No
sábado 25 realizou-se, em Madrid, a reunião ibérica dos grupos ecologistas e
ambientalistas que se organizam no M.I.A. , Movimento Ibérico Anti-nuclear*.
Num
momento crucial em que as autoridades espanholas, com o beneplácito do nosso
Ministro do Ambiente, que há 2 meses que tem uma solicitação nossa com vista a
esclarecê-lo dos mecanismos e trafulhices com que o Conselho de Segurança
Nuclear ( espanhol) e as autoridades do Estado o andam a enganar, ao contrário do Parlamento, dos grupos
parlamentares e de inúmeras autarquias ao longo da linha do Tejo e próximas à
fronteira, que foram informados e já tomaram a posição que a segurança das
populações e o ambiente exigem.
A
situação da nuclear a nível mundial é de estertor. Em França, campeã da
nuclear, mais de metade das centrais estão paradas, por problemas de segurança,
curiosamente alguns que não impedem Almaraz de continuar a debitar para as suas
companhias proprietárias e também o Tejo onde muitos há muito não comem
peixe...
Em
Inglaterra, apesar da contratação de preço exorbitante a central de Hinckley, a
única em projecto desde há vinte anos, encalhou na falência da empresa nuclear
francesa (AREVA) e nos meandros do Brexit e das regras comunitárias.
Na
Finlândia a nova central já está 10 anos atrasada e os custos davam para em
eficiência poupar muito mais e reduzir as emissões de CO2.
Com a
eleição, a todos os títulos um rude golpe para os direitos civis, a
sustentabilidade e a protecção, mínima, do ambiente de um Donald para a
presidência dos Estados Unidos foi o “quac” final da mirífica ressurgência nuclear,
uma vez que atrás deste estão os interesses do carvão e do petróleo e gás de
xisto.
A China
vai ser o próximo nó górdio da nuclear, mas não é previsível que sem mercado
esta tecnologia possa concorrer num mercado global.
Aqui em
Espanha, e um pouco por todo o lado a única ressurgência nuclear é... prolongar
a vida das centrais... até que os materiais envelhecidos, a geologia, alguns
incidentes ou acidentes, que neste momento já são altamente previsíveis, e
oxalá não nos caia na sopa... acabem com a continuidade de uma tecnologia que
antes de entrar em base já era obsoleta, e prometia resolver os problemas dos
seus resíduos, há 40 anos, e continua a prometer hoje... e amanhã.
Mas
estamos com um problema sério. Devido à incapacidade das forças políticas que
defendem alternativas, ainda que mínimas de desenvolvimento energético em
Espanha se entenderem, o governo agora sem gestão prepara-se para dar a luz verde para mais 10,
20 anos a Almaraz, uma das centrais com um registo histórico de mais problemas,
incidentes e mesmo acidentes.
A
Declaração de Impacto Ambiental para um armazém para manter e guardar os
resíduos, actualmente em piscinas de refrigeração, acaba de ser emitida, sem
que o governo português, mais uma vez tenha sido ouvido ou achado, além de umas
palmadas nas costas, e sabe-se lá mais o quê.
Não
podemos continuar a assobiar para o lado. Portugal tem que ao abrigo da
legislação internacional e no quadro da União da Energia impor-se. A central de
Almaraz já foi totalmente amortizada. A central de Almaraz é desnecessária para
o sistema eléctrico espanhol ou ibérico (exportamos para França!). A central de
Almaraz tem problemas, peças avariadas, e este anos várias paradas “técnicas”,
para resolver problemas já do sistema. As alternativas sociais e económicas
existem e são conhecidas.
Só
falta vontade política. E um murro na mesa.
* Nesta
reunião foi decidido, contrariando o apoio tácito que algumas organizações
deram ao governo e ao ministro português realizar uma conferencia internacional
em Lisboa, para pressionar também o governo e o ministro português para adoptar
uma política firme em relação ao Estado Espanhol.
António Eloy - Membro do Movimento Ibérico Anti-Nuclear