31.1.22

NISA: Conheça os Poetas do Concelho (III) - Júlio Baptista Morujo


 Morte de um contrabandista 
O pobre do João Toureiro
Já do mundo se despediu
No dia 20 de Fevereiro
Desapareceu no meio do rio

Pela fome foi obrigado
Ir a ver do inimigo
Nunca pensando no perigo
Que ia morrer afogado
Foi por uma corda enleado
Seguro por um companheiro
No centro do rio traiçoeiro
Nada lhe pode valer
Ali teve de morrer
O pobre do João Toureiro

E a sua mãe gritava
Sobre aquelas fortes águas
Com o peito cheio de mágoas
Pelo filho que não se avistava
Tanta coisa que arremessava
Daquelas que a água cobriu
Só o João nunca mais se viu
Depois que marchou prá fundura
Ninguém lhe sabe a sepultura
Já do mundo se despediu.

A sorte daquele desgraçado
Deus queira que ninguém alcance
Já se lhe fazia um romance
Sobre os passos que se lhe têm dado
Ele deve estar descansado
Enterrado nalgum nateiro
Sem se lembrar de pão nem dinheiro
Nem do passo que se lhe passou
Foi ele próprio quem se afogou
No dia 20 de Fevereiro.

Ficaram filhos e mulher
Neste mundo ao desdém
Agradecendo a quem lhe faz bem
À espera do que Deus quiser
Nunca mais poderá ser
Aqueles infelizes terem brio
Lembram-se no que o pai se viu
Numa morte tão de repente
Que diante de tanta gente
Desapareceu no meio do rio.

* Júlio Baptista Morujo (Júlio Ribeira)