(escutando Ana Belen – Canciones- especialmente “Derroche”)
Não é mais um filme de Almodóvar. É mais um grande filme de Almodóvar.
Confesso ser suspeito pois sou admirador inveterado do
cinema almodovariano.
Mas o que é é e não há volta a dar, se algum crítico
encartado vos disser que estamos perante um filme menor, ainda que no universo
de Almodóvar, é porque mente.
Linguagem cinematográfica simples, bom uso das imagens e
cores, boa e escorreita história, excelentes interpretações…
E depois é Almodóvar com o seu desbragado talento à solta a
fazer o resto.
O que mais me fascina no seu cinema é a capacidade que tem
de perante as situações do mais completo, perturbador, desesperante desamparo e
abandono trágicos, ele encontra sempre uma nesga, uma fresta, um rasgo de
brilhante e desarmante comicidade que nos retornam à vida e devolvem a
esperança. Ironia que recoloca o desenrolar dramático na esfera da mais pura e
simples dimensão humana.
Gosto destes filmes excessivos de cor, outros dirão “kitsh”,
mas que transmitem a dimensão de ser ibérico, rindo da desgraça própria e
comum.
Volveremos a visitar este tema pois cada filme de Almodóvar
requer pelo menos três visualizações até atingirmos a moderação ponderada da
obra.
Jaime Crespo