21.4.25

OPINIÃO: Este país é para velhos

Quem pretende governar um país com as características demográficas de Portugal tem de preocupar-se com os reformados. Desde logo porque uma percentagem significativa deste segmento da população costuma votar nas eleições, talvez por conhecer bem a realidade anterior ao 25 de Abril, o que lhe permite valorizar a vida em democracia, algo que começa a faltar a muitos dos nossos jovens. Espero que esta devoção dos políticos aos pensionistas não resulte do apenas do facto de Portugal ter uma das maiores percentagens de cidadãos com mais de 65 anos da União Europeia. O problema é que às vezes parece que é assim, porque sempre que estamos em campanha eleitoral chovem promessas de aumento de reformas. A discussão sobre a velhice, na aproximação às legislativas, quase se resume a isso. É pouco. A realidade diz-nos que é preciso muito mais. Na semana passada, o JN tratou dois temas que ilustram bem a incapacidade do Estado perante a revolução demográfica que está a tornar o país mais velho: o recorde de pessoas com alta clínica que não têm condições de irem para casa e o registo infame de mais de 300 doentes que fugiram dos hospitais. Em ambos as situações estamos a falar, sobretudo, de idosos, muitos com demência. Se esta é a realidade atual e o pico do envelhecimento, segundo estudos recentes, só será atingido em 2040, o que estamos nós a reservar aos mais velhos para o fim da vida? Só com políticas direcionadas à resolução destas e de outras insuficiências em termos de assistência social será possível combater a incapacidade do Estado, que não se resolve com o anúncio populista de subida das reformas. A discussão devia ser outra.

·        * Vítor Santos – Jornal de Notícias - 20 abril, 2025