Na
famosa cena do filme “O Último Tango em Paris” estão lá as palavras da jovem
rapariga “não e não”. E sabemos, agora, que não se tratou de seguir o guião,
ela não sabia o que lhe ia acontecer.
Voltou
a polémica sobre o filme “O Último Tango em Paris”. Novas revelações do seu
realizador Bernardo Bertolucci (proferidas em 2013, mas agora divulgadas)
reacendem o debate sobre a famosa cena erótica que acabou por ser “a marca” do
filme – a violação da jovem rapariga.
Maria
Schneider já tinha dito em 2007, que se “tinha sentido violada”, mas as suas
declarações não tiveram grande impacto… Perante as declarações do realizador a
polémica assume maiores proporções e desencadeia reações. Podem um realizador e
um ator decidir os contornos de uma cena e não dar conhecimento à outra parte
envolvida? Aceita-se a justificação/confissão sobre o motivo: “queria a reação
dela como rapariga e não como atriz?”
Mesmo
passados 45 anos sobre a estreia do filme, estas declarações colocam o problema
da relação que existe entre o realizador, por um lado, e o ator ou atriz por
outro, evidenciando que não são tratados nem respeitados da mesma forma. Mesmo
no mundo da ficção, no mundo de Hollywood , são muitos os exemplos desta
desigualdade de género - do salário à dignidade.
Mas
esta polémica não nos deve ser indiferente, nem ser “guardada na gaveta” dos
artistas, do glamour, do mundo da ficção…
Na
famosa cena, agora relembrada na comunicação social e nas redes sociais estão
lá as palavras da jovem rapariga “não e não”. E sabemos, agora, que não se
tratou de seguir o guião, ela não sabia o que lhe ia acontecer.
Não e
Não, são as palavras a respeitar. A violação de mulheres e meninas é um
problema mundial, mas existe ao nosso lado. É o poder dos homens na subjugação
das mulheres, de todas as mulheres - atrizes, refugiadas, empregadas,
estudantes, jovens e menos jovens, todas.
Como
diz Joaquim Leitão, realizador, “nenhum filme merece que um ator sofra”, neste
caso uma atriz… Eu diria, todos e todas temos um papel para acabar com o
sofrimento de muitas mulheres… e, mesmo tardiamente é bom não esquecer Maria
Schneider.
Helena Pinto - Artigo
publicado em mediotejo.net