2.12.16

PERIGO NUCLEAR: Almaraz, uma central obsoleta, um pesadelo real

No sábado 25 realizou-se, em Madrid, a reunião ibérica dos grupos ecologistas e ambientalistas que se organizam no M.I.A. , Movimento Ibérico Anti-nuclear*.
Num momento crucial em que as autoridades espanholas, com o beneplácito do nosso Ministro do Ambiente, que há 2 meses que tem uma solicitação nossa com vista a esclarecê-lo dos mecanismos e trafulhices com que o Conselho de Segurança Nuclear ( espanhol) e as autoridades do Estado o andam a enganar,  ao contrário do Parlamento, dos grupos parlamentares e de inúmeras autarquias ao longo da linha do Tejo e próximas à fronteira, que foram informados e já tomaram a posição que a segurança das populações e o ambiente exigem.
A situação da nuclear a nível mundial é de estertor. Em França, campeã da nuclear, mais de metade das centrais estão paradas, por problemas de segurança, curiosamente alguns que não impedem Almaraz de continuar a debitar para as suas companhias proprietárias e também o Tejo onde muitos há muito não comem peixe...
Em Inglaterra, apesar da contratação de preço exorbitante a central de Hinckley, a única em projecto desde há vinte anos, encalhou na falência da empresa nuclear francesa (AREVA) e nos meandros do Brexit e das regras comunitárias.
Na Finlândia a nova central já está 10 anos atrasada e os custos davam para em eficiência poupar muito mais e reduzir as emissões de CO2.
Com a eleição, a todos os títulos um rude golpe para os direitos civis, a sustentabilidade e a protecção, mínima, do ambiente de um Donald para a presidência dos Estados Unidos foi o “quac” final da mirífica ressurgência nuclear, uma vez que atrás deste estão os interesses do carvão e do petróleo e gás de xisto.
A China vai ser o próximo nó górdio da nuclear, mas não é previsível que sem mercado esta tecnologia possa concorrer num mercado global.
Aqui em Espanha, e um pouco por todo o lado a única ressurgência nuclear é... prolongar a vida das centrais... até que os materiais envelhecidos, a geologia, alguns incidentes ou acidentes, que neste momento já são altamente previsíveis, e oxalá não nos caia na sopa... acabem com a continuidade de uma tecnologia que antes de entrar em base já era obsoleta, e prometia resolver os problemas dos seus resíduos, há 40 anos, e continua a prometer hoje... e amanhã.
Mas estamos com um problema sério. Devido à incapacidade das forças políticas que defendem alternativas, ainda que mínimas de desenvolvimento energético em Espanha se entenderem, o governo agora sem gestão  prepara-se para dar a luz verde para mais 10, 20 anos a Almaraz, uma das centrais com um registo histórico de mais problemas, incidentes e mesmo acidentes.
A Declaração de Impacto Ambiental para um armazém para manter e guardar os resíduos, actualmente em piscinas de refrigeração, acaba de ser emitida, sem que o governo português, mais uma vez tenha sido ouvido ou achado, além de umas palmadas nas costas, e sabe-se lá mais o quê.
Não podemos continuar a assobiar para o lado. Portugal tem que ao abrigo da legislação internacional e no quadro da União da Energia impor-se. A central de Almaraz já foi totalmente amortizada. A central de Almaraz é desnecessária para o sistema eléctrico espanhol ou ibérico (exportamos para França!). A central de Almaraz tem problemas, peças avariadas, e este anos várias paradas “técnicas”, para resolver problemas já do sistema. As alternativas sociais e económicas existem e são conhecidas.
Só falta vontade política. E um murro na mesa.
* Nesta reunião foi decidido, contrariando o apoio tácito que algumas organizações deram ao governo e ao ministro português realizar uma conferencia internacional em Lisboa, para pressionar também o governo e o ministro português para adoptar uma política firme em relação ao Estado Espanhol.
António Eloy - Membro do Movimento Ibérico Anti-Nuclear