31.12.24
29.12.24
NISA: Memória do "Jornal de Nisa" - A visita do Embaixador de Timor-Leste (2007)
A edição nº 245 do "Jornal de Nisa", saída a público no dia 19 de Dezembro de 2007 deu particular destaque à visita do senhor Embaixador de Timor-Leste a Nisa, a convite do Município e da Etaproni, no âmbito do projecto "Escola Solidária". O embaixador Manuel Abrantes deu especial relevo ao gesto dos alunos de Nisa e das acções que desenvolveram com vista à angariação de fundos, materiais diversos e livros destinados à reconstrução de uma escola em Timor -Leste e à implantação de uma biblioteca. Um projecto que o "Jornal de Nisa" acompanhou a par e passo e ao qual deu a devida relevância.
“Juventude de Timor expressa estima e gratidão pelo gesto solidário dos jovens de Nisa”
- Manuel Abrantes, embaixador de Timor Leste em Portugal
Gratidão, apreço, reconhecimento, foram as palavras mais vezes pronunciadas pelo Embaixador de Timor-Leste em Portugal, Manuel Abrantes, durante a sessão de boas vindas que decorreu no Cine Teatro de Nisa e inserida no programa “Dia Solidário com Timor-Leste”.
A visita do diplomata timorense a Nisa, a convite dos alunos do curso de Animação Sócio-Cultural da Etaproni, decorreu no dia 5 de Dezembro e teve como objectivo, “marcar o apreço, a afectividade e um sentimento humano de gratidão”, face à iniciativa que está a ser desenvolvida pela Etaproni e outros parceiros, denominada “Escola Solidária”.
A visita do representante timorense teve início cerca do meio-dia, sendo recebido nas instalações da Escola Tecnológica, Artística e Profissional de Nisa pelo seu director, Manuel Belo e pela vereadora do pelouro da Cultura da Câmara de Nisa, Fátima Moura, professores, alunos e funcionários.
Após o almoço, teve lugar no Cine Teatro de Nisa, uma sessão de boas vindas e de contacto com a comunidade escolar, para além da apresentação e de um primeiro balanço sobre o projecto “Escola Solidária”.
Fátima Moura em nome da Câmara Municipal de Nisa, numa curta mas incisiva intervenção, deu as boas vindas e regozijou-se com a visita do diplomata timorense, não deixando de saudar e de dar os parabéns aos alunos do curso de Animação Sócio-Cultural por tão bela iniciativa.
“A minha geração, foi apelidada de “geração rasca”, mas o vosso gesto, o vosso trabalho e iniciativa, mostram que os jovens não são “rascas” e que têm bons sentimentos ao agarrarem este projecto e lembrarem-se de que há pessoas que precisam mais do que nós.”
A vereadora da Cultura, disse ter abraçado este projecto também a título pessoal, disponibilizando-se para o que for necessário.
“Não deixem de acreditar, nem deixem de olhar para aqueles que têm necessidades, continuem com o trabalho e com muita força”, disse a concluir, dirigindo-se aos estudantes.
Manuel José Belo, disse ser uma grande honra receber o Embaixador de Timor-Leste e lembrou que a Etaproni foi uma das instituições que estenderam lençóis brancos aquando da campanha de solidariedade internacional pela paz e independência de Timor.
O director da Etaproni congratulou-se com a iniciativa dos alunos de Animação Sócio Cultural que levaram por diante o projecto “Escola Solidária” sublinhando que “em 20 anos de experiência em escolas, sei que os projectos começam com muita força e depois vão perdendo o interesse. Esta sessão é a prova de que este projecto não ficou a meio e estou certo, daqui para a frente ganhará ainda outro estímulo”.
Acabou por agradecer aos alunos e coordenador do projecto pela forma determinada e de não terem desistido, reafirmando que os grandes protagonistas são os alunos e professores que tiveram a ideia e a levaram à prática.
Manuel Belo explicou que estava ali a “escola toda” porque a escola forma valores e “há um valor, o da solidariedade, que está acima de qualquer outro. Este é um projecto de vitalidade e que reflecte a importância que a Escola dá ao valor da solidariedade”.
Finalizou, agradecendo a disponibilidade e apoio da Câmara e representante do Governo Civil, instituições bancárias que apoiaram o projecto, editora e comunicação social pela divulgação que têm feito desta iniciativa.
Cecília Oliveira em representação do Governador Civil, disse ser um grande privilégio estar presente neste encontro e apelidou os alunos promotores do projecto como “os navegadores do século XXI”, navegadores que “vão à procura das nossas raízes”. Num tom emotivo, Cecília Oliveira, salientou que, com esta iniciativa “Timor saltou dos livros de História e Português e os alunos meteram-se por esse mar fora e foram à procura do que Timor tem de bom para nos dar”.
Lançou, a finalizar, um apelo aos jovens estudantes. “Não percam estes laços, pois a vossa escola já é uma referência a nível nacional”.
Manuel Abrantes explicou o motivo desta visita a Nisa, uma “visita que se insere na política de continuação dos laços de amizade com o povo português. Estou aqui para transmitir o sinal de que a juventude que está em Timor agradece com muita estima e gratidão, o gesto solidário dos jovens estudantes de Nisa”.
Numa sala repleta de jovens, Manuel Abrantes começou por agradecer aos estudantes e promotores da iniciativa solidária por Timor-Leste, referindo que era “uma honra estar perante vós”.
O embaixador timorense disse que neste dia projectado como Dia da Solidariedade com Timor, “o projecto é uma manifestação especial de carinho, por vossa iniciativa para com os jovens de Timor e o país”, convidando os jovens a pensarem não apenas na Europa, mas também em África e na Ásia, em particular em Timor.
