13.2.24

OPINIÃO: Debates para comentadores

É uma espécie de jogo de boxe, em alguns casos; noutros, uma disputa a ver quem consegue interromper mais vezes o adversário, quem consegue falar mais depressa, quem consegue lançar para cima da mesa acusações, nunca depois verificadas, e que, para os menos informados ou desatentos, figurarão como verdades.
Os debates nos canais televisivos para as legislativas, desde há uma semana no ar, assumem esta forma. Esclarecer o eleitorado devia ser o objetivo. Não é. Quando muito, será mais um espetáculo televisivo, onde o líder do partido, candidato às legislativas do próximo dia 10 de março, tem pouco mais de uma dezena de minutos para apresentar as suas propostas, debatê-las com o opositor. A moderar, não raro, um jornalista, pouco poupado nas palavras, acaba por ocupar tanto tempo no debate como os seus convidados - esquecendo que o frente a frente existe para se ouvir propostas dos candidatos, sem abdicar, naturalmente, de questionar.
É esse o seu papel. Mas, enfim, começa a ser regra relegar os convidados para segundo plano.
E como se o mundo estivesse invertido, as televisões dão agora mais espaço ao comentário dos debates do que aos próprios debates. É o metadebate, um cenário novo que já motivou uma carta aberta do Conselho Nacional da Juventude dirigida ao presidente da República, à Comissão Nacional de Eleições e aos órgãos de Comunicação Social. Nessa missiva, é pedido mais tempo, do que “uma pausa para café”, para os candidatos explicarem as suas propostas ao país.
No que assistimos, dizem, “resta apenas a desinformação, a política do soundbyte e dos pequenos cortes de vídeo de um minuto, contribuindo para criar caos, não sendo fiel aos desígnios que um debate devia cumprir: esclarecer e informar”. Quem escolheu este modelo achará que o esclarecimento vem, logo a seguir, com notas e tudo, pela boca dos doutos comentadores - estão lá, como dizia um especialista em comunicação, para descodificar o discurso dos políticos, como se os portugueses tivessem orelhas de burro.
* Paula Ferreira - Jornal de Notícias - 12 fevereiro 2024