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MEMÓRIA(S) DO JORNAL DE NISA: O "nascimento" dos Bombos de Nisa - JN 204 - 29.3.2006

BOMBOS DE NISA: A FESTA VAI COMEÇAR!
Já começou, aliás, logo na apresentação do grupo no Domingo Gordo de Carnaval, em Nisa. Foi a surpresa do desfile, quinze jovens “alinhados” em formação, para o “ataque” aos bombos, para dar cor e alegria à festa. Muita gente, na sua incredulidade, pensou que os homens dos bombos tinham alugado os ditos para brincar ao Carnaval..
Quando os sons se espalharam pelas ruas não houve quem não viesse à porta ou à janela e comentasse, à boa maneira nizorra: “Dé! Pod lá sé!”
O homem não era rico, e, felizmente, nã morré. Mas o grupo Bombos de Nisa aproveitou a ocasião para fazer a sua aparição pública, com garra e determinação, sabe-se lá com que sacrifícios para que o momento não fosse adiado.
O José Maria Caldeira Martins, já o tínhamos dito, foi o principal mentor do projecto. A ideia andava a germinar-lhe na cabeça, há muito. A alegria, a animação e a disposição para a retouça está-lhe no “sangue”. Não há, diz o Zé Maria, com alguma razão, maior riqueza do que termos saúde e viver a vida com alegria.
É aqui que entram os bombos, a vontade de quebrar a abulia e de animar os espaços públicos. Os bombos são tradições do Centro e Norte do país, dizem alguns, mas num país tão pequeno, as tradições musicais (e outras) não se quebram nas fronteiras.
O Zé Maria pegou em dois dos seus amigos e no cunhado, Passarinho, e foi até ao concelho do Fundão. De lá trouxeram os bombos que o dinheiro pôde comprar, 45 contos, só em mão-de-obra. Levaram as peles e outro material, aproveitaram para ver e, como bons portugueses, logo ali sentenciaram, num sussurro: a gente também é capaz de fazer!
Como quem constrói, pacientemente, um ninho, o José Bizarro, lançou-se à tarefa e os primeiros bombos “made in Nisa” surgiram.
“ Requer tempo, paciência e tem que ser bem feito, as peles bem apertadas, para não romperem” , fala, já com o conhecimento, profissional, após a feitura de seis bombos, o José Bizarro.
O mais difícil, diz-nos, “é conseguir as peles curtidas, de cabra. Não apenas pelo custo, 8 euros cada, mas por não haver”.
O senhor Basílio, de uma empresa de alumínios da Sertã vai dar o apoio em material para a cinta que envolve os bombos. Outras empresas e comércios de Nisa, como os Jerónimus Bar, Local de Encontro e Mobiladora Nisense, surpreendidas com esta entrada em cena, de rompante, também querem colaborar e já ofereceram camisolas e bonés. Os Bombeiros têm disponibilizado uma “caixa” e a Junta de Freguesia de Nossa Senhora da Graça o espaço onde ensaiam todas as sextas-feiras.
Foi aí que os encontrámos em mais uma sessão para acertar o ritmo e o compasso. Neste ensaio havia dois novos elementos e um deles, o Alexandrino, pela expressão de vigor com que “martelou” o bombo vai ter direito à foto na capa do jornal. É um aparte de quem escreve.
O repertório ainda é algo exíguo, mas nada que cause desmotivação. Vão aparecer outras músicas e ritmos, em perspectiva está também a integração de um novo instrumento.
Num curto espaço de existência e ainda na fase de divulgação, os Bombos de Nisa já têm muito que contar e para mostrar. Animar as povoações do concelho tem sido a tarefa prioritária. Foram ao Pé da Serra e Salavessa, ao Monte Claro, em todas as terras recebidos com simpatia e manifestações de carinho. No sábado, tornaram-se internacionais ao integrar, no último quilómetro, o “pelotão” de caminheiros que demandou Cedillo. Conquistaram os de Casalinho e os forasteiros, portugueses e espanhóis que participaram na Rota do Contrabando, dando um colorido e animação diferente à festa da Raia.
Vão animar a Feira do Queijo, no dia 30 de Abril, em Tolosa e a Feira do Livro de Nisa. Com o anúncio do Verão e das festas populares, os convites para actuações não se farão, decerto, esperar.
Aproveitando a presença do jornal, José Maria e Miguel Patrocínio, relações públicas, expressam, em nome de todos os elementos do grupo, o seu agradecimento à população do concelho, que tem apoiado e contribuído com pequenos donativos e deixam à atenção dos potenciais interessados, os contactos dos Bombos: (1) São quinze “bombistas” – 2 caixas, 12 bombos e 1 porta-bandeira -, mas podem ser vinte ou mais. Os ensaios vão prosseguir todas as sextas-feiras, à noite, na garagem da Junta de Nossa Senhora da Graça, próximo da zona industrial. Quem quiser pode aparecer e treinar umas “bombadas”.Os Bombos de Nisa estão na rua e a festa vai começar.Tenham cuidado com as peles!(Essas mesmo, e não as outras!...)
O Duarte e o João: os “benjamins” dos Bombos
O Duarte Bizarro tem 12 anos, anda no 6º ano e é sobrinho do Zé Maria. Não espanta que, tal como tio, simples e humilde, não deixe transparecer o gosto, a vibração de tocar no bombo.
“ O meu bombo é mais pequeno, mas também faz “barulho” e animação. Estou a gostar da experiência e vamos continuar. Se o bombo pesa? Um bocadito, mas aguenta-se bem e quando estamos a tocar nem se nota.”
Entusiasmado por pertencer aos Bombos de Nisa, apesar de apenas ser este o seu segundo ensaio, estava outro jovem, que se apresentou desta maneira:
“Eu sou o João Galhofas, tenho 11 anos e estudo no 6º ano. Vim porque conheço e sou amigo do Duarte e porque o meu padrinho, Carlos Carita, também pertence ao grupo. Os meus pais não se importam, o que é preciso é não prejudicar os estudos. Há aqui um bom convívio e estou a aprender a tocar.”
* Mário Mendes
(1) - Esta parte foi retirada por óbvios motivos.