O diplomata expressou a sua gratidão para com o povo português, “um povo com o qual Timor tem laços de amizade e apreço especial, não só pela História mas pela afirmação de quatro séculos de ligação a Portugal. “
Manuel Abrantes, numa lição de humildade, vincou os laços existentes entre Portugal e Timor-Leste, afirmando que “o que nos marca e nos une é a língua comum, materna, de Camões, o português. A nossa identidade nasceu na língua portuguesa e permanece na perenidade dos tempos, a afirmar a independência e a nossa soberania. A língua portuguesa faz a nossa identidade e nos faz entender a todo o mundo, fazendo de nós o oitavo país da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa).”
O representante oficial de Timor realçou também o papel da ajuda portuguesa ao seu país, uma ajuda sempre crescente, não só a nível institucional, mas também da sociedade civil.
“Tem havido por parte de Portugal, uma grande ajuda a Timor. Para o próximo ano, estão previstos 70 milhões de dólares para apoio bilateral, destinado a três áreas: educação, justiça e desenvolvimento da língua portuguesa.
A solidariedade é uma mão amiga para consolidar a democracia num país carente”, disse, antes de concluir, com vibrantes “Vivas” aos jovens de Nisa, a Portugal e a Timor-Leste.
NISA: Memória Cultural – Os Atlas em Nisa - Dezembro de 1965
Várias foram as iniciativas de carácter cultural e beneficência concretizadas no mês de Dezembro de 1965, como nos dá conta uma das edições do “Correio de Nisa” desse mês.
O Cine Teatro de Nisa esteve em franca actividade com a exibição de cinco filmes em seis dias.
Dia 8 – O Herói do Regimento
Dias 12 e 13 – Cleópatra
Dia 19 – Barrabás
Dia 25 – Búfalo Bill
Dia 26 – O Melhor dos Inimigos
No dia 21, realizou-se no Cine Teatro um espectáculo a favor da igreja e do Hospital da Misericórdia. Foi representada a peça em dois actos “O Barão de Marvila, da autoria de Artur Horta, por um Grupo de Jovens de Boa Vontade.
Os actores foram muito aplaudidos, bem como “Os Atlas”, de Portalegre, que colaboraram na segunda parte.
Uma noite de bondade e beleza, altamente construtiva para os homens e Deus.
No dia 30, houve novamente teatro, desta vez por iniciativa do Rancho Típico das Cantarinhas de Nisa, dirigido pelo sr. Rodrigues Correia, apresentou mais um espectáculo a favor do Hospital. Subiu à cena o drama em dois actos “Milagre do Pescador” e a hilariante comédia “Não Quere… Mais Nada?
23.12.24
22.12.24
OPINIÃO: A paz não tem ideologia
Aproxima-se o Natal, uma altura do ano marcada pela amizade e pelo amor, com a felicidade das crianças no epicentro da quadra.
Infelizmente, não é assim em todo mundo e não o podemos esquecer. Nem todas as crianças e jovens têm essa oportunidade. Nem muitas outras oportunidades. O mais recente relatório anual do secretário-geral das Nações Unidas sobre as crianças e os conflitos armados revela um aumento de 21% das violações graves cometidas contra crianças em situações de conflito.
É impossível ficar indiferente às 20 mil crianças que morreram desde 7 de outubro de 2023 em Gaza, resultado do conflito israelo-palestiniano, ou às cerca de 7 milhões de crianças e adolescentes que neste momento, na Ucrânia, estão sem acesso à educação devido à invasão russa. Mas infelizmente, tudo isto é ainda mais preocupante, com números elevados de violações graves contra crianças registados na Faixa de Gaza, no Burkina Faso, na República Democrática do Congo, no Myanmar, na Somália, no Sudão, na Síria, na Ucrânia e em muitas outras situações de conflito e guerra.
A guerra é mesmo o lugar onde jovens que não se conhecem, nem se odeiam, se matam, e onde crianças morrem, por decisão de velhos que se conhecem e se odeiam. Neste Natal é preciso ficar claro: condenar a guerra e os conflitos não é ser de direita nuns casos ou ser de esquerda noutros. É ser a favor da Paz e da Humanidade. E não basta escrever, é preciso fazer. Portugal deve estar na linha da frente da humanidade, por exemplo, fazendo da educação de todas as crianças uma das suas prioridades a membro não permanente do conselho de segurança da ONU em 2027.
Francisco Porto Fernandes - Presidente da Federação Académica do Porto
Jornal de Notícias - 20 dezembro, 2024
21.12.24
Alpalhão celebra Natal com o «Presépio Alpalhoeiro”
Nos dias 21 e 22 de dezembro, a vila de Alpalhão, no concelho de Nisa, distrito de Portalegre, será palco do evento «Presépio Alpalhoeiro – Presépio do Povo», uma celebração que une tradição, arte e comunidade, no Mercado de Alpalhão.
O «Presépio Alpalhoeiro» distingue-se como uma obra coletiva, elaborada pelos habitantes de Alpalhão, de várias idades, que contribuem com criatividade e técnicas artesanais. As figuras, feitas à mão, utilizam materiais e técnicas diversas, valorizando especialmente as artes tradicionais da região, como os bordados locais. Esta iniciativa reflete a riqueza cultural do Alto Alentejo, ao mesmo tempo que promove novas abordagens artísticas, ligando o passado ao futuro.Gastronomia alentejana
Organizado pela Casa d`Alpalhão, sob a curadoria de Maria Pires da Silva, o evento tem como objetivo preservar e divulgar o património cultural local, celebrando a autenticidade e o talento das gerações que dão vida à tradição do presépio.
18.12.24
TEXTOS DE AUTORES NISENSES (21): José Hilário - O Natal e o pardal
O Natal e o Pardal, que saudades ai! ai!
O búzio tocou repetidas vezes. Meia hora mais tarde, na taberna do “ti Júlio”, em frente à sacristia, foi feita a contagem do pessoal e verificada a presença dos elementos chave.
Pegámos em duas carretas de bois, mas puxadas e empurradas pela rapaziada, até ao Azinhal, em busca de duas azinheiras e um sobreiro, previamente pedidos ao dono, para o lume do Natal.
