4.1.22

OPINIÃO: Natal que não é para todos

Segundo os Censos 2021, Portugal perdeu mais de duzentos mil habitantes e continuamos a envelhecer. Regista-se ainda, que 43,4% da população é solteira e que cada vez mais as pessoas vivem sozinhas; há mais divorciados do que viúvos. Portugal é um dos países da Europa com maiores índices de envelhecimento e de desigualdade.
Enquanto falta para o que é essencial, o dinheiro continua a fugir indevidamente para os mesmos de sempre. Bruxelas denunciou benefícios fiscais indevidos, no III regime da Zona Franca da Madeira, onde empresas receberam benefícios fiscais sem qualquer controlo, sistema defendido por PS, PSD e CDS. E quando no parlamento no passado dia 19 se votou o pacote de medidas anticorrupção e da criminalização da riqueza injustificada nos cargos políticos, que tanto lesam as finanças públicas, André Ventura faltou à chamada para poder confraternizar com neofascistas em Bruxelas.
O caso Rendeiro é um exemplo de como tudo é possível, num país onde faltam meios para a investigação e controlo judicial, quando os governos que temos tido, teimam em permitir a corrupção ligada aos grandes grupos económicos, enquanto outros faltam às suas responsabilidades.   
É sabido que os baixos salários dão origem a um país pobre, com crescimentos medíocres. A diferença do governo Costa em relação aos do PSD/CDS, tem a ver com esta visão, mas perante a situação atual, exigia-se um PS mais arrojado que não falasse apenas em querer tirar milhares de pessoas da pobreza até 2030, sem ser consequente. Acontece que a realidade é negra e o risco de pobreza aumenta, a afetar em especial as mulheres idosas.
Nas melhores prendas deste ano, destaca-se de longe a vacina da covid-19, mas a guerra ainda não está ganha e os negacionistas são uma pedra no sapato da solução. Alguns e até de “proa”, começam a recuar depois de infetados. A maior parte dos infetados internados, são, não-vacinados. Outra boa prenda, foi o afastamento de Trump, que de per si deu um pouco mais de dignidade à política internacional, mas outros maus exemplos continuam a espalhar indecência.
Nas piores prendas, tivemos o orçamento chumbado porque não serve o país; o vulcão em La Palma agora a dar tréguas e que provocou a evacuação de milhares de pessoas; as questões ambientais que continuam sem solução à vista, com destaque para a desflorestação na amazónia, com Bolsonaro a ilustrar o pior que existe na liderança de um país. O ano termina com a notícia vergonhosa, mais uma vez a denunciar a forma miserável como os emigrantes no concelho de Odemira são tratados. Sete militares da GNR foram constituídos arguidos por terem abusado da autoridade, humilhando e abusando de forma sádica, quem tenta sobreviver a trabalhar em Portugal.
E para 2022, o que podemos esperar? A continuidade na luta contra a covid-19, com as medidas a serem agravadas depois de amanhã. A variante Ómicron, veio atrasar os progressos que já tínhamos alcançado com a vacinação. Os contágios, agora são mais fáceis e a taxa do índice de transmissibilidade (RT) está a assustar. Agora é importante investir no rastreamento e continuar o processo de vacinação.
Muitas famílias já estão a limitar as suas festas de Natal e as passagens de ano já estão comprometidas. Ainda assim, sabemos que muitas pessoas vão abusar e que em janeiro do próximo ano vamos ter, decerto, más notícias.
Estamos no Natal, uma época em que se gasta acima das necessidades e muitas vezes das possibilidades, uma atitude contraditória para comemorar o nascimento de quem viveu a pregar a partilha e o repúdio pela grandeza. Se dependesse de Jesus, os Salgados, Rendeiros e Pinhos deste país tinham o inferno garantido, caso ele existisse.
Aquecimento no natal não é para todos, a comida na mesa, também não e, a segurança nos convívios ainda não existe. Depois temos a disputa por mesas de Natal com as famílias a dividirem-se e a exibição nas redes sociais, de mesas fartas, lareiras acesas, muitas prendas, em contraste com muitas tristes realidades, num Natal que não é para todos.

Paulo Cardoso - Programa "Desabafos" / Rádio Portalegre - 24/12/2021