15.6.17

SANTANA (Nisa): O cultivo do linho como fonte de receita

Sabia que…
… O linho foi no passado a maior fonte de receita dos lavradores do Arneiro, Duque e Pardo? No ano de 1855 “…os Montezinhos se adiantavam um pouco mais, por não terem terras de safra , mas n´estes últimos tempos, como tem deixado bons proventos, e é muito perguntado, todos em geral o semeiam, e em quantidade, que n´este anno, houve lavrador, que semeou 40 alqueires de linhaça e mais e o preço regulou por oitocentos réis a pedra (oito arráteis) (1), e produziu por um cálculo aproximado sete a oito pedras por alqueire, e recolheram-se em todo o concelho para mais de 10,000 pedras".(Motta e Moura, 1855).
Do linho faziam-se as melhores peças do enxoval e as camisas domingueiras do vestuário masculino. Mas antes de o tecer havia que o semear em fins de Outubro, que o mondar pela Primavera, e que o arrancar ao princípio do Verão. Durante os cinco dias seguintes dormia sobre a terra para perder o viço. Depois era vê-lo, louro, atado em molhos que secavam ao alto para amadurecer a semente, a linhaça. Alagava-se, mais tarde, no Tejo, junto aos Moinhos, aí permanecendo cerca de nove dias, altura em que de novo se erguia em molhos para enxuga. A seguir era colocado em cima de uma pedra e com um pau redondo era batido até que a casca do linho ficasse moída. Enquanto os homens maçavam, as mulheres, com gramas, limpavam-no de cascas e arestas. Em seguida era penteado no sedeiro e finalmente, já separado da estopa, era enrolado numa roca, fiado e feito em meadas que, depois de lavadas em água corrente, eram mergulhadas na barrela, numa calda com água e cinza. Escorridas as meadas, eram estas levadas a um forno tépido, sobre pedaços de cortiça, e tapadas com um pano embebido na mesma calda. Tapavam-se bem todas as fissuras do forno (usando cinza e bosta de boi) e aí ficavam durante três ou quatro dias. Uma vez retiradas do forno, lavavam-se nos ribeiros e coravam-se em cima de junco ou palha e, depois, fazia-se a barrela: metiam-se as meadas num cesto, e cada camada era aspergida com cinza e água quente. Aí ficavam de um dia para o outro, até serem de novo limpas pelas águas correntes dos ribeiros. Por fim eram dobadas e levadas a tecer A cultura do linho foi das primeiras a ser abandonada quando começaram a escassear os braços para a agricultura, e os seus tecidos frescos, de brancura imaculada, tornaram-se luxos ciosamente guardados para os filhos e os netos.
(1) - Arrátel, antiga medida de peso, equivalente a 459 gr.
Texto e foto retirado de "O Montezinho" - Boletim da freguesia de Santana