Naquela época ainda não havia moto-serras. Toca a puxar pelo serrote e com machadadas desordenadas, lá fomos transformando as velhas árvores secas, em compridos toros que o lume havia de devorar.
O lume foi feito, aliás como sempre, no pequeno largo em frente da igreja. Toda a tarde choveu e a noite previa-se ainda pior. Enquanto as mulheres e as moças em casa faziam as filhozes e as azevias, era tradição e ainda é, os rapazes nascidos no mesmo ano juntarem-se, para à volta do braseiro, assar qualquer coisa e aconchegar o estômago, pois as couves com o azeite por cima, em plena juventude, com tripa de pato, já tinham ido barroca abaixo e a noite era longa.
Uma linguiça e um copo de três vinham mesmo a calhar. Na pequena taberna não se conseguia lá entrar, a chuva caía a cântaros, o lume ia-se apagando lentamente e a barriga a dar horas. Podia lá ser uma noite tão especial, depois de um esforço hercúleo, nem lume nem petisco.
-Dê o mal para onde der, sem petisco é que não pode ser, disse o magricela do”Espiga”.
-Ir à procura de uma galinha, ou melhor ainda, de um galo é que vinha mesmo a calhar.
-Aqui bem perto está um na oliveira da Fonte da Bica, disse “Mangas”. O Pardal desapareceu, da taberna, voltando pouco depois com um enorme “galarous” debaixo do casaco.
Entretanto o lume tinha-se apagado por completo.
Pela cabeça de todos nós passou a mesma ideia. Só faltava mais esta! E agora?
O “Galhofas” encontrou a solução. - "Calma rapaziada, na casinha semi-abandonada, onde a minha mãe guarda as velharias, talvez a gente se desenrasque" . Excelente ideia. Aprovada por unanimidade.
Lá fomos mais ligeiros que um sargento de infantaria. Mas um galo assado, mesmo grande como era aquele, para tanta malta, com dezassete anos e cheios de apetite não chegava, só se o fizermos guisado, assim já chega. Essa é boa. As trempes, caçarola, lenha, batatas, cebolas, louro e alhos, há aqui, mas o azeite a estas horas da noite?
-Desse assunto trato eu - disse o “Pardal” convictamente. Passado pouco tempo apareceu o bom do “Pardal” com uma almotolia quase cheia. Foi o delirio.
Já com a barriguinha cheia, o “Clarinete” perguntou ao “Pardal”:
-Onde diabo foste tu arranjar o azeite que tem um gosto esquisito?
-À igreja.
-Não tens raça de vergonha! Roubar a igreja vejam bem.
-Estás enganado, não roubei nada.
Com o lume do Natal apagado, vi que dentro da igreja havia uma luz muito fraquinha, quase a apagar-se. Resolvi entrar e por mais azeite nas lamparinas, para que os santos ficassem alumiados durante toda a noite.
O S. Simão até sorriu e a Nossa Senhora do Rosário de Fátima, com o seu bondoso olhar, autorizou-me a trazer o resto, mas eu prometi-lhes que a minha avó amanhã manda repor o que se gastar hoje. Afinal não é ela quem lá põe o azeite durante todo o ano? E este sempre foi bom ser gasto, pois já tem alguns anos.
Entretanto deixou de chover, a noite tornou-se mais acolhedora, cada um foi à procura do “vale de lençóis”, já a pensar no baile à noite, no salão do “ti Reizinho”.
* José Hilário
17.12.24
NISA: A festa de Nossa Senhora do Pé da Cruz em 1905
No dia 9 (de Maio) teve logar n´esta villa a festa em honra de Nossa Senhora do Pé da Cruz, promovida este anno pelo nosso amigo Victorino d´Almeida, hábil regente da phylarmonica nizense.
Já na véspera tinha havido arraial tocando alli até à meia noite a referida phylarmonica, que se houve à devida altura dos seus créditos, deliciando-nos com trechos de varias óperas, que foram muito aplaudidos pela numerosa assistencia. O nosso amigo Victorino executou com muito mimo e bom gosto uma valsa obrigada a cornetim, que foi, ao terminar, coberta por uma salva de palmas.
No dia seguinte, pelas 10 horas da manhã sahiu o peditório acompanhado pela mesma musica e que percorreu a villa e arrabalde, sendo muito satisfatório o resultado.
Pelas 11 horas foi levada processionalmente a imagem de Nossa Senhora, para a egreja Matriz, onde em seguida teve logar a missa cantada.
Ao evangelho subiu ao púlpito o nosso amigo padre José Diniz, onde, num bem elaborado discurso, pôz em relevo a consagração que todos os povos ainda os mais longínquos, tributam à Mãe de Deus. Dotado de boa voz, e de boa figura, o senhor padre Diniz deixou-nos agradável impressão.
Depois do acto religioso, voltou ao Calvário a procissão, onde iam incorporados quatro anjos muito bem vestidos, vários devotos com opas e grande quantidade de povo. Levava o pendão o senhor Guerra que mais tarde foi entregue ao festeiro que no próximo anno realiza esta solenidade.
De tarde, na ocasião da venda de ramos, tocou no coreto a phylarmonica Nizense, com a correcção que lhe é peculiar.
A comissão que no próximo anno faz esta festa, é composta dos seguintes cavalheiros: Victorino d´Almeida, Viriato da Conceição Carvalho, Augusto Chagas, António Maria e João Piçarra.
• Noticias de Rodam – 4 de Junho 1905
FOTO: Capela da Senhora do Pé da Cruz (Caminha)
16.12.24
15.12.24
MEMÓRIA(S): Textos do "Jornal de Nisa" - O Cantinho do Emigrante
O SONHO
Eu sonhei. Um sonho tão lindo, como se fosse uma luz brilhante a invadir-me a alma e me falava tão suavemente, com uma voz de bondade e de amor, pedindo-me que nas minhas orações rezasse pela paz no mundo. Ao mesmo tempo, esta luz movia-se, como se fosse uma estrela cadente a desaparecer no horizonte, como a querer ensinar-me o caminho a seguir. Nisto, estremeci e acordei assustado, como se fosse um pesadelo, encontrando-me lado a lado da minha esposa.
