13.11.23

OPINIÃO: A andar para trás

Um antigo Primeiro-Ministro, que chegou a ser Presidente da República, escreveu o livro “O Primeiro Ministro e a Arte de Governar”. Foi o livro que não leu, que não seguiu e não serviu para explicar a António Costa que devia ter imposto uma linha vermelha entre os interesses do Estado e a gula dos privados. Cavaco Silva, nem sequer é um bom exemplo, no que diz respeito a favorecimentos e nesta área, não teria feito diferente.
Aquilo a que assistimos da governação de Portugal é mais uma machadada no esforço dos portugueses. Estes lutam pela vida e têm sido castigados com medidas laborais neoliberais e impostos insuportáveis; acabam por ver que tudo se desmorona perante as políticas europeias de direita. Para dar andamento a estas políticas, o governo e o Grupo Parlamentar do PS não ouviram a oposição, nem os movimentos ambientalistas e escolheram favorecer empresas na área das energias renováveis.
Para percebermos esta posição política, lembro que Galamba, cuja casa pessoal foi revistada, foi elogiado por dezenas de gestores de grandes empresas, neste caso, ligados ao sector da energia que culminou com as suspeitas de crimes económico-financeiros e de suspeitas de favorecimento do consórcio EDP/GALP/REN. Estamos a falar de centenas de milhões de euros a favor de negócios do lítio e do hidrogénio verde.
O pior para Costa, foi ter acontecido com pessoas muito próximas de si, como Diogo Lacerda Machado. Se pode estar inocente, pode, mas condições políticas não tem. É a primeira vez que se assistiu a buscas na residência oficial do primeiro-ministro, onde o seu Chefe de Gabinete, Vítor Escária que escondeu 75.880 euros no seu gabinete e que foi detido por suspeitas de favorecer a “Start Campus”, de Sines.
Tudo indica que administradores da “Start Campus”, empresa responsável pelo megacentro de dados em Sines, estão na base da detenção do Presidente da Câmara de Sines. Ainda ficámos a saber que Galamba chegou a apresentar relatórios no Conselho de Ministros produzidos por advogados desta empresa. E do hidrogénio verde em Sines ao lítio de Montalegre e Boticas, temos oito arguidos, dos quais cinco estão detidos por suspeitas de corrupção e tráfico de influências.
O país perdeu uma oportunidade de acertar o passo, mas o PS tem a responsabilidade de ter pedido uma maioria absoluta, teve a confiança do eleitorado e de caso em caso e casinhos foi resistindo devido à idoneidade e competência reconhecida de António Costa. Teve a sorte do seu lado quando governou apoiado pela “geringonça”, mas com a maioria absoluta não conseguiu descolar de uma governação à direita e o final não podia ser outro.
Este governo PS falhou, porque não conseguiu afirmar os princípios de esquerda e governou à direita; daí a dificuldade da direita em fazer oposição. Quando o país precisa mais do que nunca de uma estabilidade política, o governo PS provou que as maiorias absolutas foram sempre um desastre para Portugal, como aconteceu com Cavaco Silva.
O governo PS tinha tudo para brilhar, mas não tinha a geringonça para travar ou mudar a falta de pulso sobre os lucros milionários da banca. As pessoas estão a perder as suas casas por causa dos juros, porque estão a empobrecer perante este crescente assalto. Este é bem um exemplo de quem governa à direita. Quando o preço dos automóveis está acima da inflação, cerca de 25%, o governo quis penalizar quem trabalha com as novas regras do IUC.
Queremos esclarecimentos rápidos sobre esta situação, preocupa-nos a situação do O.E. que não agrada à oposição e quem substituir Costa, tem o dever de ser consequente com as negociações em curso e dar atenção aos graves problemas sociais e da causa pública que Portugal tem em mãos.
Que se apurem as responsabilidades e se condenem os corrompidos, já é hábito, os corruptos ficam de fora. Marcelo lá foi forçado a tratar de assuntos sérios. Depois de telefonar a dar os parabéns em direto a Cristina Ferreira, preocupar-se com o decote de uma senhora e falar com o embaixador da autoridade palestiniana comparando o genocídio de gaza a uma briga de rua, ele não tinha melhor “prenda”.
Marcelo ficou com a batata quente na mão, mas a suspirar de alívio porque já não se fala da papelada que desapareceu em relação ao caso das gémeas luso-brasileiras, entre outras gafes. Agora, foi coerente e escolheu a medida mais sensata; marcou eleições para 10-03-2024, garantindo a aprovação do O.E... Precisávamos de tudo menos disto e assim, estamos irremediavelmente a andar para trás.
* Paulo Cardoso  - Programa "Desabafos" / Rádio Portalegre / 10.11.2023