18.4.25

SOCIEDADE: Casas vendidas ao desbarato pela Igreja estão a ser usadas para AL (e idosos foram despejados)

As casas terão sido doadas com a condição de serem usadas para fins sociais, mas não se sabe onde estão os documentos. Duas das habitações já estão a ser usadas para alojamento local, com preços de 100 euros por noite.

Na Rua de Burgães, no Porto, um conjunto de nove casas conhecido como “Ilha das Oliveiras” tornou-se o epicentro de uma polémica que pode levar o Ministério Público a abrir uma investigação por gestão danosa de património da Diocese do Porto.

Os imóveis, que foram doados à Igreja com o intuito de servirem os mais pobres, foram vendidos por apenas 130 mil euros à empresa Mário Moreira & José Salgado, hoje associada a múltiplos negócios imobiliários com a Diocese.

As casas foram vendidas em 2021, quando apenas três das nove ainda eram

habitadas. Moradores idosos e vulneráveis foram forçados a sair. Segundo o Ministério Público, parte do património alienado teria sido doado à Igreja sem herdeiros, com cláusulas que determinavam o seu uso social — cláusulas que agora parecem ter sido ignoradas ou perdidas, já que os documentos originais das doações são, alegadamente, inexistentes, relata o Correio da Manhã.

Duas das casas já foram transformadas em alojamento local, com preços diários que rondam os 100 euros. O investimento inicial já terá sido recuperado, e as restantes habitações continuam por reabilitar. Estima-se que o valor de mercado atual do conjunto ultrapasse os dois milhões de euros.

A empresa Mário Moreira & José Salgado recusa comentar os detalhes dos vários acordos com a Igreja. “Não comento os negócios, nem estes, nem outros”, declarou ao Correio da Manhã.

A Diocese, por sua vez, sob liderança do bispo D. Manuel Linda, também tem evitado responder às crescentes críticas e pedidos de esclarecimento. Um comunicado oficial sustenta que todas as vendas foram realizadas “pelo preço de mercado” e com “transparência”, mas o silêncio tem sido a posição adotada perante os jornalistas.

Casos como o do empresário Mikael Dionísio, que tentou comprar um imóvel da Igreja para manter o seu restaurante no Largo de S. Domingos, estão a suscitar ainda mais irregularidades. A transação foi cancelada no último minuto pela Diocese, com exigências de pagamento que inviabilizaram o negócio.

ZAP - 17 Abril, 2025

FOTO: Igor Martins