19.7.17

NISA - O Protesto contra exploração do urânio na imprensa (Outubro 2008)

Manifestação contra eventual exploração de urânio em Nisa reúne mais de 300 pessoas
Mais de 300 pessoas manifestaram-se hoje de forma pacífica, em Nisa, contra a eventual exploração de urânio naquele concelho do norte alentejano, num protesto a que se associaram ecologistas, autarcas e agricultores.
A "Marcha da Indignação" partiu do centro da vila de Nisa em direcção à herdade onde existe uma jazida de urânio inexplorado, a cerca de três quilómetros de distância.
Sempre com a GNR por perto, mas sem que tivesse ocorrido qualquer incidente, os manifestantes gritavam, entre outras palavras de ordem, "Urânio em Nisa não", "Não, não, não à contaminação".
Nos cartazes podia ler-se: "Contra o urânio por um respirar saudável", "Nisa diz não ao urânio", "Nisa sim, urânio não".

A iniciativa esteve a cargo do Movimento Urânio em Nisa Não (MUNN), da Quercus e de várias entidades locais, como a associação comercial, Associação de Desenvolvimento de Nisa, Terra-Associação para o Desenvolvimento Rural e Associação Ambiente em Zonas Uraníferas.
A jornada de protesto e sensibilização iniciou-se no Cine Teatro de Nisa com uma Tribuna Cívica, onde vários ex-trabalhadores das minas da Urgeiriça (Nelas), entre outras entidades, prestaram o seu depoimento contra a exploração deste minério na região.
Em declarações à agência Lusa, a deputada Heloísa Apolónia, do Partido Ecologista "Os Verdes", lembrou "os malefícios" que este género de exploração já provocou nos trabalhadores das antigas minas da Urgeiriça e defendeu que Nisa precisa é de "projectos turísticos".
De acordo com a deputada, o grupo parlamentar de "Os Verdes" vai brevemente "questionar directamente o Ministério da Economia face às incoerências da sua resposta quanto à intenção em relação à exploração de urânio em Nisa".

O concelho alentejano de Nisa, no distrito de Portalegre, possui no seu jazigo inexplorado de urânio um potencial que ronda os 6,3 milhões de toneladas de minério não sujeito a tratamento, 650 mil quilos de óxido de urânio e 760 mil toneladas de minério seco.
A presidente do município local, Gabriela Tsukamoto, mostrou-se também desfavorável à eventual exploração de urânio em Nisa, considerando que "é uma incógnita, porque não se sabe as consequências em termos de saúde pública, ambientais e em termos económicos".
A autarca defendeu que "é preferível pegar nos recursos do concelho, como os queijos, os enchidos, os bordados, o termalismo entre outros factores e torná-los mais sustentáveis".
A mesma opinião é partilhada pelo presidente da Associação dos Agricultores do Distrito de Portalegre, Fragoso de Almeida, que colocou ainda em dúvida, caso se concretize a abertura da jazida de urânio, o futuro da agricultura na região.


"A agricultura regional terá sempre o ónus desta exploração em cima. E uma exploração desta natureza, sem qualquer demagogia, inviabiliza o desenvolvimento rural e o abandono das terras", alertou.
O responsável do núcleo regional de Portalegre da associação ambientalista Quercus, Nuno Sequeira, disse à agência Lusa que a acção de contestação "pretende sensibilizar o Governo para recusar o avanço da exploração de urânio na zona de Nisa".
"É importante não esquecer os erros cometidos em toda esta actividade na zona centro do país, as marcas familiares, dramas de saúde e ambientais e alertar para as consequências gravosas que poderá trazer para o concelho de Nisa e para o distrito", avisou.
Além da sensibilização das populações locais para os "riscos que a eventual exploração de urânio comportará", a iniciativa pretendeu alertar para o facto de o "modelo de desenvolvimento, investimentos em curso e economia local não serem compatíveis com a exploração de urânio".
Fonte: Lusa
O urânio da nossa inquietação
Em Outubro de 2008, culminando uma série de iniciativas de sensibilização para os riscos da exploração do urânio em Nisa, realizou-se nesta vila uma manifestação cívica e caminhada de protesto desde o centro da urbe até às designadas "minas da Mari Dias" na estrada para o Monte Claro.
Desta manifestação e alerta, que teve a presença de deputadas do BE e "Os Verdes" fez eco a imprensa regional e nacional. O PS local não "tugiu nem mugiu", aliás, não se lhe conhece, mesmo passados todos estes anos, qualquer posição oficial ou oficiosa sobre o assunto. É tema tabu, "esquisito", tal como as plantações indiscriminadas de eucaliptos, que muitos autarcas socialistas quase veneram, vá lá saber-se porquê.
As escombreiras a céu aberto, as montureiras de resíduos retirados do subsolo enquanto durou a exploração das minas, nos anos 60, ali continuam ao "deus dará", ao alcance de todos e com os malefícios que se conhecem, à espera que as entidades governamentais se decidam pelas indispensáveis acções de requalificação de todo aquele espaço uranífero, potencialmente perigoso para a saúde e o ambiente, a exemplo do que já foi feito noutros locais.
Da autarquia de Nisa, actualmente de maioria PS, não se espera qualquer diligência. O urânio ou as escombreiras não dão votos, ficam "fora de portas" e não são passíveis de transformação em flores ou elementos decorativos de feição "pimba".
É um erro, crasso, pensar assim. Na Alemanha e noutros países europeus, antigas instalações militares e depósitos de armas, deram lugar a parques ambientais e temáticos, colocados à disposição dos cidadãos, depois de requalificados.
Em Nisa, a autarquia, sempre desejosa de fazer "flores" em qualquer azinhaga, não tem uma ideia, um projecto, uma simples recomendação e alerta ao governo ( que é da sua cor) para a requalificação que se impõe das minas de urânio da Mari Dias.
É tempo de os cidadãos reagirem sobre esta questão e exigirem dos poderes públicos (locais e nacionais) as medidas que se impõem em defesa da saúde pública e ambiental.
Mário Mendes