MAC/CCB – Museu de Arte Contemporânea e Centro de Arquitetura até 28 de Setembro
A exposição Cartazes sem Censura
transporta-nos para os dias históricos do 25 de Abril de 1974, estendendo-se
até ao intenso Verão Quente de 1975. Mais do que simples cartazes, as peças
apresentadas nesta exposição são testemunhos visuais de um período de transformação
política e social, resgatados dos muros e paredes onde foram originalmente
afixados e preservados numa pasta de desenhos durante cinco décadas. Refletindo
o clamor pela liberdade e as diferentes expressões de esperança e desafio,
estes cartazes capturam a essência de um Portugal em movimento e libertado da
censura. Cada peça exposta representa uma voz emergente, contendo perspetivas
dos vários quadrantes políticos da época.
Exposição organizada em colaboração com a WPP
Portugal.
Entre os quiosques de jornais com manchetes
febris e as conversas agitadas nas esquinas, uma nova pele cobria os muros da
cidade de Lisboa, habitualmente cinzentos e silenciosos: cartazes políticos.
Colados uns sobre os outros, expressavam uma nova onda de liberdade,
contestação e desejo de mudança. Era a cidade a escrever a sua própria
história, num turbilhão de palavras, imagens e símbolos que se acumulavam como
sedimentos de uma revolução em curso. O fogo tinha passado, mas as cinzas ainda
ardiam.
A ditadura tinha deixado para trás um país
pobre, atrasado e cinzento, mas a revolução tinha aberto as portas à vontade —
individual e coletiva — de andar em frente. Por um lado, vivia-se um Portugal
com pouco emprego e poucos meios; por outro, emergia um povo movido pelas
ideias, ansioso por exprimir a sua recém- -chegada liberdade de expressão e
construir um novo Portugal.
Este fervilhar político era, como sempre é o caso, mais
evidente nos jovens. Os jovens do pós-25 de Abril eram inquietos e impacientes,
mas também portadores de um entusiasmo que só pode existir quando a História se
abre num caminho desconhecido. Para muitos, a política deixou e ser uma esfera
abstrata e distante, e passou a ser um código de identidade, uma forma de
viver. Um desses jovens era Manuel Maltez, na época um rapaz de 16 anos e
autodeclarado anarquista. A sua relação com os cartazes e com a rua é um
reflexo claro do espírito daquele tempo: a cada esquina, um cartaz novo. A cada
conversa, um conceito revolucionário. O mundo parecia, pela primeira vez,
disponível para ser reinventado. E, para Manuel, que não queria apenas assistir
à mudança, mas senti-la entre os dedos, arrancar cartazes das paredes foi o seu
próprio ato de arquivo e participação: o ato de preservar uma história que
estava a ser escrita nas ruas.Na década de 1970, a comunicação política era
visceral, urgente e sem filtros. O design gráfico desse período refletia a
efervescência ideológica da época, com cartazes impressos em serigrafia,
tipografias em negrito e composições gráficas impactantes. As cores primárias —
vermelho, preto e branco — dominavam, simbolizando luta, resistência e
transformação. O visual era muitas vezes bruto e direto, de caráter quase
artesanal, fruto da necessidade de produzir rapidamente materiais de
mobilização.Estes cartazes, cuidadosamente guardados ao longo dos anos por
Maltez, são testemunhos de um tempo em ebulição. Convocatórias para plenários,
manifestações, proclamações de partidos e sindicatos, e slogans de resistência
convidam-nos a revisitar um momento único da nossa História, transportam-nos a
um Portugal que descobria a liberdade e a democracia, e oferecem-nos a
oportunidade de refletir sobre o papel da liberdade de expressão. Os cartazes
tornaram-se símbolos, mas também memória material de um tempo que, apesar de
parecer distante, ainda reverbera no presente.
Cartazes sem Censura - 25 de Abril e a Revolução do
«Verão Quente»
MAC/CCB – Museu de Arte Contemporânea e Centro de
Arquitetura
De 24 de abril a 28 de setembro de 2025
10:00 às 18:30 com entrada livre