Na legislatura passada, PS e Chega protagonizaram algumas coligações
negativas para fazer passar leis que o Governo AD, sem respaldo parlamentar,
não conseguiu impor. Depois de as últimas eleições elevarem o Chega a segunda
força na Assembleia da República e ditarem a hecatombe socialista, o PSD mudou
de estratégia e virou-se para a extrema-direita. E nada podia aproximar mais os
dois partidos do que o tema-fetiche do Chega: a imigração. Foi o próprio
Ventura a anunciar o princípio de entendimento para viabilizar a nova lei de
estrangeiros, o que aconteceu na semana passada. O primeiro-ministro prefere,
contudo, insistir numa estratégia de negação e deixar que a confusão se
instale. Primeiro, disse não saber a que acordo Ventura se referia, depois o
seu ministro Carlos Eduardo Abreu Amorim confirmou o dito entendimento à
revelia do chefe de Governo, ontem voltou a dizer que não tem parceiro
preferencial ou exclusivo para o diálogo, mas considerou que o Chega está a
manifestar “maior responsabilidade”. Sendo certo que em democracia os acordos
são salutares e fundamentais, principalmente em cenários de minorias parlamentares,
o que não é edificante para a vida pública é a falta de clareza deste namoro.
Começa a parecer uma daquelas relações tóxicas que todos veem o que se está a
passar, mas os próprios continuam a negar.
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Helena Norte – Jornal de Notícias -22
julho, 2025