Já não consegui adormecer, meditando naquelas palavras tão doces vindas do céu, e acorreu-me à memória as atrocidades das guerras e as tristes recordações que eu vivi na “guerra do Ultramar”, entre fomes e desgraças que temos vindo a acompanhar ao longo dos anos.
Os conflitos, as catástrofes e outras calamidades não saíam da memória, chegando mesmo a pensar: será que estamos perto do fim do mundo?
Será, este meu sonho, uma mensagem enviada pela providência divina? Se assim for, pedia a toda a humanidade que não tenham ódios e saibam perdoar aqueles que pecaram, porque “Deus é Amor e Bondade”, e Ele não quer que nós vivamos sem ter Paz e Alegria.
Eu sei que sou filho do pecado e como pecador que sou, reconheço que traí a amizade de algumas pessoas, por isso, peço perdão àqueles que eu fiz sofrer. Não sou maldoso nem perverso e até tenho a impressão que não sou o homem que escreve estas palavras, tentando procurar explicações ao que me aconteceu.
“Todos somos iguais e todos somos diferentes”. Questionando: Cristo foi o homem mais perfeito do mundo e também não agradou a todos, porque foi a opinião pública que o crucificou, por isso todos nós temos o dever de se arrepender para podermos sentar-nos a seu lado.
Não estou aqui como profeta, nem para ensinar a doutrina, mas sim a ajudar-vos a preparar a vida que o destino nos traçou. Seja amigo do seu inimigo; ajude os mais necessitados e aconselhe os que andam mal guiados. A violência provoca a morte e a serenidade prolonga a vida. Evitem a vingança, porque esta é um pecado mortal, pois a justiça faz-se com as palavras e não com as acções, até porque são as boas palavras que conquistam os corações. Por esta razão eu nunca irei esquecer aquela luz que penetrou dentro de mim e que chocou a sensibilidade do meu coração, dizendo: “Jesus morreu para nos salvar…”
Sejam prudentes e tenham consciência no momento da escolha. Não se deixem iludir, nem convencer com o blá. blá, blá desta gente, porque a religião verdadeira é só uma.
Não é raro ver-se pessoas que recorrem aos adivinhadores (bruxos) quando a vida lhes corre mal, ou porque o bem amado os abandonou. Na realidade, deviam afastar-se dessas coisas, para não enriquecerem a “força do Diabo”.
Que me perdoem, mas é a inspiração ou a força da vocação que me conduz a escrever estas linhas e deixo-vos com uma citação:
“Para ser bem amado, seja amoroso, domine o orgulho e o rancor, e depois verá que viverá feliz.”
• António Conicha - “Jornal de Nisa” nº 203 – 15 Março2006
OPINIÃO: A Questão da Palestina e a crise moral da indiferença
“Onde vocês estavam que deixaram isto acontecer?” Esta talvez seja uma das perguntas que as gerações futuras farão aos seus pais quando conhecerem a história do tempo presente e das investidas israelenses contra Gaza e contra o Líbano. Ao que os pais, encabulados, responderão: “o ‘conflito’ israelo-palestino é complicado demais” ou, ainda, se abrigarão sob uma estória de disputa que sempre existiu - mas que em verdade foi produzida apenas no século XX. A insustentabilidade da guerra presente nos oferece uma oportunidade urgente – talvez já vencida - de balanço sobre o que a civilização humana se dispõe a permitir que seja feito em seu nome – e por quê o autoriza.
As guerras recentes estão inseridas em disputas de natureza estrutural. Disto decorre a impossibilidade da garantia da paz no Oriente Médio sem uma solução permanente para a Questão da Palestina, endereçando as causas fundantes da violência política dela resultante. A convivência pacífica somente poderá ser resgatada na medida em que sua autodeterminação seja garantida, assim como seu direito a um Estado livre, autônomo, democrático, inclusivo e soberano, assegurando o direito de retorno, memória, reparação e de reforma institucional equitativa.
Com dezenas de milhares de vidas ceifadas, o esforço de reconstrução – material e institucional – somente poderá ser empreendido com um cessar-fogo negociado e imediato. A proteção de civis, suas instalações e direitos deve ser garantida sem restrições ou condicionantes. O mesmo vale para o respeito às leis humanitárias e ao direito internacional. Para tanto, se faz imperativa a suspensão imediata da venda de armas, seus componentes e munições – inclusive brasileiras - ao governo israelense.
Completado um ano da guerra, somam-se dolos contra a humanidade e crimes de guerra denunciados por agências internacionais, em franca violação às Convenções de Genebra e ao direito internacional humanitário consuetudinário. Eles incluem o uso de força desproporcional contra civis e infraestrutura civil, ausência de distinção e/ou dano intencional aos chamados indivíduos protegidos, transferência populacional forçada, restrição à entrada de alimentos, remédios, eletricidade e água, resultando em emprego de punição coletiva, e o uso ilegal de munições incendiárias de implementação restrita a zonas não civis. Por fim, a não salvaguarda e preservação do patrimônio, propriedades e instituições culturais violam a Convenção de Haia para a Proteção de Propriedade Cultural.
A permissão gratuita da morte indiscriminada nos coloca defronte à crise moral moderna e de valores humanos fundamentais. Pois se a própria sociedade internacional construiu, coletiva e democraticamente, os instrumentos multilaterais do direito internacional e suas convenções sob a égide da garantia dos direitos fundamentais dos homens e dos cidadãos, sua apatia quando estes mesmos direitos estão sendo francamente violados postula, no mínimo, um colapso institucional, moral e valorativo.
