12.9.20

SAÚDE: Setembro - Mês de Prevenção do Suicídio

Na passada quinta-feira, dia 10 de Setembro, assinalou-se o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, com a chancela da Organização Mundial da Saúde (OMS). Assinalar este dia tem como objectivo alertar para a problemática do suicídio que constitui uma causa de morte que é possível prevenir.
Suicídio
Ser adolescente não é fácil. São muitas pressões sociais, escolares e pessoais. E para os adolescentes que têm de lidar com outros problemas (como viver num ambiente violento ou abusivo) a vida pode ser ainda mais difícil. Alguns adolescentes preocupam-se com a sua sexualidade e relações, receiam que os seus sentimentos ou atracções não sejam normais ou questionam-se se serão algum dia amados e aceites. Outros lutam com problemas da sua imagem corporal ou comportamento alimentar. Outros ainda têm problemas de aprendizagem ou atenção que criam obstáculos ao sucesso escolar, podem sentir-se desapontados consigo próprios ou sentir que são uma desilusão para os outros.
Todos estes problemas podem ser muito complicados de gerir e fazem os adolescentes sentirem-se sem apoio e sem esperança de os conseguirem resolver. O suicídio é a segunda causa de morte entre os adolescentes, segundo a OMS. Há ainda estudos que indicam que, por cada suicídio, há outras 25 tentativas sem consumação.
Quando vivemos muitas perdas, nos sentimos um fracasso, sobrecarregados por problemas pessoais ou familiares, ou mesmo sem sabermos bem porquê, podemos ficar presos na nossa dor e acreditar que não existem soluções para os nossos problemas. Sentimo-nos impotentes para mudar a nossa vida e a ideia de morrer, de suicídio, pode dar-nos a ilusão de algum conforto e controlo sobre a situação.
Os pensamentos e sentimentos suicidas também podem ser aterrorizantes. Quando já não conseguimos ver nenhum propósito ou sentido em continuarmos a viver, os nossos sentimentos podem parecer insuportáveis. Podemos odiar-nos e acreditar que somos inúteis, que não fazemos falta a ninguém e que ninguém gosta e se importa realmente connosco. Podemos sentir raiva, vergonha e culpa.
Para alguns adolescentes, o motivo que os levou a tentar suicidar-se foi tentar escapar de uma situação que lhes parecia impossível serem capazes de resolver ou para ter algum alívio de pensamentos e sentimentos muito negativos e dolorosos. Outros procuravam escapar de sentimentos de rejeição ou perda, sentiam-se zangados ou culpados por alguma coisa, indesejados ou um fardo para outras pessoas. Na verdade, não queriam tanto assim morrer, mas sim escapar daquilo que se estava a passar na sua vida naquele momento. E, nessa altura, morrer parecia-lhes a única saída.
Sabemos que entre os adolescentes que se suicidam ou pensam suicidar-se existem alguns aspectos em comum: estão em grande sofrimento psicológico e perderam a esperança; a morte parece-lhes a única forma de escapar à dor que sentem; sentem-se sozinhos, sem qualquer valor como pessoas, apenas um fardo para os outros; querem desesperadamente ser ajudados, mas têm demasiado receio de falar com alguém e não serem compreendidos; querem, de alguma forma, “ficar na história” ou “deixar a sua marca” e vêem no suicídio a única forma de o fazerem.
Muitas vezes isolamo-nos dos outros e é difícil partilhar com a família e os amigos o quão mal nos sentimos. Às vezes nem para nós próprios é assim tão claro que queremos morrer. Podemos sentir-nos indiferentes, confusos ou ter a esperança que alguém nos compreenda e nos ajude. Nem sempre pensar sobre suicídio significa que queremos realmente morrer. Muitas pessoas pensam sobre suicídio e a maior parte delas não leva esses pensamentos até ao fim e se mata.
Muitas pessoas experienciam vontade de se suicidar e pensamentos suicidas como parte de um problema de Saúde Psicológica ou quando experienciam problemas de saúde física graves e dolorosos. Algumas vezes o suicídio é planeado, mas outras vezes as tentativas de suicídio acontecem por impulso, num momento de desespero.
