Em
castelos sobranceiros
Vivem
mouros e cristãos
Todos
valente guerreiros.
Está
num deles D. Urraca
Uma
linda fidalguinha
P´lo marido sempre ausente
De
saudades se definha.
Um
dia conhece um mouro
Homem
muito bem parecido
Por ele se toma d´amores
Esquecendo
o seu marido.
Que
quietude no castelo!
Meia-noite
está a dar
Mas
D. Urraca não dorme
Não
consegue sossegar.
-
Tragam-me briais e mantos
Que
me quero levantar
Linda
coifa e chapins
Que
me quero já calçar.
Gargantilhas
e firmais
Que
me quero ataviar
Minhas
aias me acompanhem
Pois
tenho muito que andar.
Por
longo e escuro túnel
Trigosa
vou passar
Pelo Buraco da Faiopa
Leda,
saio para me encontrar.
Com
mourinho que teve artes
De
tão bem me enfeitiçar.
E
todas as noites vai
Encontrar-se
com o amado
Um
dia chega o marido
E
sabe que é atraiçoado.
Este
clama em altos brados:
-
Como me hei-de vingar?!
Pela
sua grande traição
D.
Urraca vou matar!
Corre
para o grande Tejo
Irado
e a blasfemar
Para
as águas em torvelinho
Raivoso
a vai lançar
A
uma pedra do moinho
Primeiro
a foi amarrar.
Plangem
sinos p´la manhã
-
Quem terá hoje falecido?
-
D. Urraca, a castelã
Morta
às mãos de seu marido.
E
no pego onde consta
A
infeliz ter morrido
Por
Pego de D. Urraca
Ainda
hoje é conhecido.
in "Memorial em verso da notável Vila de Nisa, sua história,
gentes, usos e costumes" - M. de Lourdes Seabra de Mascarenhas Paralta -
1982