A
escola não é um lugar de recreio. É um lugar com recreio. Onde se deve praticar
desde cedo a cultura da exigência na aprendizagem, de solidariedade nos laços
que se criam entre alunos e professores, pais e professores, pais e pais, pais
e alunos. É, deve ser, um lugar com mundos para melhor se percecionar o Mundo.
E onde se avalia.
Os
"rankings" das escolas, públicas e privadas, que hoje o JN publica
num suplemento de 24 páginas, construídos a partir dos resultados dos
estudantes nos exames nacionais, são uma face dessa avaliação. Neste caso,
permitindo aferir e comparar a evolução das escolas de uns anos para os outros,
logo do esforço que professores e estudantes fazem para que o ensino e a
aprendizagem sejam mais eficazes.
Os
resultados sintetizam-se facilmente: a média nacional conseguida pelas escolas
é positiva; os colégios privados dominam os primeiros lugares da tabela. Sobre
estes, não há muito a dizer. Sem querer discutir o tempo e os modelos do foco
na obtenção de resultados que praticam, a diversidade é incomparavelmente menor
e a redoma de proteção incomparavelmente maior.
Estar
na escola pública, sendo professor, aluno ou funcionário, é saber atender à
escada social de que parte cada estudante e perceber que no elevador do mérito
e do conhecimento partem todos de pisos diferentes, de acordo com a origem
familiar e social, mas que têm todos que chegar ao mesmo lugar. É mais difícil,
mais exigente e mais duro, mesmo no modo do relacionamento. Mas também mais
desafiante.
Os
resultados dessas vontades espelham-se, e muito, nestes rankings. E é inegável
o esforço das escolas públicas pela melhoria dos seus alunos. Claro que há de
tudo. Negligência. Desistência. Desresponsabilização (sim, também há
professores que praticam essa arte na pública, o que é impensável na privada).
Mas a conclusão é a de que vale a pena. E é impensável que uma comunidade
escolar não sinta orgulho quando sobe no ranking, ou desilusão quando desce.
O
ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, é, ele próprio,
"produto" de uma escola pública, por sinal uma das melhores de Braga,
como lhe contamos hoje. Espera-se por isso que continue a valorizar o que de
positivo a avaliação tem e que não ceda à tentação do discurso da Fenprof de
Mário Nogueira, para a qual todas as leituras dos rankings são
"perversas".
A menos
que o ministro de facto seja um e não o outro. Aí, acabe-se com os rankings.
Domingos de Andrade in "Jornal de Notícias" - 17/12/2016