Faz hoje 19 anos que o mundo ficou estarrecido, face ao brutal ataque às torres gémeas; há 5 anos o mundo ficou envergonhado com a morte de uma criança refugiada numa praia turca. Sem mudanças, a Europa continua a proteger o sistema financeiro, obrigando os contribuintes a pagarem os desvarios da banca com o Banco de Portugal a fechar os olhos e os governos ajoelhados ao poder económico. Nem a Covid chega para nos fazer esquecer estas realidades, que provam que nada aprendemos e que continua muito por resolver.
Os offshores continuam a servir de abrigo ao terrorismo e à corrupção. Perante isto, a direita e a extrema-direita, nada fazem. Ficam indignados com o Novo Banco que criaram e esquecem que, tal como a União Europeia, governada sempre à direita, enquanto promove o chocante aumento de desigualdades, defende as mordomias fiscais e a ditadura do sistema financeiro que subjuga os dinheiros públicos e cria precariedade.
O necessário regresso à Escola surge numa altura em que o mundo e Portugal vivem com o coração nas mãos, face à nova evolução da COVID. Apesar do esforço de todos os profissionais ligados ao bom funcionamento das Escolas, onde alguns até ficam incógnitos, é óbvio que não existem condições para garantir a segurança. No parlamento, foi chumbado pelo PS e pela direita, a premissa fundamental da redução de alunos por turma. Estamos perante uma trapalhada que ninguém vai assumir, porque em primeiro lugar, estão as rendas para as sanguessugas deste país.
Infelizmente, o problema atual, além da COVID, continua a ser o poder económico desvairado, na ganância da riqueza a dizer que vale tudo e que atropelam quem querem para atingirem os seus objetivos. A somar, temos o Banco de Portugal, agora com Centeno a dar continuidade a este jogo escondido, mas como diz o povo – “gato escondido com o rabo de fora”. Mesmo assim, ainda se conseguiu perceber que um dos ativos do Novo Banco, foi parar às mãos de um bilionário americano, preso por corrupção. E a auditoria da Deloitte, ignorando o conflito de interesses, revelou, mais uma vez, a corrupção autorizada que lesa o país, com vendas obscuras e entidades auditoras/reguladoras de olhos fechados. Por esta anedótica e atrasada auditoria, a Deloitte recebeu um milhão de euros, valor que ajuda a pagar as suas multas nos EUA e Inglaterra, por erros graves…
É muito estranho como a Europa permite este jogo e a histórica influência dos agentes da CIA. De registar que, enquanto os serviços secretos russos, tanto envenenam um ex-espião incomodo, como um opositor teimoso com um chazinho de novichok; os serviços secretos americanos mandam abater um Cessna com responsáveis políticos portugueses, munidos de muita informação complicada.
Por falar em americanos, Trump continua a negar as alterações climáticas e continuamos a envenenar o mar e a destruir o planeta. A crise ambiental junta-se à crise económica e social. A Covid parece um castigo bíblico como o que destruiu Sodoma e Gomorra com enxofre e fogo caídos do céu. Encaixa bem numa mentalidade retrógrada em que mais vale dizer aos miúdos, não faças isto porque Deus te castiga, do que lhes ensinarmos os princípios básicos dos direitos humanos.
Nos tempos que correm, exige-se um debate responsável sobre questões essenciais e quando o tema político do principal partido da oposição do governo de Costa se resumiu à festa do Avante, algo vai mal. No CHEGA, discutiu-se uma evolução do século passado e já evoluíram da pena de morte para a prisão perpétua, mas ainda não chega para serem considerados evoluídos. O CHEGA está mais preocupado em acabar com a progressividade dos impostos, colocando quem ganha menos a pagar mais e os salários chorudos a pagarem menos.
Os rostos mais conhecidos no mundo com os evangélicos às costas que apostam no líder português do racismo, André Ventura, são Donald Trump que em desespero pede às pessoas para votarem duas vezes e Bolsonaro, que afirma que os ambientalistas são “cancro”. Também Marine Le Pen, da extrema-direita francesa, defensora da pena de morte, se congratulou com a eleição de Ventura, no CHEGA.
O vírus que nos atormenta, este sim, parece ter aprendido com o sistema que nos domina – atinge com mais força, os mais fracos. O problema continua a ser o mesmo, a falta de cultura política e a carência de uma mentalidade progressista, em que todos contamos para construir o futuro e onde todos temos a responsabilidade de não deixar ninguém para trás.
Paulo Cardoso - Crónica na Rádio Portalegre -11-09-2020 - Programa "Desabafos"