27.11.23

NISA: Curiosidades sobre o falar nisense - O "incómado"

Há anos, mais de 30, entrevistei o Ti Zé da Brígida, pastor com mais de 50 anos a calcorrear os caminhos rurais e os campos à volta de Nisa. José Maria Beato, nascera no alvorecer do século XX (1902) e o trabalho no campo, principalmente o da pastorícia não tinham segredos para ele. 
No decorrer da nossa longa conversa - que hoje recordo com saudade - e ao descrever o trabalho na queijeira e a arte de fazer o genuíno "Queijo de Nisa", o ti Zé da Brígida sai-se com esta "revelação":
" Na queijeira só devia entrar gente de confiança e pouca. Mulheres, então, o menos possível.
Uma ocasião estava na rouparia em casa do meu compadre. Um dia foi lá a patroa e uma irmã do meu compadre. Ela ia muito mal disposta. Ela não se lembrou e eu não sabia como ela vinha. Pediram-me para entrar na queijeira e... escangalharam-me o serviço. Os queijos deram em sair olhados e ainda se estragaram alguns. Enfim é a pior coisa que pode haver é uma mulher que esteja... que ande ... mal disposta, com o “incómado”, entrar numa coisa daquelas."
Percebi, pelas reticências e pelo verdadeiro incómodo em falar do assunto, o que era o "incómado" e atirei-lhe, quase de sopetão: O Ti Zé está a falar da menstruação, do período menstrual?
- Pois, tu sabes, é isso. Era um caso sério quando apareciam assim na queijeira."
Realidade ou mito, era assim que os antigos pastores viam com desconfiança, a entrada de mulheres no seu espaço laboral...
E também, temos de dizê-lo, uma boa desculpa para os queijos que apareciam "olhédes"...
Oulha la ou!
* Mário Mendes