Com vocês caminhei
pelo campo, pela ribeira e a caminho da
escola
vimos nascer as luas cheias de agosto
ficámos estarrecidos e lançámos desejos ao
vento
tantos pássaros a cantar, tantos ninhos por
descobrir
procuro na alma, aquelas emoções outrora
sentidas
não as quero perdidas, quero-as vivas...bem
vivas...
e, quero exaltar aqui, todos os nossos dons
humanos
e sentir que, se modelou a pomba da paz
na substância dos nossos sentimentos
irmanados
das maldades cometidas?...desses remorsos...
fizemos de conta que...nunca existiram...
porque, todos os passados...já foram
futuro...
vivemos estes tempos de guerra, onde a luz de
deus...
esmorece, arrefece e se torna obscura...
mas, brindemos à vida...mesmo com o cálice da
amargura...
sabemos bem que, é nas raízes que deixamos a
alma
tínhamos sempre tanta pressa...
tanta emoção e vertigem pelo ar...
parecia impossível...um dia acabar...
(deus permita que acabe a guerra, para não acabar tudo,
mas, não há data prevista para o fim do sofrimento)
tínhamos o nosso paraíso...
sem serpente e sem pecado...(sim, colhemos
maçãs alheias)...
na página do tempo, inscrevemos aventuras...
cavaleiros de calções com fisga no bolso...
(aquele bolso, remendado, por três vezes,
pelo menos)...
nos dias mais quentes, nadávamos na
ribeira...
nos dias frios, ferrávamos
"buguélhas" ao lume
da lareira aconchegante...
em vez de beijos e carícias, levávamos
chineladas...
mas, estamos cá, sem mágoas e sem mazelas...
disseram-nos que o amor, preserva e
ressuscita
talvez memórias...talvez memórias...
agora?
escutamos o galope certeiro dos dias
os nossos olhos saltam de estrela em
estrela...
até que o trote seja lento, e esmague as
rosas que temos no peito
doce e amargo?...é ir à infância...
tão pura...tão ausente...tão próxima...
mas, da ampulheta...vai caindo areia...
A.B. 2022