21.12.16

OPINIÃO: A violação não é ficção

Na famosa cena do filme “O Último Tango em Paris” estão lá as palavras da jovem rapariga “não e não”. E sabemos, agora, que não se tratou de seguir o guião, ela não sabia o que lhe ia acontecer.
Voltou a polémica sobre o filme “O Último Tango em Paris”. Novas revelações do seu realizador Bernardo Bertolucci (proferidas em 2013, mas agora divulgadas) reacendem o debate sobre a famosa cena erótica que acabou por ser “a marca” do filme – a violação da jovem rapariga.
Maria Schneider já tinha dito em 2007, que se “tinha sentido violada”, mas as suas declarações não tiveram grande impacto… Perante as declarações do realizador a polémica assume maiores proporções e desencadeia reações. Podem um realizador e um ator decidir os contornos de uma cena e não dar conhecimento à outra parte envolvida? Aceita-se a justificação/confissão sobre o motivo: “queria a reação dela como rapariga e não como atriz?”
Mesmo passados 45 anos sobre a estreia do filme, estas declarações colocam o problema da relação que existe entre o realizador, por um lado, e o ator ou atriz por outro, evidenciando que não são tratados nem respeitados da mesma forma. Mesmo no mundo da ficção, no mundo de Hollywood , são muitos os exemplos desta desigualdade de género - do salário à dignidade.
Mas esta polémica não nos deve ser indiferente, nem ser “guardada na gaveta” dos artistas, do glamour, do mundo da ficção…

Na famosa cena, agora relembrada na comunicação social e nas redes sociais estão lá as palavras da jovem rapariga “não e não”. E sabemos, agora, que não se tratou de seguir o guião, ela não sabia o que lhe ia acontecer.
Não e Não, são as palavras a respeitar. A violação de mulheres e meninas é um problema mundial, mas existe ao nosso lado. É o poder dos homens na subjugação das mulheres, de todas as mulheres - atrizes, refugiadas, empregadas, estudantes, jovens e menos jovens, todas.
Como diz Joaquim Leitão, realizador, “nenhum filme merece que um ator sofra”, neste caso uma atriz… Eu diria, todos e todas temos um papel para acabar com o sofrimento de muitas mulheres… e, mesmo tardiamente é bom não esquecer Maria Schneider.
Helena Pinto - Artigo publicado em mediotejo.net