É urgente que a humanidade, representada pelos diferentes países e seus governantes, passem a agir como se as gerações futuras estivessem aqui, como se estivessem observando atentos tudo o que herdarão. O futuro é agora.
Que esta crise convide a comunidade internacional a abandonar o excepcionalismo reservado à Israel, renunciando a qualquer tipo de seletividade ao empenhar-se em garantir equidade quanto ao direito à vida, à liberdade e à humanidade. Talvez então possamos dizer aos nossos filhos, não encabulados ou cabisbaixos, mas orgulhosos, que tivemos a coragem – ainda que tardia - de estar do lado certo da história. Resta-nos questionar se ainda haverá tempo suficiente para tanto.
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Natalia Calfat (Doutora em Ciência Política e presidente do Instituto da Cultura Árabe); João Baptista Vargens (Professor Titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro e ex-vice-presidente do ICArabe); Soraya Smaili (Professora Titular da Universidade Federal de São Paulo e coordenadora do Centro de Estudos Sociedade, Universidade e Ciência) e Murched Taha (Professor Livre-Docente da Universidade Federal de São Paulo e ex-presidente do Instituto da Cultura Árabe).
13.12.24
OPINIÃO: Lembram-se do menino sírio morto na praia?
A guerra civil na Síria fez, desde 2011, meio milhão de mortes civis, sete milhões de deslocados internos e outros cinco milhões que fugiram para os países vizinhos. E mais de um milhão de refugiados na União Europeia, durante o êxodo de 2015. Talvez o leitor ainda retenha na memória o nome de Alan Kurdi. Não? E se lhe falar da foto de um menino sírio de três anos, de bruços na areia de uma praia da Turquia, morto na sequência do naufrágio do barco insuflável em que a sua família tentava chegar à terra prometida? Um tempo em que, numa Europa ainda solidária, se considerava uma ignomínia levantar uma cerca de arame farpado, para conter gente desesperada, como fez Viktor Orbán na Hungria. Um tempo em que Angela Merkel era chanceler da Alemanha e garantia que a Alemanha (e a Europa) tinha a capacidade e a vontade de acolher todos os deserdados que vinham a caminho.
Nos dias que correm, o equilíbrio de forças mudou. Merkel deixou a chancelaria e Orbán alicerçou o seu poder autocrático em Budapeste. Foi a sua retórica anti-imigração, xenófoba e racista que prosperou no discurso político. Primeiro, nos partidos de direita radical e de extrema-direita. Depois, contaminando o discurso e políticos da direita à esquerda. Hoje, os governos atropelam-se para anunciar a sua indisponibilidade em acolher mais um sírio que seja.
Se o regime caiu e o ditador se refugiou em Moscovo, a Síria passou a ser um lugar seguro. Mesmo que o grupo que tomou o poder em Damasco tenha raízes no terrorismo islâmico. Mesmo que a guerra perdure nos diferentes territórios e entre as diferentes etnias e grupos religiosos desse Estado falhado, mesmo que as infraestruturas, as casas e a economia estejam destruídas. Se não há Assad, não há refúgio, dizem os governos da Suécia, Itália, Grécia, França, Bélgica e até da Alemanha. Na Áustria, prepara-se um plano de deportação.
A memória de Alan Kurdi dissolveu-se na areia de uma praia do Mediterrâneo.
• Rafael Barbosa- Jornal de Notícias -12 dezembro, 2024
12.12.24
10.12.24
MONTALVÃO (Nisa): Apresentação do livro "Perfeito é o Canto das Aves", de Carlos Lucas da Silva.
Apresentação pública no dia 14 de Dezembro (sábado), às 11,30h na Casa do Povo de Montalvão.
Colaboração da Associação Vamos à Vila.
Compareça! Participe!
9.12.24
AVIS: Detidos em flagrante por furto de mais de 500 quilos de azeitona
O Comando Territorial de Portalegre, através do Posto Territorial do Avis, no dia 7 de dezembro, deteve em flagrante três homens e uma mulher, com idades compreendidas entre os 17 e os 48 anos, por furto de azeitona, na localidade do Ervedal, no concelho de Avis.
No seguimento de uma ação de policiamento direcionado para os campos agrícolas, os militares da Guarda surpreenderam os suspeitos no momento em que estavam a apanhar a azeitona sem autorização do proprietário, motivo que levou às suas detenções em flagrante. No seguimento da ação foram apreendidos os utensílios usados para perpetrar o furto, bem como 533 quilos de azeitona furtada, os quais foram restituídos ao legitimo proprietário.
Os detidos foram constituídos arguidos, e os factos foram comunicados ao Tribunal Judicial de Fronteira.
A GNR recorda que se encontra a decorrer a Operação Campo Seguro, cujo objetivo é intensificar a sensibilização, o patrulhamento e a fiscalização nas explorações agrícolas e florestais em todo o território nacional, no sentido de reprimir a prática de crimes de furto de produtos e máquinas agrícolas, crimes de Tráfico de Seres Humanos em contexto laboral e prevenir a ocorrência de acidentes com veículos ou máquinas agrícolas e florestais.
ALENTEJO: Anuário Financeiro distingue Arronches como a Autarquia do distrito com melhor desempenho
O Município de Arronches volta a liderar, no Norte Alentejo, o Anuário Financeiro dos Municípios Portugueses, publicação da Ordem dos Contabilistas Certificados e do Tribunal de Contas.
