14.4.25

OPINIÃO: Homens que odeiam mulheres

 

Jorge L., militar do Exército, de 27 anos, violou uma mulher durante hora e meia com tal violência que ela teve de ser submetida a uma cirurgia, filmou o ato e partilhou a gravação num grupo privado de amigos no WhatsApp. Em primeira instância, foi condenado a sete anos e meio, em cúmulo jurídico, por violação e devassa da vida privada. Recorreu e três juízas do Tribunal da Relação de Coimbra baixaram agora a pena para sete anos de prisão, conforme o JN noticiou sábado. O crime de violação agravada tem uma moldura penal de dez anos, sublinhe-se.

Um videojogo, com o lema “torna-te o pior pesadelo das mulheres”, esteve disponível na maior plataforma de jogos do Mundo. Após forte polémica, a Zerat foi obrigada a retirá-lo com uma reação tão infame como o produto que promovia: pede desculpa a quem considera que “o jogo não devia ter sido criado”, mas apela a maior abertura “aos fetiches humanos que não prejudicam ninguém, mesmo que pareçam nojentos”.

Três influenciadores (dois menores) filmaram-se, em fevereiro, a violar uma rapariga de 16 anos em Loures. Antes de ser retirado, o vídeo que partilharam numa rede social teve 32 mil visualizações – ninguém denunciou o caso às autoridades. A vítima foi parar ao hospital e os agressores acabaram por ser detidos. O juiz libertou-os, não os colocou em centros educativos nem os proibiu de manter as contas nas redes sociais onde têm milhares de seguidores.

Estes três casos são demonstrativos não só da masculinidade tóxica – designação moderna para o eterno machismo – como da permissividade com que a sociedade em geral e, pior, o sistema judicial encaram a violência contra as mulheres. Numa altura em que as agressões sexuais aumentaram 10%, é imperativo dar sinais claros para travar esta epidemia. Temos de ser intolerantes com a violência de género e exigir penas pesadas para os homens que odeiam as mulheres.

·        Helena Norte – Jornal de Notícias - 13 abril, 2025