João Emílio Baptista Rosa nasceu em Nisa a 18 de Agosto de
1925 e faleceu em Lisboa, aos 57 anos, a 6 de Outubro de 1982
Em 2009, numa sessão de trabalho do Grupo
de Estudos Fílmicos do 6º Congresso da SOPCOM, Paulo
Cunha, da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra,
apresentou um estudo elaborado sobre “A
Emissão de Cinema Português na Televisão Pública (1957-1974)” sobre o qual transcrevemos:
“Em Novembro de 1967, a RTP inaugurou uma nova rubrica de
temática cinematográfica. Produzida e apresentada por Baptista Rosa,
Cinema sem Estrelassurgia aos
telespectadores como um exigente espaço de divulgação de um cinema alternativo contemporâneo,
destinado a um público específico e interessado”.
A este respeito, e baseados no mesmo documento, Mário
Castrim, crítico de Televisão de elevado gabarito à época, escreveu
na sua crónica no extinto Diário de Lisboa:
“O que aconteceu ontem na Televisão Portuguesa pode ter um
grande significado. Pode ter
sido a semente de “qualquer coisa”. Chamemos a essa qualquer coisa, por exemplo, o “cineclube de nós
todos”, a antologia de cinema que a televisão
podia oferecer a todo o país. Sim, porque não me venham dizer que as pessoas inteligentes que
ainda existem por essas vilas, por essas aldeias estejam
condenadas, por toda a eternidade, a assistir às maravilhas do desmiolamento universal,
transmitidas nas “Noites de Cinema”… Não. Isso não é
justo. Devia ser proibido por lei”.
O formato deste programa era muito semelhante ao popular e célebre Museu do
Cinema de António
Lopes Ribeiro. Baptista Rosa seleccionava, apresentava e comentava
os filmes emitidos mas, por se tratar de Cinema mais actual, a rubrica poderia
por vezes apresentar entrevistas e reportagens com os Realizadores ou com os
protagonistas.
Pelas curtas seleccionadas, Cinema sem Estrelas aparentava ser um espaço dedicado ao
filme documentário, em especial ao novo Cinema de origem europeia. Os filmes
seleccionados eram sobretudo obras premiadas num circuito cinematográfico muito
específico - o circuito dos Festivais de Cinema de prestígio internacional -
encontrando-se referenciados como os mais representativos das renovadas
cinematografias europeias.
Ainda, segundo Paulo Cunha:
“Das curtas emitidas que consegui identificar, apenas quatro
são de produção portuguesa: O Desterrado (1949), de Manuel Guimarães; O Pintor
e a Cidade (1956), de Manoel de Oliveira; Crónica do
Esforço Perdido (1967), de António de Macedo e
Cruzeiro do Sul (1966), de Fernando Lopes.
Mais uma vez, estas curtas eram filmes premiados (O
Desterrado, O Pintor e a Cidade e Crónica do Esforço Perdido foram distinguidos
pelo próprio SNI, o primeiro
pela melhor fotografia e o segundo com o Prémio Paz dos Reis), ou realizados por activos da
própria RTP, de que é exemplo o Cruzeiro do
Sul”.
Uma outra vertente de Baptista Rosa era a sua capacidade de passar
à escrita a poesia que lhe ia na alma. Não resistimos à transcrição de um dos
seus últimos poemas, escrito, na baía de Cascais, 2 meses antes da sua morte:
Oh! MAR
Oh! Mar...
Mar azul...Mar distante...
Mar sem fim...
Porquê, esta saudade a mim?
Mar aqui em frente
e lá tão longe...
Mar amargo e amigo
Porquê não vou contigo?
Mar de ir e voltar...
Mar de ir e ficar...
Mar fundo e profundo...
Porquê, até ao fim do Mundo?
Oh! Mar...
Um dia quer hás-de levar...
Mar amigo e inimigo
Porquê não vou contigo?
