23.1.22

OPINIÃO: Então do que estamos à espera?

 
Existem conceitos que já são dados adquiridos; refiro-me aos direitos humanos. É por causa disso, que quase à boca das urnas, não consigo deixar de ficar de boca aberta, quando me apercebo que um partido político sem um programa exequível e com muitas manobras perigosas, tem pretensões a ser a terceira força política no parlamento.
Ficava dececionado comigo mesmo, que até tenho amigos adeptos do Chega, se não desse o meu testemunho para os ajudar a libertar deste tipo de vigarice política. A origem deste partido, cujo ideólogo é Diogo Pacheco de Amorim, fundador do movimento terrorista MDLP de extrema-direita, não engana quem esteve sempre atento.
Não falando da origem dos financiamentos, prefiro falar das características dos candidatos do Chega e do que pretendem para o país. Basta percebermos o currículo e a idoneidade de vários candidatos, para percebermos de que tipo de pessoas estamos a falar. Que me perdoem aqueles que realmente são idóneos, mas, também não percebo o que andam a fazer nesta farsa. Confesso que me preocupa a quantidade de pessoas que se curvam perante a demagogia e a mentira.
André Ventura fala a linguagem que muitos adoram, o “futebolês” e o «rambolês» e por isso não é de admirar esta aceitação fanática. Felizmente a agenda do país não é a agenda do Chega. Precisamos discutir os assuntos importantes para o país e não os acessórios, vistos de uma forma extremista e sem elevação. O debate de Ventura com Francisco Rodrigues dos Santos, revelou o pior que podemos assistir na política. O discurso de Ventura, é um discurso de ódio e discriminação.
Não é compreensível que haja partidos que funcionem como seitas e que apesar de “pregarem” o contrário, querem manter as políticas de direita que tantos prejuízos dão à população e ao país. Exemplo disso, são os Visto Gold defendidos pelo PS, pela direita e a extrema-direita, que garantem assim o crime económico e a especulação imobiliária. Outro exemplo está nas privatizações de sectores estratégicos como os CTT, a EDP e a REN; também as parcerias público-privado têm arruinado e atrasado o país. Para quem se diz antissistema, defende o que este sistema tem de pior, a favorecer os mais ricos e a perseguir os mais pobres. E estão prontos para coligar com o sistema…
É importante termos a inteligência de saber distinguir a verdade da mentira, o interesse público, do interesse privado. A escolha do voto está entre proteger os interesses dos milionários, ou os interesses de quem trabalha. Não vale a pena insistir na tese de que temos de abrir uma autoestrada sem limites para o empregador criar postos de trabalho. O equilíbrio é muito importante e esse, não existe. E há partidos que querem desequilibrar ainda mais.
Outra retórica populista do Chega, está em querer cortar nos salários dos deputados e não quer falar do que se gasta com consultadorias e assessorias. Outro exemplo: onde é que a prisão perpétua resolve os problemas da justiça ou do país? Este retrocesso civilizacional é que dá desenvolvimento ao país? E como é que as pessoas não se ofendem, quando Ventura diz que somos um país de vadios? O Chega está a dividir a direita e a dar de bandeja a vitória ao PS; esvazia o CDS e enfraquece o PSD, com isso contribui para o sonho de António Costa em ter a maioria absoluta. E como diz o próprio Costa, “os portugueses guardam más memórias das maiorias absolutas”.
Outro dado preocupante da extrema-direita é falar sem dados concretos[1] e o uso sistemático de notícias falsas. Muitos, deixam-se levar por esta propaganda de notícias de falsos jornalistas e pela publicidade de movimentos negacionistas e nacionalistas. Já agora, porque razão o Papa Francisco irrita tanto a extrema-direita? Homem simples que fala de justiça, amor ao próximo e não de ódio.
Dizer que o PS governou à esquerda quando votou mais ao lado do PSD é outro engano. Outro dado preocupante é comparar, ou encostar o Bloco de Esquerda a governos que dizem ter sido comunistas, sem saberem sequer o que é o comunismo. Não pode valer tudo, é um exercício de extrema ignorância, mas, também de má fé. Por isso, é importante não aceitarmos mentiras e cambalhotas de alguns políticos como o Ventura ao serviço de interesses poderosos.
Se, para André Ventura, a derrota é ficar atrás do BE, então do que estamos à espera?
* Paulo Cardoso - Rádio Portalegre - "Desabafos"21-01-2022

[1] https://www.publico.pt/2022/01/18/politica/noticia/andre-ventura-admite-nao-dados-casos-subsidiodependencia-portugal-bandeiras-chega-1992326