Existem alguns sinais que podem indicar que alguém está a pensar suicidar-se:
* Ameaçar directa (por exemplo, “vou matar-me”) ou indirectamente (por exemplo, “quem me dera adormecer e nunca mais acordar”) suicidar-se;
* Planos e cartas de despedida (incluindo publicações online);
* Falar sobre suicídio ou sobre a morte;
* Escrever canções, poemas ou cartas sobre a morte;
* Falar sobre “ir embora”, “não estar mais aqui”, “desaparecer”, “não vou ser um problema para vocês durante muito mais tempo”;
* Referir-se a coisas de que não vai precisar ou dar objetos pessoais;
* Falar sobre sentir-se desesperado ou culpado;
* Afastar-se de amigos e familiares e perder o interesse em sair de casa;
* Perder o interesse pelas actividades ou passatempos favoritos;
* Ter dificuldade em concentrar-se e em pensar com clareza;
* Perder interesse na escola ou actividades desportivas;
* Irritabilidade, tristeza ou ansiedade;
* Alterações nos hábitos alimentares e de sono;
* Manifestar comportamentos autodestrutivos (beber álcool em excesso, consumir drogas, auto mutilar-se…);
* Manifestar-se subitamente alegre após um período de tristeza.
Embora muitos adolescentes que tentam suicidar-se tenham manifestado alguns sinais, outros não deram qualquer tipo de “pista” de que estavam a pensar suicidar-se.
É importante que os Professores estejam atentos e possam providenciar ajuda caso seja necessária. Alguns adultos consideram que os adolescentes que falam em suicidar-se estão apenas a querer “chamar a atenção”. No entanto, é importante não ignorar estas afirmações e saber que quando os adolescentes são ignorados quando pedem atenção/ajuda, isso pode aumentar a probabilidade de, de facto, colocarem em risco a própria vida.
Como podem os Professores ajudar um aluno com ideação suicida?
Falar com os adolescentes sobre Saúde Psicológica e sobre Suicídio. Falar sobre este tipo de assuntos é um desafio que implica destruir mitos e eliminar a falta de informação. Ao contrário do que se possa pensar falar sobre suicídio não aumenta o risco de automutilação ou suicídio nem “semeia” essa ideia na cabeça dos adolescentes. Pelo contrário, cria uma oportunidade para oferecer ajuda.
Oferecer encorajamento e apoio. Faça o adolescente perceber que se preocupa com ele, que o irá ajudar no que puder e valide os seus sentimentos. Encoraje-o a procurar ajuda.
Não ignorar os problemas, não desvalorizar os sinais de alerta nem descartar uma ameaça como sendo “apenas” uma “chamada de atenção”. Se está preocupado, confie nos seus instintos e não espere apenas que a situação melhore. Fale com o Psicólogo da Escola sobre os seus receios.
Conhecer os fatores de risco: negligência e abandono familiar; violência doméstica; exposição a ambientes de stresse crónico; abuso sexual; história familiar de suicídio; problemas de Saúde Psicológica (como a depressão ou a ansiedade); perda recente (morte, divórcio, separação, término de relação romântica); comportamentos de risco (abuso de álcool ou drogas, condução perigosa); bullying ou cyberbullying; sentimentos de desespero e desesperança; baixa auto-estima.
Promover os fatores de protecção e prevenir: dedicar tempo a interagir com os adolescentes de forma positiva, dando feedback positivo dos seus comportamentos e feitos; promover o envolvimento dos adolescentes em atividades positivas; falar com os adolescentes sobre as suas preocupações, perguntando directamente sobre automutilação e pensamentos suicidas.
Procurar ajuda. As situações de automutilação, tentativas de suicídio e suicídio são muito complexas. O adolescente deve ser encaminhado para um Profissional de Saúde. O Psicólogo da escola pode ajudar.
Se o adolescente tem um plano e meios para atentar contra a própria vida é importante agir de imediato. Não deixe o adolescente sozinho e contacte um número de emergência (112 – Serviço Nacional de Socorro).