(Cascais 14/08/82)”
Filmografia
Tyrone Power em Portugal (1948) - Realizador
A Morgadinha dos Canaviais (1949) - Assistente de Realização
Imagens de Niza (1949-35mm-P/B) - Realização
Sonhar É Fácil (1951) - Assistente de Realização
I Exposição de Arte dos Trabalhadores (1952-35mm-P/B) -
Supervisão Geral
Moderna Escultura Portuguesa (1952) - Supervisão Geral
A I Grande Concentração Nacional de Filarmónicas e Bandas de
Música Civis (1952) - Supervisão Geral
Parque Desportivo Salazar (1952) - Supervisão Geral
O Natal na Arte Portuguesa (1954-35mm-P/B) - Realização
Azulejos de Portugal (1958-35mm-cor) - Realização
Fundo de Fomento de Exportação (1959-35mm-cor) - Produção e
Supervisão Geral (inacabado)
Como se Fabrica a Margarina Chefe (1961-16mm-P/B) - Produção
e Supervisão Geral
A Paixão de Cristo na Pintura Antiga Portuguesa
(1961-35mm-cor) - Realização, Planificação e Montagem
Alfama à Noite (1962) - Produção e Realização
O Século (1963-35mm-P/B) - Produção e Supervisão (Inacabado)
Semana Santa em Óbidos (1963-16mm-P/B) - Realização e
Planificação
O Forcado (1965-16mm-P/B) - Realização e Montagem
Instituto Nacional de Educação Física (1967-16mm-P/B) -
Realização
O Romance do Luachimo – Lunda, Terra de Diamantes
(1968-35mm-cor) - Produção, Realização e Montagem
A Arte dos Povos da Lunda (1969-35mm-cor) - Produção,
Realização e Montagem
Cartografia, Arte e Técnica (1969-35mm-cor) - Realização
Cartografia, Arte e Ciência (1970-35mm-cor) - Realização
Hello Jim (1970) - Produção (Prémio Paz dos Reis)
Fundação Gulbenkian-Doze Anos de Actividade (1972-16mm-P/B)
- Produção e Supervisão Geral
A Pintura de Vieira da Silva (1972-35mm-cor) - Produção e
Realização (Inacabado)
Televisão
Visita da Rainha Isabel II a Portugal (1956)
Viagem do Presidente da República, general Craveiro Lopes
aos Açores (1957)
Viagem do Presidente da República, general Craveiro ao
Brasil (1957)
Morte e Funeral do Papa Pio XII (1958)
Eleição do Papa João XXIII (1958)
Cinema (1958)
Exposição Internacional de Bruxelas (1958)
Inauguração do Cristo Rei (Lisboa-1959)
Esta Semana Aconteceu (1959)
Desfile dos Espectáculos (1959)
Visita do Ministro da Presidência à Índia (1960)
Visita do Ministro da Presidência a África (1960)
Festival de Cinema de Berlim (1960)
Exposição Henriquina (1960)
O Forcado (1965)
Cinema 65 (1965)
Óbidos e a Semana Santa (1966-Representante da RTP no
Festival Internacional de Televisão de Monte Carlo)
Cinema sem Estrelas (1967)
Horizonte (1967)
Notícias do Espectáculo
Zip-Zip (1969) - Guionista
Curto-Circuito (1970) - Guionista e Produtor
Viagem do Presidente da República ao Brasil (1972)
Taco-a-Taco
Este Século em que Vivemos
Volta a Portugal em Bicicleta (Várias)
Mensagens Natalícias de Militares em serviço na Guiné,
Angola, Moçambique e Goa
Condecorações
Medalha de Mérito Militar (1969)
Grau de Oficial da Ordem do Infante D. Henrique (1972)
Medalha de Prata de Serviços Distintos (Fevereiro de 1974)
Medalha de Mérito D. João VI (Rio de Janeiro, 1980)
Como Júri
Prémio Itália de Rádio e Televisão (Florença-1970)
XXIV Festival Internacional de Cinema de Berlim (Julho de
1974)
Festival Internacional do Filme Publicitário de New York
(1981)
Prémios
Prémio Laranja – Área Televisão (1967-Diário Popular)
Prémio de Imprensa (1968-Horizonte, Programa de Televisão)
Denominação de Prémio
Prémio Baptista Rosa (1982-Atribuição feita pelo jornal
brasileiro "O Globo"
Livros publicados
Chamava-se Júlia e Fazia Flores (1984)
Cargos
Chefe da Divisão de Fotografia e Cinema dos Serviços
Cartográficos do Exército
Chefe de Serviço de Produção Cinematográfica (1959)
Chefe de Serviço de Programas Especiais (1963)
Adjunto da Direcção-Geral de Programas da RTP (1969)
Director da Agência Portuguesa de Revistas
Director do Jornal “O Benfica”
Chefe de Redacção da Revista “Filmagem”
Director e Editor da Revista “Imagem” (reaparecimento em
1950)
Director da Revista “Plateia”
Director do Semanário “O Benfica” (1969 a 1971)
Colaborador como Jornalista nos Jornais “Diário Popular”, “O
Século” e “Diário de Lisboa”, “Record”, assim como nas Revistas “Eva” e “Século
Ilustrado”
Presidente da Casa do Pessoal da RTP
Correspondente da BBC, Visnews, Reuter e Révue du Cinéma
Direcção do Grémio Nacional da Imprensa Não-Diária
(1973-1975)
Fontes: Livro “Baptista Rosa”, edição Cinemateca Portuguesa
(Coordenação José de Matos-Cruz - 1984); História da Televisão em Portugal
(1955/1979) de Vasco Hogan Teves (Editora TV Guia-1998); Nunes Forte (Medalha
comemorativa e Livro “Dossier RTI”); Revista Grande Plano da CoopTV; Revista
Plateia; Jornal “O Benfica”; Revista Rádio & Televisão, Blogue Santa
Nostalgia e memória do Biógrafo