Desde há muito que se percebe a tendência global do crescimento da extrema-direita. Apresentam-se como antissistema, mas não passam de ressabiados que sempre apostaram no sistema capitalista. Sem solução, este modelo revelou ao longo da história, que é antissocial, anti ambiental e economicamente insustentável. Cria desigualdades, desprotege a natureza e Karl Marx, um grande pensador do séc. XIX, provou ser um sistema ciclicamente falível.
Já temos exemplos no mundo do que é a extrema-direita a governar. Por exemplo em Itália, o governo de Meloni quer anular o crime de abuso de poder; na Argentina, Milei corta apoios a doentes com cancro; Israel, com Netanyahu, promove um autêntico genocídio em Gaza, enquanto Putin e Zelensky inchados com os seus nacionalismos, obrigam soldados de ambos os lados a morrer numa guerra estúpida. Neste último caso é interessante vermos como a extrema-direita se divide com Marine Le Pen e Viktor Órban do lado de Putin e Meloni do lado de Zelensky entre outros que não se declaram. Um dia destes ainda vão dizer que não conhecem, nem ouviram falar de Bolsonaro nem de Trump ambos a contas com a justiça.
No caso de Trump, adepto de Putin, a situação é ainda mais caricata, porque acossado pela justiça ele acha-se acima de tudo. É o cúmulo quando percebemos que Trump ainda pode ser eleito, apesar de tudo o que se sabe. Putin, bate palmas, enquanto garante que não tem preferências; Zelensky tem de pensar muito bem no futuro do seu país e a Europa bem se pode penitenciar, por pensar que tem nos EUA um amigo. Aliás quem não gastar 2% do seu PIB com a defesa, pode ser invadido pela Rússia, como ameaçou Trump.
São pequenos exemplos da atuação destes extremistas, mas o mais relevante é a forma de governar tendenciosamente e a proteger os poderosos; basta ver quem são os financiadores do Chega. Quanto à atitude deles, ficou bem evidente a recente manifestação em Lisboa contra uma suposta e falsa islamização, em que os manifestantes, nem esconderam a sua veia de hooliganismo, ou seja, vandalismo. Foram visíveis os sinais de violência e ódio, contrastando com a manifestação pacífica em sentido contrário no Intendente.
Estamos numa altura de instabilidade política e a subida do Chega e consequente fracturação da direita, não acrescenta solução, mas sim impasses, com o PSD encostado às cordas a dizer que não coliga com o Chega, mas sabe que precisa dele. A recuperação da AD, com um CDS desaparecido e o PPM sem eira nem beira, veio complicar ainda mais a situação política; por exemplo na Madeira, o Chega diz que se coliga com o PSD, mas o CDS não pode ter cargos… E agora? Para que serve o voto à direita, ou extrema-direita?
Chegámos aqui com o falhanço de sucessivos governos do PS e PSD/CDS. A falta de credibilidade e o cansaço de vermos tantos casos que ensombram a política criaram os chamados “descontentes” que, sem cultura política são capazes de votar num partido, sem conhecerem o programa e sem ao menos perceberem se é ou não, mais do mesmo…
Depois temos o papão criado pela extrema-direita e apoiado por muitos comentadores de que à esquerda, vamos ser mais uma Venezuela. Recordo que não foi só José Sócrates a negociar nesse país, Paulo Portas também o fez e até afirmou que Hugo Chávez era nosso amigo. Mais à esquerda a questão prende-se na defesa do direito do povo venezuelano em escolher o seu futuro. Nem Maduro, nem Guaidó defendem os interesses do povo e acresce ainda a ingerência do imperialismo norte-americano.
Também aqui a União Europeia, esteve mal ao andar sempre a reboque dos Estados Unidos. Mas o que podemos esperar de uma União Europeia que sempre teve uma maioria de direita e tem imposto medidas de direita aos seus Estados Membros? O pior é não sabermos qual vai ser o futuro da União Europeia onde a extrema-direita eurocética cresce.
Há muito que se fala do crescimento desta tendência e não pudemos ficar indiferentes à violência nas Escolas, insultos racistas nos estádios de futebol, perseguição e violência pela orientação sexual ou pela identidade de género. Os crimes de discriminação e incitamento ao ódio aumentaram 38% em 2023; e quando equaciona as questões religiosas, a extrema-direita acrescenta ainda mais ódio e divisão.
* Paulo Cardoso 16-02-2024 - Programa Desabafos - Rádio Portalegre