A Quercus vai comprar cerca de dois mil hectares no Parque
Natural do Tejo Internacional, na Beira Baixa, e criar condições para o
regresso a esta área de espécies há muito desaparecidas.
O objectivo, explicou ao SOL Samuel Infante, daquela
associação de defesa da Natureza, é renaturalizar a zona, no âmbito de um
projecto mais vasto: “Queremos criar corredores verdes pela Europa para
voltarmos a ter cavalos selvagens, veados, lobos, lince ibérico e bisonte
europeu. Por isso, temos de criar as condições para que estas espécies
selvagens voltem ao seu habitat”, avança o responsável.
As negociações com os proprietários do Tejo Internacional já
começaram e são suportadas por fundos do programa europeu Rewilding Europe que,
na Península Ibérica, é gerido pela fundação espanhola Naturaleza y Hombre.
Em Espanha, a fundação tem já uma área de influência de
cerca seis mil hectares para este projecto - que arrancou em Portugal em 2011 e
implicou já um investimento de cerca de 300 mil euros na Reserva da Faia Brava,
em Castelo Rodrigo ,
gerida pela Associação Transumância e Natureza.
No Tejo Internacional, a Quercus espera atingir os sete a
oito mil hectares próprios nos próximos anos. Mas o objectivo é muito mais
vasto, diz Samuel Infante. “Queremos criar acordos de gestão com os
proprietários vizinhos, de modo a que os animais encontrem condições também nos
territórios deles. E todos temos a ganhar. Os proprietários irão receber mais
turistas e mais apoios”, sublinha.
Espera-se que, em 2020, através do Rewilding Europe, estejam
“renaturalizados um milhão de hectares de terra por todo o território europeu”,
diz Samuel Infante. O objectivo é criar pelo menos dez áreas de qualidade
internacional dedicadas à vida selvagem.
A iniciativa, que partiu da associação de conservação
holandesa WWF , da ARK Nature, da Wild Wonders of Europe e da Conservation
Capital, trará benefícios para a Natureza, mas não só. “Com a ajuda dos grandes
herbívoros, como vacas e cavalos”, explicou ao SOL António Monteiro da
Associação Transumância e Natureza, “podemos prevenir os incêndios, ajudando a
Natureza a regenerar-se e criando zonas de clareira”.
Trazer de volta os animais das gravuras rupestres
A ocupação da terra pelo homem mudou bastante nos últimos 50
anos, notam as associações no site dedicado ao projecto: “Hoje, a maior parte
do território, que era dedicado à agricultura, está abandonada”. Na verdade,
trata-se de devolver à terra os animais selvagens, que foram sendo substituídos
por outros, domésticos, como as vacas e as cabras.
Outro dos objectivos mais importantes deste projecto, que
inclui a compra de grandes áreas renaturalizáveis pela Europa, é a promoção de
condições essenciais para uma espécie-chave nos ecossistemas da Península
Ibérica e que, nos últimos anos, enfrenta cada vez mais ameaças, sobretudo
pragas: o coelho bravo, que é a base da cadeia alimentar do lince ibérico,
entre outros animais.
“Esta região também alberga a maior galeria de arte rupestre
do Paleolítico da Europa, senão do mundo, designada como herança mundial pela
UNESCO”, sublinham ainda as associações (no site www.rewildingeurope.com/areas/western-iberia),
referindo-se às gravuras rupestres do Vale do Côa.
“Os motivos das gravuras mais antigas são cabras, cavalos
selvagens, bisontes, veados vermelhos, o que indica a importância crucial
destes animais para recuperar a herança natural da paisagem”, recorda-se.
Para gerir todas estas áreas selvagens, será criado um
centro Rewilding Europe para o Oeste Ibérico, na região espanhola vizinha de
Campanarios de Azaba.
Nos próximos anos, vários modelos de gestão partilhada e de
colaboração com proprietários de terras serão testados, tanto em Portugal como
em Espanha.
As apostas fortes serão a promoção do ecoturismo, a educação
e as comunicações. Para tornar a Europa mais selvagem.