21.7.25

OPINIÃO: O verdadeiro fanfarrão


Quem tem medo de um fanfarrão? Talvez alguém que não o conheça suficientemente bem, talvez as crianças, sempre mais frágeis na reação ao grito, ao impropério e, se tiverem consciência disso, à maldade de ouvirem os seus nomes na Assembleia da República. Se pertencerem a minorias, pode tornar-se mais castigador; se a crueldade estiver suportada por conteúdos falsos, pior ainda. Todos conhecem este episódio que devia envergonhar o partido do fanfarrão, mas só envergonha o Parlamento, porque uma das características de qualquer fanfarrão é não ter ponta de vergonha. Mas por poder ter sorte ou ser incensado por uma qualquer simpatia, estratégia política ou patranha regimental, ao fanfarrão quase tudo é permitido, enquanto os restantes deputados devem ter todo o cuidado quando se dirigem ao fanfarrão. Aguiar-Branco, presidente da Assembleia da República, o árbitro do plenário, sofre do mesmo problema de outros juízes, mas do futebol, que não conseguem fugir à tendência de inclinar os pratos da balança. Utilizar a expressão “frouxa” para classificar a oposição feita pelo novo líder do Partido Socialista é encarado como uma espécie de elogio, mas “fanfarrão”, esse grande insulto que já esteve na origem de guerras sangrentas, é uma ofensa abominável! Como se não bastasse, o fanfarrão lidera um partido especializado em mentir. Antes que algum árbitro político rasgue as vestes, esclareço que essa é a conclusão de um estudo desenvolvido pela Universidade da Beira Interior em parceria com a Entidade Reguladora para a Comunicação Social. No campeonato da mentira, ninguém ganha ao Chega. Sobretudo nas redes sociais, onde, durante a última campanha das legislativas, foi responsável por 81% da desinformação colocada a circular. Bate certo: um fanfarrão é alguém que se arma em valente sem o ser, que se gaba de feitos ou qualidades que não lhe pertencem, ou seja, todos os fanfarrões são um bocadinho mentirosos.

* Vítor Santos - Jornal de Notícias - 20 julho, 2025