Presença habitual entre os destaques do documento, que analisa o desempenho financeiro de todas as autarquias do país, a Câmara arronchense está mesmo em primeiro lugar no Ranking Global dos municípios do distrito de Portalegre, resultado da “excelente classificação obtida nos diversos indicadores, apresentando, inclusive, melhorias em alguns desses”, dos quais se destacam: 1.º lugar ex-áqueo nos municípios com menor volume de pagamentos de amortizações de empréstimos – passivos financeiros – em 2023 (0 euros); 1.º lugar ex-áqueo nos municípios com menor volume de juros e outros encargos financeiros pagos em 2023 (0 euros); 7.º lugar nos municípios com menor valor no passivo exigível referenciados pelo ano de 2023 (721.987 euros); 1.º lugar nos municípios com melhor índice de liquidez (2324% – 200/200 pontos); 3.º lugar nos municípios com menor peso do passivo exigível no activo (2,1% – 198/200 pontos); 11.º lugar nos municípios com menor índice de dívida total do município (3,58% – 190/200 pontos); e 2.º lugar nos municípios com melhor grau de execução da despesa relativamente aos compromissos assumidos (178,8% – 199/200 pontos).
De realçar ainda que, a nível nacional, o Município de Arronches aparece em 19.º lugar no Ranking Global dos Municípios de Pequena Dimensão e em 34.º lugar ex-áqueo no total das 308 autarquias portuguesas, melhorando igualmente em relação ao ano transacto.
www.nortealentejo.pt - Dezembro 8, 2024
6.12.24
Esquerda e PAN aprovam voto de pesar pela morte do antifascista Camilo Mortágua
O voto de pesar - que foi lido pela deputada do BE e filha Joana Mortágua, com um cravo na lapela - foi aprovado com a abstenção do PSD e da IL e voto contra do Chega e do CDS.
PS, BE, PCP, Livre e a deputada única do PAN aprovaram esta quinta-feira um voto de pesar pela morte do antifascista Camilo Mortágua, lembrando que “lutou sempre pela liberdade e pela justiça” e enaltecendo o seu papel contra a ditadura salazarista.
O voto de pesar – que foi lido pela deputada do BE e filha do antigo dirigente antifascista Joana Mortágua, com um cravo na lapela – foi aprovado com a abstenção do PSD e da Iniciativa Liberal e o voto contra do Chega e do CDS-PP.
No final da votação, os deputados da esquerda parlamentar e a deputada única do PAN levantaram-se e bateram palmas e foram acompanhados pelos familiares e amigos que estavam presentes nas galerias do hemiciclo.
O texto foi apresentado pela bancada do BE — que inclui as duas filhas, Mariana e Joana Mortágua -, pelos deputados do Livre e por vários parlamentares do PS, entre eles, o secretário-geral, Pedro Nuno Santos, e a líder parlamentar, Alexandra Leitão.
Na iniciativa, é recordado que Camilo Mortágua morreu no passado dia 1 de novembro, aos 90 anos, em Alvito, “terra onde escolheu viver”.
“Antifascista militante, foi protagonista de vários episódios de resistência à ditadura do Estado Novo e foi condecorado por esse percurso como Grande Oficial da Ordem da Liberdade pelo Presidente da República Jorge Sampaio”, é lembrado.
Nascido em Oliveira de Azeméis, Camilo Mortágua emigrou para a Venezuela em 1951 e com “17 anos e a quarta classe, começou por ser padeiro, e aí iniciou a sua militância contra o fascismo”.
A iniciativa refere ainda que Camilo Mortágua “fez parte da Direção Revolucionária Ibérica de Libertação”, em 1961 “participou no assalto ao paquete Santa Maria, sob o comando do capitão Henrique Galvão, e, com Palma Inácio, no desvio de um avião da TAP para lançar sobre Lisboa 100.000 panfletos contra o regime salazarista”.
“Em 1967 participou no assalto à filial do Banco de Portugal na Figueira da Foz, com o objetivo de financiar a atividade antifascista, e esteve na fundação da Liga de Unidade e Ação Revolucionária (LUAR). Apesar de perseguido, nunca foi apanhado pela PIDE”, lê-se no texto.
in www.observador.pt
Foto: Nuno Veiga (Lusa)
5.12.24
PORTALEGRE: USNA/CGTP-IN elege pior empresa do ano de 2024
Este ano a USNA/CGTP-IN recupera a iniciativa de eleição da pior empresa para os trabalhadores, do ano de 2024.
No próximo dia 9 de Dezembro, segunda-feira, entre as 12h e as 14h, será a vez da empresa Evertis/ Selenis ser eleita como a pior do ano para os seus trabalhadores, numa iniciativa junto à empresa, sita na Quinta São Vicente em Portalegre, organizada pela USNA e pelo SITE-SUL - Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Actividades do Ambiente do Sul e pela Interjovem.
O objetivo desta ação é denunciar a forte incidência de acidentes de trabalho que têm acontecido durante o ano de 2024 nesta empresa, um problema que, infelizmente, se encontra ligado às actividades industriais mas que não é desligado do facto de não existir uma contratação colectiva que preveja a melhoria das condições de trabalho, à falta do investimento na modernização da fábrica e o investimento em equipamentos de proteção individual, a falta de formação dos trabalhadores em matéria referente à saúde e segurança no trabalho e que contrarie a intensificação dos ritmos de trabalho e a exploração.
4.12.24
3.12.24
MEMÓRIA(S): S. SIMÃO: Nome de Adriano Tremoceiro em rua de Vinagra
Foi uma cerimónia simples mas repleta de simbolismo, homenagem e saudade, a realizada no passado sábado, dia 1 de Novembro e que reuniu autarcas da freguesia de S. Simão, moradores de Vinagra, amigos e familiares de Adriano Carrilho Tremoceiro cuja evocação e memória fica assinalado em placa de granito numa das ruas da sua aldeia natal, a Vinagra.
A escolha dos dois nomes que agora passam a integrar a toponímia de S. Simão foi feita e aprovada por unanimidade em reuniões da Junta e da Assembleia.
S. Simão foi, justamente, o outro nome escolhido para uma de rua de Vinagra e coube à proponente, Paula Carrilho, descerrar a bandeira da freguesia e mostrar, esculpida no granito, a designação que, ora em diante, a rua passa a ter.
