É algo extremamente simples e está ao alcance de todos (seja na terra ou no céu). Ainda assim, por estes dias, os Anjos - que até têm uma canção a dizer “Perdoa se peço demais” – não só ainda não pediram perdão ao país por um julgamento que o expõe ao ridículo como estão, sem dúvida, a pedir demais: um milhão de euros por uma piada. Um milhão. Portugal inteiro já viu o polémico vídeo da interpretação do hino nacional – mais de dois terços nem sabiam da sua existência até os irmãos mostrarem publicamente a revolta – e há uma questão que me atormenta.
A sério? Numa altura em que há milhares de casos de violência no namoro, as mulheres continuam a morrer às mãos dos homens e as notícias de crimes contra menores se multiplicam de forma doentia estamos mesmo a ocupar a justiça portuguesa com uns versos entoados de forma menos consensual? É que foi só mesmo isto que aconteceu. Ou seja, nada.
Um cantor com anos e anos de experiência nunca deu concertos menos felizes? Um estrela Michelin nunca cometeu um erro que deixou a refeição intragável? Um jornalista nunca se tornou meme por uma gralha proferida em direto? Há dias que não correm bem. Ponto final. Em vez de tentarmos arranjar culpados, vamos só rir-nos da nossa “desgraça” e seguir em frente, sem azedumes. Até porque se há algo que nos salva é o humor.
Muitos são aqueles que apontam o dedo aos meios de comunicação social, quais carniceiros que só “escolhem” notícias negativas e deprimentes. Relatar a realidade “mói”, todos sabemos. Mas será justo, então, amordaçarmos a única coisa que, ao fim do dia, nos ajuda a esquecer os horrores das guerras, do ódio, dos extremismos e da maldade? Dizem que rir é o melhor remédio e, felizmente, sempre fui muito competente nessa tarefa, que, aliás, me valeu a caricata alcunha de “tacha arreganhada” nos tempos da escola. Nunca me ocorreu pedir um milhão de euros à pessoa que assim me batizou por outras interpretações que a expressão possa ter, até porque sempre fui a primeira a sorrir com esta recordação. Rir é uma força, não uma fraqueza, é uma forma de demonstrar inteligência emocional e, simplesmente, de saber viver.
Por isso, por favor, vamos lá “voltar ao ponto de partida”, sem julgamentos despropositados e sem milhões de euros na conta, mas muito mais leves, realizados e felizes.
* Mariana Albuquerque - Jornal de Notícias - 14 julho, 2025