9.1.22

OPINIÃO: Não conseguem aprender

Paternidades | Cartoon editorial da revista de Domingo do CM. - Vasco Gargalo

O ano de 2022 começou com mais um aperto nas nossas vidas. A variante Ómicron tornou-se maioritária e as regras tiveram de ser mais ajustadas, depois de um desaperto folgado. Mas menos folgados, vamos andar nós com a subida generalizada de preços a penalizar o já fraco poder de compra.
Quem conseguiu convencer os mais distraídos, de que a privatização da EDP iria garantir um serviço melhor com melhores preços, burlou; a verdade é que Portugal tem a eletricidade mais cara da Europa a par da Espanha.  Quem defendia e defende a liberalização do mercado com serviços que são de interesse público, tem agora que dar uma resposta séria às populações e assumir a “mea culpa”. Estamos pior!
Certezas temos, de que o Bloco Central, que tem dominado nos dois últimos anos, com António Costa aliado ao PSD e a fazer o manguito à esquerda, continuará a deixar estar, se assim for, o SNS e a Educação depauperados. Este Bloco Central foi o que permitiu um dos maiores crimes económicos em Portugal com a venda da EDP. Manuel Pinho, ministro do PS como protagonista, teve o apoio do PSD e do CDS. Hoje o país e a economia pagam uma fatura muito alta por esta decisão criminosa entre outras. É nas urnas que podemos mostrar através das nossas escolhas se aceitamos ou não, este tipo de políticas, que tanto têm prejudicado o país e os que cá vivem. 
Gostava de acreditar, em especial que a Europa tome a decisão política de combater a corrupção, colocando fim aos criminosos offshore, os alçapões onde pessoas como Rendeiros, Salgados e Pinhos praticam os seus crimes. Bem sabemos que é uma luta contra grandes bancos como o HSBC e o Crédit Suísse; também, que seria impossível permitir a advogados como José Miguel Júdice e consultores como André Ventura, que trabalhem para facilitarem a prática destes crimes.
Com um governo sério e corajoso, será então possível recuperar os milhões escondidos em offshores por todo o mundo e impedir mais fuga de capitais. É preciso combater a corrupção, acabando com os privilégios aos muito ricos e impedir, que tenham ainda mais privilégios como defende a direita e a extrema-direita.
Para este novo ano, gostava de acreditar, também, que vamos levar a sério as questões da pobreza e dos sem-abrigo. Para matarmos a fome a muitos, estamos a enriquecer ainda mais alguns com as campanhas de recolhas de alimentos nas grandes superfícies. Já chega de aproveitamentos com a pobreza, combata-se o problema a sério, sem a caridadezinha. Só me falta ver recolhas de sangue ligadas aos grandes grupos económicos e acreditem, já existem vontades e até ensaios…
Ao fim de quatro décadas de eleições democráticas, as pessoas começam a perceber, finalmente, que não se vota para um primeiro-ministro, mas sim para um parlamento que tem a função de legislar, alterar a legislação ou fazer cumprir a lei. Da maioria parlamentar forma-se o governo que conduz os destinos do país numa legislatura.
Para a próxima legislatura, pede-se um parlamento e um governo, que se preocupem e tomem medidas para as questões ambientais. Ainda hoje, a reciclagem, em especial de óleos, pilhas e lâmpadas não têm suporte prático garantido. Mais, um governo a sério, tem que por travão na “pirataria” que grassa no mundo laboral, que recupera os serviços públicos destruídos ao longo de décadas, em especial por governos PSD/CDS e dar mais dignidade ao SNS e à Educação.
António Costa quer manter o mesmo formato no próximo orçamento, mantendo as leis impostas pela troika, agravadas pela direita e que o próprio PS criticou enquanto oposição, porque roubam-exploram quem trabalha. Concluindo, o PS defende a exploração e a precariedade, com despedimento facilitado. Com isto são os jovens, os mais penalizados.
Para um futuro governo é importante perceber quais são os partidos que vão defender o SNS. Já se percebeu que o PS diz que defende, mas deixa cair, o PSD diz que defende, mas em coligação com o CDS já atacou muito, o Chega já foi contra e agora diz-se a favor, mas quem acredita?
Também gostava que os partidos se manifestassem em relação à sua posição face à União Europeia. Uma coisa é ser-se crítico de algumas políticas europeias, outra, é ser-se antieuropeísta, o que significa ser retrógrado, nacionalista e divisionista.
O futuro está nas mãos de quem decide e esses vão fazer as escolhas. Quem não vota, não decide, não escolhe, não anda cá a fazer nada e depois queixam-se. E aqueles que criticam a política e votam sempre nos mesmos, é sinal que não conseguem aprender…
* Paulo Cardoso - Programa "Desabafos" / Rádio Portalegre - 7/1/2022