4 Novembro 2008
LEGENDAS DAS FOTOS: 1- Paula Carrilho inaugura Rua de S. Simão
2 - Familiares de Adriano Tremoceiro não faltaram à homenagem
2.12.24
S. SIMÃO (Nisa) - Olhares da natureza
Duas magníficas fotos de Armando Gaspar com locais da freguesia de S. Simão. Pode ver mais fotos da região em https://armandogaspar.blogspot.com
GAVIÃO: Exposição evoca papel das mulheres na Resistência à ditadura
"𝐌𝐮𝐥𝐡𝐞𝐫𝐞𝐬 𝐞 𝐑𝐞𝐬𝐢𝐬𝐭𝐞̂𝐧𝐜𝐢𝐚 - 𝐍𝐨𝐯𝐚𝐬 𝐜𝐚𝐫𝐭𝐚𝐬 𝐏𝐨𝐫𝐭𝐮𝐠𝐮𝐞𝐬𝐚𝐬 𝐞 𝐨𝐮𝐭𝐫𝐚𝐬 𝐥𝐮𝐭𝐚𝐬"
📅 27 de novembro a 17 de dezembro de 2024
📍 Biblioteca Municipal de Gavião
1.12.24
27.11.24
PCP SAÚDA: 10 Anos da inscrição do cante alentejano como Património Cultural Imaterial da Humanidade
Nota à imprensa do Executivo da Direcção Regional do Alentejo do PCP
1 - Assinalam-se hoje 10 anos sobre a data em que o Comité Internacional da UNESCO inscreveu o cante alentejano como Património Cultural Imaterial da Humanidade.
Tal conquista - motivo de orgulho e de grande satisfação para os alentejanos e para todo o povo português - constituiu um justo reconhecimento e valorização da relevância patrimonial do cante alentejano; do seu valor excepcional como símbolo identificador da região do Alentejo e identitário dos alentejanos; do seu enraizamento profundo na tradição e história cultural do País; e da sua importância como fonte de inspiração e de troca intercultural entre povos e comunidades.
Tal como o PCP afirmou então, tal reconhecimento contribuiu para a salvaguarda e a promoção do cante alentejano enquanto genuína expressão cultural de um povo, bem como para o surgimento de novos projectos musicais, culturais, académicos e turísticos que deram e continuam a dar um importante contributo para a promoção e defesa da cultura alentejana, do desenvolvimento e projecção do Alentejo e do País.
2 - O cante alentejano, canto colectivo sem recurso a instrumentos, que incorpora música e poesia, é uma expressão cultural de enorme força, beleza, identidade e consistência, profundamente ligada à vida e tradições do povo e dos trabalhadores, bem como à sua luta contra as injustiças, pela democracia e o desenvolvimento do Alentejo.
No ano em que se comemoram os 50 anos da Revolução de Abril, e quando o PCP e outras forças e personalidade democráticas iniciam as comemorações dos 50 anos da reforma agrária, a Direcção Regional do Alentejo (DRA) do PCP recorda as palavras do escritor e poeta José Gomes Ferreira: "Nunca vi um alentejano cantar sozinho com egoísmo de fonte. Quando sente voos na garganta, desce ao caminho da solidão do seu monte, e canta em coro com a família do vizinho. Não me parece pois necessária outra razão - ou desejo de arrancar o sol do chão - para explicar a reforma agrária do Alentejo. É apenas uma certa maneira de cantar."
3 - A DRA do PCP saúda vivamente os cantadores alentejanos, os seus inúmeros grupos corais, as colectividades, associações e instituições que os enquadram e apoiam, os seus dirigentes e activistas. Felicita e valoriza a contribuição de todos os que se têm empenhado na defesa, salvaguarda, promoção e inovação do cante alentejano, com resultados extraordinários na sua afirmação como uma das mais reconhecidas e atractivas expressões culturais portuguesas no plano nacional e internacional.
4 - A DRA do PCP recorda, e saúda vivamente os promotores da candidatura lançada em 2012, dos quais se destaca, com inteira justiça, a Câmara Municipal de Serpa que dinamizou a candidatura nos planos regional, nacional e internacional, mobilizando e nela envolvendo numerosas entidades – desde grupos corais até outros municípios e freguesias, passando por musicólogos, antropólogos, cineastas e outros especialistas – e criando a Casa do Cante, em Serpa, responsável pelo acompanhamento do processo.
5 - Reafirmando que a elevação do cante alentejano a Património Cultural Imaterial da Humanidade é uma conquista de todo o povo alentejano e uma vitória de todos os que nela se empenharam, a DRA do PCP sublinha simultaneamente, e com orgulho, o permanente apoio ao Cante por parte dos comunistas nas autarquias, na Assembleia da República e no Parlamento Europeu, recordando que o PCP contribuiu de variadas formas e com várias iniciativas de massas e institucionais para essa grande conquista.
A DRA do PCP reafirma o compromisso e o empenho dos comunistas na defesa, salvaguarda e promoção do Cante Alentejano, e de forma geral de todas as expressões da riquíssima cultura do Alentejo, compromisso bem patente em várias iniciativas e projectos que as autarquias geridas pela CDU têm em desenvolvimento, das quais se destaca a Capital Europeia da Cultura – Évora 27.
27 de Novembro de 2024
O Executivo da Direcção Regional do Alentejo do PCP
26.11.24
OPINIÃO: O elogio da esquerda etiquetária pela direita
Em nome da fantasia de um exército de robots obedientes a algum grande educador do proletariado, a esquerda conservadora propõe na Alemanha a deportação de imigrantes.
Devia-nos escorrer uma lágrima furtiva quando lemos os carinhosos analistas que exigem à esquerda que regresse à “velhinha luta de classes”, agora “propriedade” da direita, pois o “vírus” democrata foi “capturado por grupelhos anticapitalistas”. O eterno Fukuyama é citado por Teresa de Sousa para provar que o que condenou Kamala foi a “protecção exclusiva de um conjunto de grupos marginalizados: minorias raciais, imigrantes, minorias sexuais, etc.”. E acrescenta ela com condescendência: “O problema não está em que estas preocupações não sejam justas, que são”. São mas não são e não podem, aqui aplica-se a filosofia da famosa rábula do Ricardo Araújo Pereira.
