4.4.21

OPINIÃO:Tudo devagar, tudo a conta-gotas

 

À entrada do fim de semana da Páscoa, e nas vésperas de começarmos a desconfinar, fica a sensação de termos dobrado o Cabo das Tormentas e que vamos abrir caminhos de Boa Esperança. Mas é uma falsa sensação. Essa sim, como diria Graça Freitas, "uma falsa sensação de segurança".
É preciso refrear as expectativas. E refrear duas vezes, antes de sermos obrigados a "puxar o travão", usando as palavras do primeiro-ministro. Até porque puxar o travão em andamento é sinónimo de derrapagem, de despiste.
A primeira razão prende-se com números. Se olharmos para os novos contágios, internamentos e mortes na Europa, vemos que a "medalha ouro" de bom exemplo, que nos foi recentemente atribuída, pode voltar a ser uma "medalha de latão".
A segunda prende-se com os processos. Os da vacinação e os da testagem. Sobre o primeiro, retemos as palavras do vice-almirante Gouveia e Melo. A primeira fase de vacinação deverá estar concluída no dia 11. Os idosos com mais de 80 anos e os indivíduos acima dos 50 com comorbilidades associadas estarão todos vacinados com a primeira dose até esse dia. Repita-se, com a primeira dose. Muitos têm a segunda marcada para depois dessa data. Alguns só a receberão em junho. Reconhecido o esforço do Governo em acelerar a vacinação, é evidente que o processo ainda é demasiado frágil. A própria OMS classificou ontem o método europeu como "inaceitável".
Sobre os testes, eis que chegaram os que podemos fazer em casa, antes da prometida testagem massiva à população. Os que podemos comprar nos súperes e hipermercados, mas que ainda não chegaram às farmácias. Os autotestes estão aí, mas também falta o formulário que os testados devem preencher na página covid19.min-saude.pt. Aliás, não falta só questionário. Falta tudo. O sítio não devolve qualquer resultado quando se pesquisa pela palavra autoteste.
Vamos a conta-gotas. Mas não só no desconfinamento.
Segunda-feira avançamos em zona verde, com semáforo amarelo em 19 concelhos. Uma prudência acertada, com um calendário de avaliação discutível. Planear não é fácil. Concretizar tem sido mais difícil.
Manuel Molinos in Jornal de Notícias - 3/4/2021