António Vitorino não quis, António Guterres não quis, Santos Silva quis dizer que não queria apenas para provar a inutilidade de António José Seguro, e, este último, uma figura confiável e potencialmente agregadora ao centro e à esquerda, está a ser vetado pelos setores do partido que ainda acreditam que a esquerda à esquerda do PS tem uma voz eleitoral ativa.
E eis que, um partido que governou Portugal durante grande parte das últimas décadas, foi incapaz de, num momento absolutamente decisivo da vida política, encontrar uma personalidade mobilizadora habilitada para medir forças com Gouveia e Melo e Marques Mendes, com isso arriscando ficar fora do cadeirão de Belém durante 30 longos anos (o último socialista na Presidência, Jorge Sampaio, saiu em 2006). E isto sucedeu após uma derrota eleitoral humilhante, cravada de erros já identificados.
As dores de apoucamento são mais excruciantes do que as de crescimento, mas se a liderança socialista não arrepiar caminho e continuar agarrada a um passado que já não existe alargará o fosso entre a relevância e a sobrevivência. E Portugal precisa de um PS relevante.
• Pedro Ivo Carvalho – Jornal de Notícias - 05 julho, 2025