15.12.24

MEMÓRIA(S): Textos do "Jornal de Nisa" - O Cantinho do Emigrante

O SONHO Eu sonhei. Um sonho tão lindo, como se fosse uma luz brilhante a invadir-me a alma e me falava tão suavemente, com uma voz de bondade e de amor, pedindo-me que nas minhas orações rezasse pela paz no mundo. Ao mesmo tempo, esta luz movia-se, como se fosse uma estrela cadente a desaparecer no horizonte, como a querer ensinar-me o caminho a seguir. Nisto, estremeci e acordei assustado, como se fosse um pesadelo, encontrando-me lado a lado da minha esposa. Já não consegui adormecer, meditando naquelas palavras tão doces vindas do céu, e acorreu-me à memória as atrocidades das guerras e as tristes recordações que eu vivi na “guerra do Ultramar”, entre fomes e desgraças que temos vindo a acompanhar ao longo dos anos. Os conflitos, as catástrofes e outras calamidades não saíam da memória, chegando mesmo a pensar: será que estamos perto do fim do mundo? Será, este meu sonho, uma mensagem enviada pela providência divina? Se assim for, pedia a toda a humanidade que não tenham ódios e saibam perdoar aqueles que pecaram, porque “Deus é Amor e Bondade”, e Ele não quer que nós vivamos sem ter Paz e Alegria. Eu sei que sou filho do pecado e como pecador que sou, reconheço que traí a amizade de algumas pessoas, por isso, peço perdão àqueles que eu fiz sofrer. Não sou maldoso nem perverso e até tenho a impressão que não sou o homem que escreve estas palavras, tentando procurar explicações ao que me aconteceu. “Todos somos iguais e todos somos diferentes”. Questionando: Cristo foi o homem mais perfeito do mundo e também não agradou a todos, porque foi a opinião pública que o crucificou, por isso todos nós temos o dever de se arrepender para podermos sentar-nos a seu lado. Não estou aqui como profeta, nem para ensinar a doutrina, mas sim a ajudar-vos a preparar a vida que o destino nos traçou. Seja amigo do seu inimigo; ajude os mais necessitados e aconselhe os que andam mal guiados. A violência provoca a morte e a serenidade prolonga a vida. Evitem a vingança, porque esta é um pecado mortal, pois a justiça faz-se com as palavras e não com as acções, até porque são as boas palavras que conquistam os corações. Por esta razão eu nunca irei esquecer aquela luz que penetrou dentro de mim e que chocou a sensibilidade do meu coração, dizendo: “Jesus morreu para nos salvar…” Sejam prudentes e tenham consciência no momento da escolha. Não se deixem iludir, nem convencer com o blá. blá, blá desta gente, porque a religião verdadeira é só uma. Não é raro ver-se pessoas que recorrem aos adivinhadores (bruxos) quando a vida lhes corre mal, ou porque o bem amado os abandonou. Na realidade, deviam afastar-se dessas coisas, para não enriquecerem a “força do Diabo”. Que me perdoem, mas é a inspiração ou a força da vocação que me conduz a escrever estas linhas e deixo-vos com uma citação: “Para ser bem amado, seja amoroso, domine o orgulho e o rancor, e depois verá que viverá feliz.” • António Conicha - “Jornal de Nisa” nº 203 – 15 Março2006