Desejámos de forma sincera as mensagens de Bom Ano Novo, quando sabemos que em 2023, o ano foi muito bom para as dez famílias mais ricas do país, enquanto para a maioria sobraram as dificuldades. Na habitual mensagem de Ano Novo do Presidente da República ouvimos várias vezes a palavra “claro”, “claro” …; quando as pessoas percebem que muitos dos assuntos nomeados estão enegrecidos.
Não quero com isto dizer que o Presidente se tenha enganado, ou que nos quer iludir, mas optou por um discurso simpático. Afinal não está nas suas mãos alterar o que não funciona bem e muito menos travar as guerras que também nos afetam. Por isso, Marcelo alertou para a importância das eleições americanas, pois sabemos o peso desta nação na continuidade dessas guerras e o seu interesse no lucro da indústria bélica.
Já percebemos que em 2024, Putin irá continuar a destruir a Ucrânia, e Benjamin Netanyahu a chacinar os palestinianos. É a prova da falta de democracia, quando os EUA conseguiram recentemente, por duas vezes vetar, um cessar-fogo mediado pela ONU. É a indústria da guerra a liderar e o capitalismo a governar.
Marcelo, também reconheceu que acabámos 2023 pior do que começámos, mas aqui faltou reconhecer o seu papel enviesado, que em nada contribuiu para melhorar. Chamou a atenção e muito bem, que as eleições de março são importantes, quer na responsabilidade dos candidatos a apresentarem boas propostas e para a responsabilidade dos eleitores no que diz respeito às escolhas.
É importante pensar nas contas certas, mas também é essencial que se resolvam assuntos que sucessivos governos não resolveram. Não é difícil perceber essas opções.; basta perceber quem é que vai gastar por exemplo dinheiro em submarinos, no lugar de investir na Escola Pública, ou quem é que tem um discurso construtivo e progressista no lugar do discurso de ódio e conservador com cheiro a retrocessos.
Um bom programa político, além de contas certas, deve primar por opções que defendam os interesses do país e não, ter os pilares da nação nas mãos das negociatas. O poder de compra e a oferta dos serviços públicos, sem esquecer os apoios sociais, distribuídos de forma criteriosa, devem ser o eixo principal de um país que tem de ter condições para assim desenvolver o país e a economia. Mas só isto não basta, é preciso refrear o apetite da banca que trucida a vida das pessoas.
Já agora, é importante não esquecermos as promessas da coligação de direita nos Açores, que não só fracassou na coligação, mas, também nos resultados. A dívida e a pobreza aumentaram e até o número de “boys” aumentaram a par do aumento do abandono escolar. Não podemos esquecer que o PS venceu as últimas eleições nos Açores, com uma maioria relativa de 39,13% e que quem formou governo em coligação, foi a A.D. com PSD, CDS e PPM que formou governo com acordos parlamentares com o Chega e o Iniciativa Liberal. Será que esta receita que não funcionou nos Açores vai repetir-se em Portugal?
As eleições europeias continuam a ser desvalorizadas, quando se sabe que a União Europeia é determinante para o rumo político e o futuro da Europa. Atenção ao perigo do crescimento da extrema-direita, é o princípio da queda dos valores europeístas e as ligações perigosas do Chega com figuras pouco recomendáveis no plano internacional como o atual tresloucado Milei, são um sinal que nos afastamos da União Europeia. Exige-se que os portugueses saibam escolher entre o “trigo e o joio”, o título de um dos livros do grande neorrealista e inconformado Fernando Namora. Por falar nisso, é pena que este livro tenha sido substituído por outros escritos sem qualidade, de autores sem categoria e assuntos sem importância… Hoje ninguém lê sobre a burra do Loas, mas leem artigos falaciosos como o de Durão Barroso sobre a mentira da invasão do Iraque.
Não nos cansemos de cantar como o Sérgio Godinho, “a paz, o pão, habitação, saúde, educação. Só há liberdade a sério quando houver liberdade de mudar e decidir”.
Gostava muito de ver efetivo, o que lembrou Marcelo Rebelo de Sousa, que tem bem a noção da total ausência de democracia no Estado Novo, com um partido único como na Coreia do Norte, que parecenças… E Marcelo lá lembrou, que depois do 25 de Abril é o povo quem mais ordena… Mas será assim? A União Europeia, domina os Estados, com políticas de direita, a NATO, obriga os estados a gastarem muito em armamento. E dito isto, quando é que vamos ter liberdade a sério? É quando o povo decidir!
* Paulo Cardoso - Programa "Desabafos" / Rádio Portalegre - 5.1.2024