27.11.13

CRÓNICAS DO REGABOFE (5): Luís Miguel Rocha, o best-seller português

Pequeno ensaio de como escrever com prazer e para vender (Análise a partir das obras: “O Último Papa” e “A Mentira Sagrada”).
Os tempos em que se discutia o cânone literário à mesa dos cafés e nos botequins de Lisboa, Porto e Coimbra, por vezes terminando essas discussões na rua à bengalada, ou em menor caso, o assunto não era para tanto, na bazófia do duelo, já lá vão mas os puristas continuam por aí, melhor ou pior instalados, tentando impor aos outros o seu gosto leitor.
Não sei se o prazer, prazer em escrever, é motivação primeva a todos os que exercem e cultivam o ofício das letras, sem querer ser arrogante, para mim, esse estado, prazeroso, é a base de todo e qualquer texto literário. e desconfio que o prazer de foder os outros também está por detrás da escrita legislativa…
Se o comité Nobel recusou o prémio a Raymond Chandler apodando-o de “ser um escritor de policiais”, pior se desculparam a James Joyce, alegando em favor da recusa do prémio, tratar-se de um escritor marcado “pela inovação e pioneirismo na literatura”…
Portanto, o melhor é que cada qual leia o que lhe interessa e deixe as doutas opiniões para os enfatuados das academias.
De tal sorte que não sei quando a intriga, o romance, a traição, o crime, etc. que sempre constituíram a farinha, o sal e o fermento da urdidura literária, passaram a merecer o desprezo de todos os cânones.
A um amigo que escrevia razoavelmente bem, perguntei porque não se aventurava a escrever um livro? Respondeu-me “todos os temas estavam esgotados desde os gregos”.
Os temas talvez, que não a indomável vontade de escrever, a não ser assim, Shakespeare, que não era grego, seria um perfeito desconhecido.
O que é certo, é que os romances de intriga, traição, crime, foram banalizados e durante tempos apenas se consideravam para o ato literário os assuntos sérios, criando-se assim uma literatura aborrecida de morte.
Em boa hora, outros terão intentado sem obterem contudo sucesso, Umberto Eco, com o seu “Nome da Rosa” vem recuperar para a liça este género aviltado e abrir nova janela de oportunidades a escritores e leitores sedentos de diversão.
Neste contexto, passado que foi o tsunami “O Código da Vinci”, de Dan Brown, encontramos para melhor, em estilo, escrita, urdidura do romance e sobretudo com uma tecelagem policiaria aceitável, enquanto em Brown essa tessitura, de tão pueril chega a ser imbecilizante, o português Luís Miguel Rocha, oferece-nos obras sólidas, com horas de boa leitura e diversão pegada, provando que se pode escrever com classe e categoria sem que o assunto seja sério, a influência dos discursos de Barak Obama na alteração do clima, por exemplo, e ainda assim construir literatura.
E espero, a ganhar dinheiro.
Jaime Crespo