16.3.14

CRÓNICAS DO REGABOFE (31): Volver - A arte de fazer filmes segundo Almodóvar

(escutando Ana Belen – Canciones- especialmente “Derroche”)
Não é mais um filme de Almodóvar. É mais um grande filme de Almodóvar.
Confesso ser suspeito pois sou admirador inveterado do cinema almodovariano.
Mas o que é é e não há volta a dar, se algum crítico encartado vos disser que estamos perante um filme menor, ainda que no universo de Almodóvar, é porque mente.
Linguagem cinematográfica simples, bom uso das imagens e cores, boa e escorreita história, excelentes interpretações…
E depois é Almodóvar com o seu desbragado talento à solta a fazer o resto.
O que mais me fascina no seu cinema é a capacidade que tem de perante as situações do mais completo, perturbador, desesperante desamparo e abandono trágicos, ele encontra sempre uma nesga, uma fresta, um rasgo de brilhante e desarmante comicidade que nos retornam à vida e devolvem a esperança. Ironia que recoloca o desenrolar dramático na esfera da mais pura e simples dimensão humana.
Gosto destes filmes excessivos de cor, outros dirão “kitsh”, mas que transmitem a dimensão de ser ibérico, rindo da desgraça própria e comum.
Volveremos a visitar este tema pois cada filme de Almodóvar requer pelo menos três visualizações até atingirmos a moderação ponderada da obra.
Jaime Crespo