Quercus assinala este dia, destacando o papel
fundamental do Agricultor na conservação dos solos, paisagem e recursos
naturais
Desde sempre, a agricultura teve um papel
preponderante na vida das populações humanas. O Homem tornou-se sedentário
desde que se tornou agricultor e até as primeiras trocas comerciais foram
feitas em bens alimentares. O agricultor foi acompanhando as diferentes fases
da agricultura e as práticas ancestrais agrícolas foram-se implementando – com
base em muita observação e respeito pela natureza e solos. Ao longo de 10 mil
anos, o desenvolvimento das técnicas da agricultura foram-se desenvolvendo com
base em conhecimento empírico.
Contudo, no século passado, com a justificação de
matar a fome à crescente população mundial, a agricultura passou a ser uma
atividade massificada e uma grande parte dos agricultores foram substituídos
por máquinas.
Passaram-se a usar mais pesticidas, fertilizantes
químicos de síntese e métodos agressivos de preparação do solo, assim como se
intensificou o desgaste e a contaminação do solo, o aparecimento de
monoculturas, pragas, doenças, menos variedades agrícolas, e mais gastos
energéticos.
Acompanhando esta tendência, a população mais rural
migrou para as cidades e o sector primário foi sendo substituído pelos outros
sectores. Com a entrada de Portugal na União Europeia, e a adesão à Política
Agrícola Comum (PAC), os alimentos começaram a ser distribuídos a preços
baixos, vindos de explorações onde eram produzidos de forma pouco amiga do
ambiente e visando apenas o factor económico. O agricultor, para poder singrar
neste mundo, precisaria de entrar nesta moda, sendo muitas vezes ridicularizado
aquele que mantinha as práticas de outrora, aquelas que preservavam a
conservação do solo, produções em regimes extensivos, utilização de variedades
regionais, entre outras.
Em Portugal, e segundo o Instituto Nacional de
Estatística, o agricultor tipo é o seguinte: é do sexo masculino, tem 63 anos,
apenas completou o 1º ciclo do ensino básico, tem formação agrícola
exclusivamente prática e trabalha nas atividades agrícolas da exploração cerca
de 22 horas por semana. O seu agregado familiar é constituído por 3 indivíduos
e o rendimento provém maioritariamente de pensões e reformas. 1
Nos últimos
anos, verificou-se um aumento do número de mulheres e do nível de formação.
Aproximadamente 1/5 dos produtores trabalha a tempo inteiro nas atividades
agrícolas da exploração, o que representa um aumento face a 1999. Apenas 6% dos
produtores obtêm o rendimento exclusivamente da atividade da sua exploração
agrícola, enquanto 84% declara que o seu rendimento é formado maioritariamente
por outras origens como por exemplo reformas e pensões, em cerca de 64 % dos
casos. A mão-de-obra agrícola obra realiza 80% do trabalho agrícola.
Nos últimos anos, verificou-se também uma maior
eficiência dos índices de mecanização e a reorientação de alguns sistemas
produtivos pecuários para a extensificação, comprovada pela diminuição de
efetivos e pelo aumento da superfície forrageira, assistiu-se, nos últimos 10
anos, a um decréscimo do volume de trabalho agrícola (-31% de Unidades de Trabalho
Ano (UTA) = 1 800 horas). Estes dados foram observados em 2009 – últimos dados
oficiais.
No entanto,
nos últimos 5 anos tem-se assistido à chegada de novos rurais – agricultores
que estão a revolucionar a agricultura – com novas técnicas, novos produtos,
estando como consequência as exportações de produtos agrícolas a crescer. Está
a aparecer toda uma nova geração que está a criar startups e a aventurar-se em
novos produtos agrícolas, apostando na exportação, numa escala nunca imaginada.
Os novos agricultores têm mais formação, estão mais informados, são mais
dinâmicos e obtém maior vantagem das novas tecnologias e da abertura dos
mercados. A produção agrícola atingiu, no ano passado, 6,84 mil milhões de
euros, o valor mais alto de sempre, valor verificado com menos agricultores.
As novas tendências e a agricultura de futuro.
As novas tendências e a agricultura de futuro.
Tendencialmente, com a chegada destes novos
agricultores ao meio rural, a Quercus congratula-se com o facto de existir,
como consequência, mais respeito pelo Ambiente, menos mobilização do solo e um
uso sofisticado da rega. Isto embora ainda existam maus exemplos verificados,
tais como olivais intensivos, grandes áreas de culturas protegidas (estufas),
uso excessivo de pesticidas, técnicas erosivas e utilização de OGM – Organismos
Geneticamente Modificados.
Hoje em dia, o agricultor tem uma abordagem mais
empresarial, com grande enfoque na qualidade e valorização do seu produto. Ser
agricultor em Portugal passou a ser prestigiante. Desta forma, é necessário, na
próxima revisão da PAC, envolver os agricultores que estão interessados em fazer parte da solução e não do
problema. Para começar a incentivar os agricultores a trabalharem com a
natureza, em vez de contra ela. é igualmente tempo para deixar de matar pragas
para se começar a lidar com elas.
A Europa também exorta as instituições europeias e os
decisores nacionais a utilizarem os princípios apresentados na Declaração da
Sociedade Civil sobre a Reforma das Políticas Agrícolas Europeias "Boa
Alimentação, Boa Agricultura - Agora!" (the Civil
Society Statement on the Reform of European Agricultural Policies “Good Food,
Good Farming – Now!), como base para o processo de reforma da Política Agrícola
pós-2020.
A Quercus espera que a nova PAC incentive os agricultores a
usarem boas práticas de conservação dos solos, paisagem e recursos naturais e
seja estimulada de uma vez por todas a agricultura familiar, bem como o consumo
de alimentos que tenham uma baixa pegada ecológica.
1 - Fonte: https://www.ine.pt/xportal/
A Direção Nacional da Quercus – Associação Nacional
de Conservação da Natureza