É provável que o leitor se sinta algo confuso com o recente bombardeamento de notícias sobre o Global Media Group, sobre modelos de financiamento dos media, sobre o futuro do setor e as medidas de controlo da propriedade. Nos últimos dois meses uma crise de contornos inéditos no grupo que detém o JN (entre outros títulos) fez explodir um debate imprescindível, mas que estava adormecido, sobre o futuro do jornalismo e o seu contributo para uma democracia forte.
Depois de sete anos de pausa, o Congresso dos Jornalistas voltou estes dias a refletir sobre os problemas da classe e do consumo de notícias e os partidos políticos viram-se forçados a explicar com clareza o que defendem quanto à regulação, eventuais apoios diretos ou indiretos e o papel que o Estado deve desempenhar por uma comunicação social de melhor saúde. Uma miríade de temas que alimentou vários dias de congresso e permite infinitas crónicas.
Pelos piores motivos, a crise do JN e dos outros títulos do GMG acelerou o olhar do país para o tema. Mas as redações continuam a trabalhar em condições extremas, apesar dos muitos passos dados neste caminho de pedras. Ao dia de hoje os trabalhadores, desde jornalistas a designers e todos os que fazem o jornal que lhe chega às mãos ou ao ecrã, estão ainda sem receber o salário de dezembro e o subsídio de Natal. As palavras têm-nos faltado em muitos momentos mas, apesar do nosso desconcerto, continuamos a produzi-las diariamente aos milhares.
Um jornalista não pode fazer notícias condicionado, nem vulnerável. Não se pode permitir que as redações sejam espezinhadas como têm vindo a ser, ou que os conselhos de redação percam voz, ou que as administrações ignorem que um jornal, uma rádio ou uma televisão não são uma fábrica de notícias. São muitos os leitores que diariamente nos manifestam apoio e perguntam como ajudar. A melhor forma de apoiar é simples: ler notícias, comprar jornais, subscrever assinaturas, interagir connosco, manter uma atitude crítica sobre a informação e os seus efeitos. O JN continuará o seu rumo, maior do que os que em cada momento vão passando por ele. E é desse papel que persiste que todos coletivamente precisamos.
* Inês Cardoso - Jornal de Notícias - 21 janeiro, 2024