BOMBOS
DE NISA: A FESTA VAI COMEÇAR!
Já
começou, aliás, logo na apresentação do grupo no Domingo Gordo de
Carnaval, em Nisa. Foi a surpresa do desfile, quinze jovens
“alinhados” em formação, para o “ataque” aos bombos, para
dar cor e alegria à festa. Muita gente, na sua incredulidade, pensou
que os homens dos bombos tinham alugado os ditos para brincar ao
Carnaval..
Quando
os sons se espalharam pelas ruas não houve quem não viesse à porta
ou à janela e comentasse, à boa maneira nizorra: “Dé!
Pod lá sé!”
O homem
não era rico, e, felizmente,
nã morré. Mas o grupo
Bombos de Nisa aproveitou a ocasião para fazer a sua aparição
pública, com garra e determinação, sabe-se lá com que sacrifícios
para que o momento não fosse adiado.
O José
Maria Caldeira Martins, já o tínhamos dito, foi o principal mentor
do projecto. A ideia andava a germinar-lhe na cabeça, há muito. A
alegria, a animação e a disposição para a retouça
está-lhe no “sangue”. Não há, diz o Zé Maria, com alguma
razão, maior riqueza do que termos saúde e viver a vida com
alegria.
É aqui
que entram os bombos, a vontade de quebrar a abulia e de animar os
espaços públicos. Os bombos são tradições do Centro e Norte do
país, dizem alguns, mas num país tão pequeno, as tradições
musicais (e outras) não se quebram nas fronteiras.
O Zé
Maria pegou em dois dos seus amigos e no cunhado, Passarinho, e foi
até ao concelho do Fundão. De lá trouxeram os bombos que o
dinheiro pôde comprar, 45 contos, só em mão-de-obra. Levaram as
peles e outro material, aproveitaram para ver e, como bons
portugueses, logo ali sentenciaram, num sussurro: a gente também é
capaz de fazer!
“ Requer
tempo, paciência e tem que ser bem feito, as peles bem apertadas,
para não romperem” , fala, já com o conhecimento, profissional,
após a feitura de seis bombos, o José Bizarro.
O mais
difícil, diz-nos, “é conseguir as peles curtidas, de cabra. Não
apenas pelo custo, 8 euros cada, mas por não haver”.
O senhor
Basílio, de uma empresa de alumínios da Sertã vai dar o apoio em
material para a cinta que envolve os bombos. Outras empresas e
comércios de Nisa, como os Jerónimus Bar, Local de Encontro e
Mobiladora Nisense, surpreendidas com esta entrada em cena, de
rompante, também querem colaborar e já ofereceram camisolas e
bonés. Os Bombeiros têm disponibilizado uma “caixa” e a Junta
de Freguesia de Nossa Senhora da Graça o espaço onde ensaiam todas
as sextas-feiras.
Foi aí
que os encontrámos em mais uma sessão para acertar o ritmo e o
compasso. Neste ensaio havia dois novos elementos e um deles, o
Alexandrino, pela expressão de vigor com que “martelou” o bombo
vai ter direito à foto na capa do jornal. É um aparte de quem
escreve.
O
repertório ainda é algo exíguo, mas nada que cause desmotivação.
Vão aparecer outras músicas e ritmos, em perspectiva está também
a integração de um novo instrumento.
Num
curto espaço de existência e ainda na fase de divulgação, os
Bombos de Nisa já têm muito que contar e para mostrar. Animar as
povoações do concelho tem sido a tarefa prioritária. Foram ao Pé
da Serra e Salavessa, ao Monte Claro, em todas as terras recebidos
com simpatia e manifestações de carinho. No sábado, tornaram-se
internacionais
ao integrar, no último quilómetro, o “pelotão” de caminheiros
que demandou Cedillo. Conquistaram os de Casalinho e os forasteiros,
portugueses e espanhóis que participaram na Rota do Contrabando,
dando um colorido e animação diferente à festa da Raia.
Vão
animar a Feira do Queijo, no dia 30 de Abril, em Tolosa e a Feira do
Livro de Nisa. Com o anúncio do Verão e das festas populares, os
convites para actuações não se farão, decerto, esperar.
Aproveitando
a presença do jornal, José Maria e Miguel Patrocínio, relações
públicas, expressam, em nome de todos os elementos do grupo, o seu
agradecimento à população do concelho, que tem apoiado e
contribuído com pequenos donativos e deixam à atenção dos
potenciais interessados, os contactos dos Bombos: (1) São
quinze “bombistas” – 2 caixas, 12 bombos e 1 porta-bandeira -,
mas podem ser vinte ou mais. Os ensaios vão prosseguir todas as
sextas-feiras, à noite, na garagem da Junta de Nossa Senhora da
Graça, próximo da zona industrial. Quem quiser pode aparecer e
treinar umas “bombadas”.Os
Bombos de Nisa estão na rua e a festa vai começar.Tenham
cuidado com as peles!(Essas
mesmo, e não as outras!...)
O
Duarte e o João: os “benjamins” dos Bombos
O
Duarte Bizarro tem 12 anos, anda no 6º ano e é sobrinho do Zé
Maria. Não espanta que, tal como tio, simples e humilde, não deixe
transparecer o gosto, a vibração de tocar no bombo.
“ O
meu bombo é mais pequeno, mas também faz “barulho” e animação.
Estou a gostar da experiência e vamos continuar. Se o bombo pesa? Um
bocadito, mas aguenta-se bem e quando estamos a tocar nem se nota.”
Entusiasmado
por pertencer aos Bombos de Nisa, apesar de apenas ser este o seu
segundo ensaio, estava outro jovem, que se apresentou desta maneira:
“Eu
sou o João Galhofas, tenho 11 anos e estudo no 6º ano. Vim porque
conheço e sou amigo do Duarte e porque o meu padrinho, Carlos
Carita, também pertence ao grupo. Os meus pais não se importam, o
que é preciso é não prejudicar os estudos. Há aqui um bom
convívio e estou a aprender a tocar.”
* Mário Mendes
(1) - Esta parte foi retirada por óbvios motivos.