18.12.16

OPINIÃO: Acabe-se com os rankings

A escola não é um lugar de recreio. É um lugar com recreio. Onde se deve praticar desde cedo a cultura da exigência na aprendizagem, de solidariedade nos laços que se criam entre alunos e professores, pais e professores, pais e pais, pais e alunos. É, deve ser, um lugar com mundos para melhor se percecionar o Mundo. E onde se avalia.
Os "rankings" das escolas, públicas e privadas, que hoje o JN publica num suplemento de 24 páginas, construídos a partir dos resultados dos estudantes nos exames nacionais, são uma face dessa avaliação. Neste caso, permitindo aferir e comparar a evolução das escolas de uns anos para os outros, logo do esforço que professores e estudantes fazem para que o ensino e a aprendizagem sejam mais eficazes.
Os resultados sintetizam-se facilmente: a média nacional conseguida pelas escolas é positiva; os colégios privados dominam os primeiros lugares da tabela. Sobre estes, não há muito a dizer. Sem querer discutir o tempo e os modelos do foco na obtenção de resultados que praticam, a diversidade é incomparavelmente menor e a redoma de proteção incomparavelmente maior.
Estar na escola pública, sendo professor, aluno ou funcionário, é saber atender à escada social de que parte cada estudante e perceber que no elevador do mérito e do conhecimento partem todos de pisos diferentes, de acordo com a origem familiar e social, mas que têm todos que chegar ao mesmo lugar. É mais difícil, mais exigente e mais duro, mesmo no modo do relacionamento. Mas também mais desafiante.
Os resultados dessas vontades espelham-se, e muito, nestes rankings. E é inegável o esforço das escolas públicas pela melhoria dos seus alunos. Claro que há de tudo. Negligência. Desistência. Desresponsabilização (sim, também há professores que praticam essa arte na pública, o que é impensável na privada). Mas a conclusão é a de que vale a pena. E é impensável que uma comunidade escolar não sinta orgulho quando sobe no ranking, ou desilusão quando desce.
O ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, é, ele próprio, "produto" de uma escola pública, por sinal uma das melhores de Braga, como lhe contamos hoje. Espera-se por isso que continue a valorizar o que de positivo a avaliação tem e que não ceda à tentação do discurso da Fenprof de Mário Nogueira, para a qual todas as leituras dos rankings são "perversas".
A menos que o ministro de facto seja um e não o outro. Aí, acabe-se com os rankings.

 Domingos de Andrade in "Jornal de Notícias" - 17/12/2016