As minhas teses contra estes conselhos comoventes são, primeiro, que são uma fraude para incensar Trump e, depois, que tentam empurrar a esquerda para uma marginalidade etiquetária conveniente à direita.
Apaziguar Trump?
A pantomina começa por apresentar o Partido Democrata (PD) como a esquerda. O PD foi o partido dos esclavagistas durante a guerra civil; 70 anos depois, mesmo com a sua supermaioria, Roosevelt desistiu de uma lei federal contra os linchamentos porque os senadores democratas sulistas não o permitiriam. A perda dessa influência territorial e a pressão dos direitos civis mudou o mapa partidário, mas não a fidelidade a Wall Street: foi Clinton quem determinou o fim da lei do New Deal no controlo bancário e Kamala vangloriou-se da chancela da Goldman Sachs no seu programa. Chamar esquerda ao PD, ou fantasiar que representou os trabalhadores, é um insulto mal recebido pelos seus chefes.
Num país dividido ao meio pelo bipartidarismo, tanto democratas como republicanos sempre tiveram povo e é uma pirueta apresentar Trump como o portador da tal nova “luta de classes” colonizada pela direita. E, como é bom de ver, os lusos “proprietários da luta de classes” olham para o salário como a abominação que reduz o lucro. Nisso coerentes, a sua “luta” é pela redução do IRC ou, como notava o bilionário Warren Buffett, é para pagar menos IRS do que a sua secretária. Temo aliás que este amor pela “classe” seja de pavio curto e que volte à fábula meritocrática do elevador social, minúscula arca de Noé onde não cabe classe alguma.
O facto é que os “proprietários da luta de classes” se refugiam no discurso poltrão sobre a culpa woke para justificarem Trump. Afinal, repetem, ele tocou o coração do povo, oferecendo o identitarismo MAGA e a esperança dos descamisados. No entanto, bastaria olhar para a galeria de horrores do séquito para notar que o trumpismo é o poder de uma casta económica e procura impor a necropolítica, pobres descamisados que são carne para canhão. Por isso, a política de apaziguamento dos que endeusam o homem, que já deu mau resultado no passado, não será melhor agora: o que ela prova, como se verifica no fim do cordão sanitário francês ou na nomeação de Rutte para a NATO às costas do Governo de extrema-direita, é que a direita clássica desliza para o trumpismo.
Arrumados no beco?
O trumpismo é um identitarismo brutalista, dirigido por um fascista, com traços teocráticos e subordinado à pilhagem do país por uma elite empresarial, cujo ícone é Elon Musk, que investiu 119 milhões e ganhou 26 mil milhões com a eleição. Esta vaga crescerá. É o que me leva ao meu segundo ponto: a resposta da esquerda só pode ser a disputa da maioria, o que exige que crie a certeza social de que é ela que garante liberdade e segurança.
Assim sendo, face à ameaça civilizacional, é só curiosa a tentativa dos apaziguadores de nos pedirem um regresso ao passado. Ora, uma esquerda declarativa e cerimonial – etiquetária, portanto – só serve para o consolo da direita. Ela é inútil, nenhuma muralha de Jericó cairá com as trombetas das proclamações sobre o partido-guia. O modelo dessa política etiquetária já foi experimentado de todas as formas e só conduziu a sectarismo e auto-satisfação desarmante, enquanto a luzinha que brilhava numa janela do Kremlin para iluminar a humanidade se extinguiu às mãos dos dirigentes feitos oligarcas. Esse passado é um beco onde morreu a saudade.
Entretanto, em nome da fantasia de um exército de robots obedientes a algum grande educador do proletariado, a esquerda conservadora propõe na Alemanha a deportação de imigrantes e noutros países opõe-se à paridade entre homens e mulheres ou a medidas de transição energética.
Pois pergunto então que sentido teria a esquerda abandonar a maioria do povo, que são mulheres, ou renunciar aos direitos humanos, ou entregar o futuro ao capitalismo fóssil? Ou se, quando em Portugal se fez o referendo que despenalizou o aborto, havia outra prioridade da luta de classes? Ou se o país ficou pior por ter aprovado o casamento gay, que enfureceu a direita, a hierarquia religiosa e, já agora, muitos populares? É precisamente por disputar o único imaginário universalista que resta – liberdade e igualdade – que a esquerda deve rejeitar o etiquetarismo e juntar todos os setores populares que disputam os seus direitos.
Num tempo em que há menos sindicalizados do que precários e trabalhadores por turnos, ou migrantes, ou quando há mais manifestantes nas marchas LGBT+ do que no 1.º de Maio em todas as cidades menos uma, essa inclusão é uma condição para restabelecer a capacidade de acção colectiva da classe trabalhadora – e deve ser o seu programa.
Mais ainda, se a segurança da vida boa, dos bens comuns, da saúde à escola, e dos bens essenciais, o salário e a casa, é a base do projeto socialista, tal transmutação democrática só vencerá se for a expressão de uma aliança maioritária. Essa é aliás a razão pela qual setores da esquerda norte-americana, refugiados no seu próprio etiquetarismo sem alternativa política, prejudicam o combate pela igualdade ao substituírem a luta social pela ideia de que a experiência pessoal do trauma é a fonte da autoridade discursiva ou que o cancelamento pode estabelecer a regra da praça pública.
Contaminada pelo abismo intoxicante das redes sociais, essa esquerda é profundamente individualista e desiste do sentido da comunidade, que é a essência do universalismo socialista. Sim, Trump ensina-nos alguma coisa: a não desistir de toda a luta de classes que enfrenta o capitalismo real.
• Francisco Louçã
** Artigo publicado no jornal Público a 18 de novembro de 2024
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