O Dia Mundial da Poesia foi ontem. É hoje, amanhã e sempre. Todos os dias. Como bem lembra um amigo, que nos fez chegar estes poemas do nosso conterrâneo Fernando Eduardo Carita, publicados no blog Um Campo de Girassóis. Quem quiser passe por lá http://umcampodegirassois.blogspot.pt/2013/12/homenagem-ao-fernando-eduardo-carita.HTML
e deleite-se. A foto é de 2009, na qual podem ver-se o Fernando, o António Ramos Rosa e a Gisela Ramos Rosa. E... Viva a Poesia! Ontem, hoje, amanhã e sempre!
Poema 5
Era um sonho adiado de sermos consentâneos
A todos os ritos religiosos
Que afastariam de nós o caos a divinis
Crianças acostadas a um rio seco
Na estrada de Benfica pressentíamos já tão infindamente
mastigando um pão de deus
Embrulhado a celofane na padaria
Mais ignota do mundo
Poema 6
De longínquos ramos de sol
Sem abeirar-me do êxtase não sei a extensão de um cabo de
telefone
Na adormecida noite
Tudo é paz e saudade
Para que possam adormecer os nossos olhos
Numa árvore arrancada ao terreno por uma rajada
De aragem estrondosa neste Natal
Lá fora o vento pia e já nasce uma criança
És o recém -nascido para a tua mãe
Desdobrada em amor
São assim as mães que perdem um filho
Mães da ternura com que acalentam o coração de todos
Mães nascidas renascidas ouvidas por todos nós
E também pelos que já pairam noutra esfera
Mães que só falam de Amor com as mãos erguidas
Para o sacrário que se dilata pela terra inteira
Mãe tua mãe nossa
a quem quero dar um abraço ainda assim
E chamar-lhe “minha filha”
Poema 7
Vem amigo
Restabelece o instante nos meus olhos
Nesse júbilo de antigamente
Que nunca pôde morrer por não ter nome
O que se extraviou não foi o ser
Foram folhas limpas
Vem amigo
Quero entregar-te as minhas mãos
De criança arrependida
Por uma única vez ter lançado uma flecha a um melro
Que se despenhou num só grito
A sonhar
Quantos ângulos
Tem essa extensão sem fim
É um lago pedregoso
Onde estão os anjos
A rotação de uma galáxia imóvel
Assemelha-se à casca de um ovo fresco
Acredito que és Vida
Fora do mercúrio
Longe de todos os labirintos
Experiência de uma lamparina
Alumiada a azeite
Entoas por nós a prece muda do Amor
Energia transformada em indizível Amor
Prece por ti que nunca mais acaba
Prece por nós sem fim
Poema 8
A claridade da chama branca da vela
Não formula a aragem da noite do imenso
Ressoam na tua Casa
As sementinhas que nasceram fora do tempo
E por isso a tua Noite é iluminadora
Repartem por todos o pão tangente
Os poetas que aí estão
Qualquer dia dá para outro mundo
Para ti caminhamos
Desde o início de que nascemos
Porque tudo é impulso
Para te darmos Amor
Viste uma criança a soprar numa caninha de bambu
Antiquíssimo Coração que nos deste o sopro na hora certa
Encontro à descida das minhas escadas
As figuras dos teus pais
Amando-te sempre e cada vez mais
Entrego-lhes as minhas orações numa folha de cartão
translúcido
O que não se vê com os olhos vê-se à mesma
Os vizinhos perguntam por ti e atá um cão vadio está mais
pensativo
E o texto mais secreto
Despega-se da pele das nossas mãos
Como a prece de um crente
Se despega da sua boca
Num formigueiro intermitente
Para que não esqueçamos alguma vez nada
A parte que aclama as nossas tristezas
Emerge de uma distância de lumes mais puros de alegrias
Muitas vezes arrumamos os talheres da ceia sem vontade de
comer
Só podemos comer peixe
Já dentro da rede o bodião salta para o mar
A aragem desprende um fumo branco da cheminé
Nunca nos desampares querido antiquíssimo na tua juventude
perene