8.2.24

OPINIÃO: O laranjal vai de mal a pior

Quem tem telhados de vidro, não atira pedras ao do vizinho.» Esta expressão cai que nem uma luva aos incoerentes PSD e CDS. Depois de um arranque centrado como arma de arremesso nos casos de justiça que envolvem eleitos do PS, o caso que estalou na Madeira, não podia ser pior. E pior que o bicho da madeira é o tratamento que corrói ainda mais e chegou a ser apontado como sucessor, Tranquada Gomes envolvido nos Panama Papers, isto vai de mal a pior. Até Marques Mendes diz que o PSD “levou um murro no estomago”.
No Continente, Montenegro diz-se rodeado de uma equipa de luxo, aponta críticas ao governo PS pelo problema da habitação e esquece o que se passa nessa área na Madeira. Miguel Albuquerque, o tal que disse que não governava sem maioria, até com o PAN teve que alinhar, quando no continente encosta o PAN à esquerda. Pode estar inocente, mas foi constrangedor vê-lo espernear, afirmando que não se demitia e dias depois entregou a demissão, apesar do apoio suicida de Montenegro.
Historicamente na Madeira, o PSD e o CDS calaram-se perante a pobreza e os buracos financeiros naquela região autónoma; aliás sempre ocultados da opinião pública. Não é por acaso que existe desde o tempo do “jardinismo” um grande controle na imprensa local. A reviravolta nos Açores depois de duas décadas que deixaram muito a desejar, com a viragem à direita foi de mal a pior, onde até o Chega entrou na dança.
E agora, como ficamos de alianças? No continente, André Ventura diz que a direita só vinga se o PSD contar com o Chega e com o PS temos a corrupção; na Madeira, conta com o PSD sem Albuquerque, mas já não há corrupção no PSD e vamos ver como vai ser nos Açores… A IL e o PAN argumentam muita autonomia, mas “deitam-se” na primeira cama do poder. O BE no sentido de afastar a direita, joga mais uma cartada arriscada, ao “namorar” o PS para um acordo escrito com compromissos. O PCP, que já não confia em ninguém e com razão, corre o risco de ficar orgulhosamente só. O Livre, que depois da atuação atribulada da Joacine Katar Moreira, tenta colar-se a uma solução à esquerda.
Quem não tem memória, só fala do último governo, mas quem nunca se calou, percebe que continuamos nas mãos dos donos disto tudo e dos subsídio-dependentes de luxo. Quem esteve sempre atento, sabe que para o bem e para o mal, os responsáveis pela situação atual do país, são o PS, o PSD e o CDS.
O cenário atual envolve mais forças políticas, devido principalmente às fraturas à direita, que justificam o desaparecimento do CDS do parlamento e o enfraquecimento do PSD. Parece paradoxal, quando percebemos que os financiadores do Chega, são aqueles que PSD e CDS sempre defenderam e IL incluído. Mais estranho é falarem de corrupção e sabermos que esses fazem parte das portas giratórias do poder económico que controla o poder político e que colocam o Estado a patrocinar esses interesses privados.
Os regimes de exceção para facilitar projetos lesivos para o país como os PIN, foram e são apoiados pelo PS, PSD e CDS, mas ninguém duvida que IL e Chega, se for o caso, vão alinhar. Estão alinhados num interesse comum, enfraquecer o Estado para melhor ser aglutinado pelos altos interesses privados e pela corrupção. Acrescem os privilégios fiscais para zona franca da Madeira e não se preocupam com os auxílios concedidos ilegalmente, como apurou a Comissão Europeia em 2022.
Ventura diz que quer acabar com a corrupção e que vai conseguir dinheiro para as suas propostas com os euros que dela fogem. Demagogia, em cima de demagogia vindo de quem devia ter vergonha na cara para dizer o que nunca defendeu, sem falar do que praticou. Sabemos que em todos os Partidos há gente séria e oportunistas, por isso ninguém está livre de levar com um “balde de água fria”.
O importante é garantir que a justiça funcione e que não seja atrofiada por outros interesses. E por falar nisso, alguém condena os grandes empreiteiros, os grandes empresários, os grandes grupos económicos e o sistema financeiro por promoverem esta corrupção? A direita e a extrema-direita não são decerto. Afinal se a justiça está a afrontar o poder, mal ou bem, estamos perante sinais de que não temos pessoas imunes; mas continuo a defender que não nos centremos só nos corrompidos, mas também nos corruptores.
Resumindo, se no roseiral, as coisas não correram bem, o laranjal vai de mal a pior.

* Paulo Cardoso 02.02.2024 - Programa Desabafos - Rádio Portalegre