4.6.17

NISA: Feiras do Livro e dinamização cultural



A dinamização cultural esteve sempre presente nas preocupações dos diversos executivos municipais e de freguesia ao longo dos 40 anos do Poder Local Democrático. Numa época em que era preciso, imperioso e urgente, recuperar o atraso e promover obras fundamentais para o progresso e desenvolvimento do concelho como estradas, redes de águas e esgotos, caminhos, saneamento e salubridade pública, as autarquias locais faziam um esforço suplementar para garantir o acesso à cultura e ao recreio das populações do concelho.
A implantação de uma Biblioteca Municipal, "velha" aspiração de muitos anos, concretizou-se, primeiro em instalações provisórias mas dotadas das mínimas condições, indispensáveis aos fins em vista, depois em edifício próprio, a antiga Escola do Rossio, onde hoje funciona e oferece uma diversidade de serviços, gratuitos, ao alcance do público de todas as idades. 
Com a Biblioteca Municipal, ainda nas antigas instalações do Clube Nisense, vieram também as Feiras do Livro, importante "ferramenta" para a dinamização da leitura. A nova Biblioteca, no principal largo da vila e inaugurada, de raiz, em 1993, veio dar um novo impulso à popularidade destas iniciativas com um carácter cultural mais abrangente e diversificado. 
Nada aparece por acaso. No passado recente autárquico, lançaram-se as bases para o desenvolvimento do concelho, começando por onde era imperioso começar: as infraestruturas básicas para a melhoria das condições de vida das populações.
O concelho tem vinte povoações, chamem-lhe, se quiserem, aglomerados urbanos. Alguns, hoje, estão quase desertos. Faltam-lhe o "sopro de vida" que alimenta o sonho e comanda a ideia de futuro. Mas existem. Com poucos ou alguns moradores, continuam a necessitar dos cuidados básicos, não só de saúde, mas de todas as infra-estruturas e serviços, a que como cidadãos têm direito. 
A água, os esgotos, a electricidade, as comunicações, a limpeza das ruas e dos caminhos, a recolha do lixo, a sala de convívio, as manifestações culturais, recreativas e desportivas.
O concelho começou a ficar "mais bonito" logo a seguir ao 25 de Abril. Abriram-se, de par em par, as janelas da liberdade e os eleitos locais, de todas as cores e em todo o concelho, fizeram o que podiam e não podiam, para melhorar as suas terras, as suas aldeias, no fundo "acertar o passo" com o desenvolvimento que tardava.
A água, a electricidade e os esgotos em todas as casas. As ruas calcetadas e limpas. Os centros de convívio, a biblioteca pública, as piscinas para toda a gente, a sala de espectáculos degradada e recuperada por iniciativa do poder local. Novas estradas e caminhos que foram rasgadas e abertas ao tráfego.
Não se fez tudo. Nem ninguém faz tudo sozinho, como nos ensina o poema de Brecht. Há sempre alguma coisa para fazer e melhorar. Bom seria que tivéssemos tudo feito e população para usufruir de todas as infra-estruturas e equipamentos. E, aqui, o paradoxo, que ganhará mais evidência, penso, com o "novo" Centro de Saúde". Se não for invertida a tendência da desertificação do interior, da forma brutal que está a acontecer, iremos deparar-nos, a curto prazo, com esta triste realidade: dispormos de todas as condições e mais algumas para uma boa "qualidade de vida" e não termos gente para usufruir delas. 
Os edifícios escolares que animaram e "cultivaram" tantas e tantas aldeias, e que hoje estão ao abandono, quais fantasmas do passado, serão a imagem de outros tantos edifícios e equipamentos nos quais se investiram muitos milhares de euros.
E esse, sim, é o problema cultural, do momento.
As florinhas e os bordados ajudam a colorir o momento, eleitoral ou não. As obras de fundo, o investimento que cria emprego e mantém vivas as esperanças no futuro das terras e das gentes, esse continua a faltar e não se vislumbram melhores dias.
Vamos "vendo, ouvindo e lendo" mas com tantas flores, "ideias bonitas" e manipulação das consciências, o futuro não está a passar por aqui...
Mário Mendes