10.1.24

OPINIÃO: Não tentem meter-nos medo

Há poucos sinais seguros para as eleições de 10 de março, mas um é quase certo: dificilmente haverá um partido com maioria absoluta. Razão pela qual muitas das intervenções dos líderes partidários e recados lançados em análises políticas se debruçam sobre configurações possíveis de governo. Quem namora ou pisca o olho a quem, com que partidos admite cada dirigente assumir compromissos sérios, em que camas assume que nunca se deitará.
O tema da governabilidade é relevante, mas convém não tentar condicionar os eleitores com cenários ou aritméticas que excluem opções em função do voto útil. Não há votos inúteis, mesmo que deles não resulte a eleição de ninguém. Dizer que o povo é quem mais ordena não pode ser um simples slogan em mensagem de Ano Novo, mas o respeito efetivo pelas escolhas feitas nas urnas.
É verdade que os líderes partidários devem ser transparentes a dizer com quem admitem aliar-se. Mas é igualmente exigível que digam com clareza como vão comportar-se na oposição e como lidará um Parlamento fragmentado com um governo minoritário. Uma democracia não se constrói só em maioria. Amadurece na negociação e sedimenta-se na oposição. Respeitando os portugueses e o peso efetivo das escolhas de cada um.
Não faz qualquer sentido diabolizar as minorias. Nem dramatizar excessivamente o tema da (in)governabilidade. Há um momento de dar a palavra aos eleitores. E há depois disso a exigência de que os atores políticos tenham a capacidade de ouvir o que lhes é dito. Não tentem assustar-nos com o risco de uma dissolução rápida e de sucessivas eleições. A Europa está cheia de exemplos de longas negociações políticas que nem por isso colocaram em causa a economia e a estabilidade desses países. Há sempre soluções para governar. Assim haja programas promotores do desenvolvimento e da liberdade, ideias para criar futuro e carisma na liderança.
* Inês Cardoso - Jornal de Notícias - 07 janeiro, 2024