10.11.13

O VÉU DA NOIVA: Futebol e… Futebóis *

Em Nisa, sempre houve muitos e bons jogadores e até treinadores que passaram pelo velhinho campo do Alto de Palhais e pelo campo do Sobreiro ou D. Maria Gabriela Vieira, e muitos foram os derbys que se jogaram e viveram com grande alma e intensidade.
Chegou a haver em Nisa duas equipas, representando o Sporting e o Benfica. Jogadores como os senhores Jaime Matutino e Joaquim Louro (ambos já falecidos), entre tantos, faziam a alegria da população de Nisa, naquela época adepta do futebol.
Mais tarde surgiram outras equipas já agregadas a um só clube, o Sport Lisboa e Nisa, depois Sport Nisa e Benfica.
Quem não se lembra de ver jogar o senhor António Louro (“Manhoso”), que chegou à 1ª Divisão Nacional e jogou em clubes como o Lusitano de Évora e a saudosa CUF do Barreiro? Ou os senhores Armando Casimiro (Caxamela) que jogou no Oriental e José Casimiro (Conixa) não esquecendo outros valorosos jogadores que passaram pelo clube?
Os jogadores dessa altura já nasciam com qualidades inatas e com a apetência para jogar. Jogava-se à bola nas ruas e nos largos públicos, com bolas feitas de trapos, a maior parte das vezes sob a pressão da temível GNR. Brincar, naquele tempo era quase um delito…
Esses espaços e as renhidas pelejas entre zonas da vila faziam de “escolinhas” e com naturalidade apareciam jovens determinados com grande capacidade, força de remate, e excelente jogo de cabeça, factores que seriam determinantes para a sua evolução futebolística.
Nisa tinha, também, bons treinadores para a época, a nível local e pagos a “peso de ouro”: recebiam palavras de conforto e estímulo quando a equipa ganhava, insultos e desconsiderações quando não atingiam a vitória. Homens como o mestre Joaquim Louro, o senhor João Francisco e outros, deram muito do seu trabalho, amor e dedicação ao clube, elevando bem alto o futebol em Nisa.
Não posso esquecer as várias passagens do clube da terra pela 3ª divisão nacional e pela Taça de Portugal, com vitórias, brilhantes, nos campeonatos distritais, conseguidas por equipas formadas à base dos jovens que aqui nasceram. Essas passagens pelos campeonatos nacionais deram muito prestígio ao Sport Nisa e Benfica e divulgaram o nome de Nisa por todo o país.
Hoje, o futebol mudou. Para se atingir algum nível não basta ter o “dom” de jogar bem, tem que existir um suporte de retaguarda muito forte, quer em termos físicos, técnicos e tácticos. Actualmente, o jogador “faz-se” com muito trabalho, sério, dedicação e alguma sorte pelo meio.
A nível regional e em clubes pequenos, o tirar os miúdos do álcool, da droga e outros vícios, e incutir-lhes o gosto pelo desporto, representa uma grande vitória e mérito, sem ser preciso ter ideias megalómanas e interesses invisíveis, que ninguém sabe onde começam e onde vão acabar.
A riqueza do jogador nisense e a sua paixão pelo jogo de futebol é só por si um forte adjectivo que muitas localidades do distrito gostariam de ter, mas que muito boa gente com responsabilidades desportivas e políticas continua a não entender, dando-se ao “luxo” de continuar a brincar aos futebóis.
O Fintas in "Jornal de Nisa"
* Texto de homenagem e evocação de José da Graça Gomes Bandarra, falecido no passado dia 18 de Outubro de 2013.