2.4.25

NISA: Conheça os poetas do concelho (XXI) _ Maria de Lourdes Paralta


Lenda da Faiopa 

 Junto às Portas de Ródão

Em castelos sobranceiros

Vivem mouros e cristãos

Todos valente guerreiros.

Está num deles D. Urraca

Uma linda fidalguinha

P´lo marido sempre ausente

De saudades se definha.

Um dia conhece um mouro

Homem muito bem parecido

Por ele se toma d´amores

Esquecendo o seu marido.

Que quietude no castelo!

Meia-noite está a dar

Mas D. Urraca não dorme

Não consegue sossegar.

- Tragam-me briais e mantos

Que me quero levantar

Linda coifa e chapins

Que me quero já calçar.

Gargantilhas e firmais

Que me quero ataviar

Minhas aias me acompanhem

Pois tenho muito que andar.

Por longo e escuro túnel

Trigosa vou passar

Pelo Buraco da Faiopa

Leda, saio para me encontrar.

Com mourinho que teve artes

De tão bem me enfeitiçar.

E todas as noites vai

Encontrar-se com o amado

Um dia chega o marido

E sabe que é atraiçoado.

Este clama em altos brados:

- Como me hei-de vingar?!

Pela sua grande traição

D. Urraca vou matar!

Corre para o grande Tejo

Irado e a blasfemar

Para as águas em torvelinho

Raivoso a vai lançar

A uma pedra do moinho

Primeiro a foi amarrar.

Plangem sinos p´la manhã

- Quem terá hoje falecido?

- D. Urraca, a castelã

Morta às mãos de seu marido.

E no pego onde consta

A infeliz ter morrido

Por Pego de D. Urraca

Ainda hoje é conhecido.

 

in "Memorial em verso da notável Vila de Nisa, sua história, gentes, usos e costumes" - M. de Lourdes Seabra de Mascarenhas Paralta - 1982