromissos
institucionais e comunitários assumidos.
Muito menos poderemos admitir que tal recusa se fundamente num
acto, “puro”, de vingança e de retaliação política sobre aqueles que, desde
sempre, tomaram nas suas mãos a defesa das suas terras e das suas gentes.
Recomendo, para uma melhor apreciação de todo este processo,
a leitura dos textos de José Monteiro, intitulados “A Barca do Purgatório I e
II” (em boa razão, o título deveria ser a “Barca do Inferno”) em http://maladeporao.blogspot.pt/2014/02/a-barca-do-purgatorio.html
e http://maladeporao.blogspot.pt/2014/03/a-barca-do-purgatorio-ii.html
e de José Leandro em http://jornaldenisa.blogspot.pt/2014/02/opiniao-ponte-ou-barcaca-que.html
No primeiro, José Monteiro faz a cronologia, clara e
imparcial, de todo o processo. No segundo, remete para a Deputación Provincial
de Cáceres, algumas questões pertinentes, terminando com uma Carta Aberta de
contestação às intenções cacereñas.
Apelo a todos os nisenses do concelho e alentejanos, em geral, que
entrem no site e, a exemplo de José Monteiro, copiem e enviem a Carta Aberta ao
presidente da Deputación de Cáceres.
Já chega de negaças, de tomadas de posições unilateráveis e
de desrespeito pelos compromissos assumidos, atitudes, ainda por cima, sustentadas
em argumentos e dados que não respeitam os princípios da cooperação
institucional e da seriedade.
Façamos ver aos nosso “vizinhos” espanhóis do PP que “Barcaça
(não pode) rimar com trapaça”.
Mário Mendes