12.3.14

QUERCUS quer projecto para regresso de fauna selvagem ao Tejo

A Quercus vai comprar cerca de dois mil hectares no Parque Natural do Tejo Internacional, na Beira Baixa, e criar condições para o regresso a esta área de espécies há muito desaparecidas.
O objectivo, explicou ao SOL Samuel Infante, daquela associação de defesa da Natureza, é renaturalizar a zona, no âmbito de um projecto mais vasto: “Queremos criar corredores verdes pela Europa para voltarmos a ter cavalos selvagens, veados, lobos, lince ibérico e bisonte europeu. Por isso, temos de criar as condições para que estas espécies selvagens voltem ao seu habitat”, avança o responsável.
As negociações com os proprietários do Tejo Internacional já começaram e são suportadas por fundos do programa europeu Rewilding Europe que, na Península Ibérica, é gerido pela fundação espanhola Naturaleza y Hombre.
Em Espanha, a fundação tem já uma área de influência de cerca seis mil hectares para este projecto - que arrancou em Portugal em 2011 e implicou já um investimento de cerca de 300 mil euros na Reserva da Faia Brava, em Castelo Rodrigo, gerida pela Associação Transumância e Natureza.
No Tejo Internacional, a Quercus espera atingir os sete a oito mil hectares próprios nos próximos anos. Mas o objectivo é muito mais vasto, diz Samuel Infante. “Queremos criar acordos de gestão com os proprietários vizinhos, de modo a que os animais encontrem condições também nos territórios deles. E todos temos a ganhar. Os proprietários irão receber mais turistas e mais apoios”, sublinha.
Espera-se que, em 2020, através do Rewilding Europe, estejam “renaturalizados um milhão de hectares de terra por todo o território europeu”, diz Samuel Infante. O objectivo é criar pelo menos dez áreas de qualidade internacional dedicadas à vida selvagem.
A iniciativa, que partiu da associação de conservação holandesa WWF , da ARK Nature, da Wild Wonders of Europe e da Conservation Capital, trará benefícios para a Natureza, mas não só. “Com a ajuda dos grandes herbívoros, como vacas e cavalos”, explicou ao SOL António Monteiro da Associação Transumância e Natureza, “podemos prevenir os incêndios, ajudando a Natureza a regenerar-se e criando zonas de clareira”.
Trazer de volta os animais das gravuras rupestres
A ocupação da terra pelo homem mudou bastante nos últimos 50 anos, notam as associações no site dedicado ao projecto: “Hoje, a maior parte do território, que era dedicado à agricultura, está abandonada”. Na verdade, trata-se de devolver à terra os animais selvagens, que foram sendo substituídos por outros, domésticos, como as vacas e as cabras.
Outro dos objectivos mais importantes deste projecto, que inclui a compra de grandes áreas renaturalizáveis pela Europa, é a promoção de condições essenciais para uma espécie-chave nos ecossistemas da Península Ibérica e que, nos últimos anos, enfrenta cada vez mais ameaças, sobretudo pragas: o coelho bravo, que é a base da cadeia alimentar do lince ibérico, entre outros animais.
“Esta região também alberga a maior galeria de arte rupestre do Paleolítico da Europa, senão do mundo, designada como herança mundial pela UNESCO”, sublinham ainda as associações (no site www.rewildingeurope.com/areas/western-iberia), referindo-se às gravuras rupestres do Vale do Côa.
“Os motivos das gravuras mais antigas são cabras, cavalos selvagens, bisontes, veados vermelhos, o que indica a importância crucial destes animais para recuperar a herança natural da paisagem”, recorda-se.
Para gerir todas estas áreas selvagens, será criado um centro Rewilding Europe para o Oeste Ibérico, na região espanhola vizinha de Campanarios de Azaba.
Nos próximos anos, vários modelos de gestão partilhada e de colaboração com proprietários de terras serão testados, tanto em Portugal como em Espanha.
As apostas fortes serão a promoção do ecoturismo, a educação e as comunicações. Para tornar a Europa mais selvagem.