26.1.22

OPINIÃO: Rio vai ou não dar a mão a Ventura?

 
1. Ao princípio, as sondagens apontavam para uma vitória do PS. Sem a maioria estável que António Costa pedia.
O líder socialista foi por isso confrontado, por jornalistas e pelos seus adversários, sobre qual seria a sua futura solução de Governo. O mais engenhoso na discussão sobre a governabilidade foi Rui Rio, que fez uma oferta pouco habitual durante uma campanha eleitoral: se o PS estivesse disponível para suportar um Governo do PSD, pelo período mínimo de dois anos, o PSD faria o mesmo perante um Governo minoritário do PS. Encurralado, o líder socialista perdeu o rumo. Da quase súplica pela maioria absoluta (com a nota absurda sobre a vigilância de Marcelo Rebelo de Sousa), à promessa de governar "à Guterres", que na política portuguesa é sinónimo de pântano, Costa cortou todas as pontes à Esquerda e à Direita. E, também por isso, as sondagens começaram a apontar para uma hipótese que, há dois meses, parecia meramente académica: a vitória do PSD e de Rui Rio.
2. A sondagem publicada pelo JN na terça-feira, apesar de resultar no que se chama empate técnico, mostra o PSD ligeiramente à frente (seis décimas) a uma semana das eleições. E ainda mais significativo: que os sociais-democratas estavam a crescer e os socialistas a encolher. Mas também indica (como aliás todas as outras), que, ganhe quem ganhe, não haverá maiorias absolutas. É tempo de Rui Rio esclarecer com quem vai assegurar a governabilidade, se vier a ser primeiro-ministro. Sem ignorar o elefante instalado na sala da Direita. O líder do PSD já disse, é certo, que não aceitará o Chega num Governo. Mas não é só disso que se trata. A geringonça, que critica de forma tenaz, também não resultou em ministros bloquistas e comunistas. Rui Rio tem de esclarecer se está disponível para um acordo parlamentar; se está a contar com os votos do Chega para fazer passar um programa de Governo; ou se André Ventura poderá ser chamado a negociar futuros orçamentos do Estado. No fundo, esclarecer se o PSD, que Rio diz começar no centro-esquerda, tem alguma fronteira, ou se, em nome da conquista do poder, está disposto a integrar a extrema-direita.
* Rafael Barbosa in Jornal de Notícias 26/1/2022
** Cartoon de Henrique Monteiro in https://henricartoon.blogs.sapo.pt